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Operação opõe interesses de Itaú e Bradesco no crediário
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O negócio envolvendo Casas
Bahia e Ponto Frio/Pão de Açúcar opõe dois modelos antagônicos de crédito ao consumo,
além dos interesses de Itaú
Unibanco e Bradesco, bancos
envolvidos no financiamento
dos clientes das duas varejistas.
O Bradesco é o principal parceiro da Casas Bahia e provê a
rede varejista com uma espécie
de capital de giro em condições
especiais de custo e com quem
tem acordo de cartão "private
label" (marca própria) exclusivo. O acordo com o Bradesco
vence no ano que vem.
Com o dinheiro do Bradesco
(e de outras instituições financeiras), a rede varejista banca o
financiamento do crediário da
sua clientela, assumindo o risco
completo pela inadimplência.
Por outro lado, o Bradesco ganha parte do lucro do crediário
e com a exclusividade do cartão
de crédito.
Já o Grupo Pão de Açúcar é
parceiro do Itaú Unibanco, que
desenvolveu uma unidade financeira própria para atender a
rede varejista, chamada Itaú
CBD. Pela exclusividade até
2029, o Itaú pagou R$ 550 milhões. A diferença é que o risco
de crédito é da financeira.
Segundo Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de
Açúcar, ambos os modelos de
financiamento poderão ser revistos. "Vamos avaliar os dois
modelos para depois decidir
como fazer. Estamos livres para fazer qualquer coisa, de um
jeito ou de outro. Vamos estudar isso mais para a frente."
No negócio, o Pão de Açúcar
fez questão de assegurar o comando de toda a área financeira, de controles internos e de
relações como o mercado. O diretor financeiro será indicado
pelo Pão de Açúcar. O mais cotado é Orivaldo Padilha, diretor
financeiro do Ponto Frio.
No mercado varejista, a Casas Bahia é vista como um banco travestido de rede varejista.
Isso porque o ganho financeiro
que a rede varejista tem no crediário seria tão ou mais importante do que a margem de lucro
com a venda de eletrônicos.
Para Alexandre Jorge Chaia,
especialista em crédito do Insper (antigo Ibmec-SP), o modelo de financiamento da Casas
Bahia tem mais condições de
prevalecer no futuro da nova
empresa, apesar de parecer antiquado. Isso porque a Casas
Bahia tem mais experiência no
financiamento da baixa renda
do que a financeira do Itaú.
"A vantagem da Casas Bahia
é a agilidade na concessão, que
não tem muito a ver com processos bancários e negativação
de crédito. Isso é um ativo da
Casas Bahia. O Pão de Açúcar
não tem condições de assumir
o "funding" [captação] da Casas
Bahia. Mas será difícil ficarem
dois bancos na mesma operação", afirmou o especialista em
crédito do Insper.
Mesmo com a crise, a Casas
Bahia não sofreu com a inadimplência crescente do consumidor. A Casas Bahia conta com
uma carteira de 32 milhões de
clientes, sendo que 1 milhão deles estava com dívida em aberto
em setembro, quando a varejista lançou seu programa de recuperação de crédito.
Na reabilitação, a rede dava
desconto de 50% na dívida. A
meta era recuperar 230 mil
clientes neste ano; até outubro
já haviam aderido 60 mil. Desse
total, 45% pagaram à vista, e o
restante parcelou o débito.
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