São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Operação opõe interesses de Itaú e Bradesco no crediário

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O negócio envolvendo Casas Bahia e Ponto Frio/Pão de Açúcar opõe dois modelos antagônicos de crédito ao consumo, além dos interesses de Itaú Unibanco e Bradesco, bancos envolvidos no financiamento dos clientes das duas varejistas.
O Bradesco é o principal parceiro da Casas Bahia e provê a rede varejista com uma espécie de capital de giro em condições especiais de custo e com quem tem acordo de cartão "private label" (marca própria) exclusivo. O acordo com o Bradesco vence no ano que vem.
Com o dinheiro do Bradesco (e de outras instituições financeiras), a rede varejista banca o financiamento do crediário da sua clientela, assumindo o risco completo pela inadimplência. Por outro lado, o Bradesco ganha parte do lucro do crediário e com a exclusividade do cartão de crédito.
Já o Grupo Pão de Açúcar é parceiro do Itaú Unibanco, que desenvolveu uma unidade financeira própria para atender a rede varejista, chamada Itaú CBD. Pela exclusividade até 2029, o Itaú pagou R$ 550 milhões. A diferença é que o risco de crédito é da financeira.
Segundo Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar, ambos os modelos de financiamento poderão ser revistos. "Vamos avaliar os dois modelos para depois decidir como fazer. Estamos livres para fazer qualquer coisa, de um jeito ou de outro. Vamos estudar isso mais para a frente."
No negócio, o Pão de Açúcar fez questão de assegurar o comando de toda a área financeira, de controles internos e de relações como o mercado. O diretor financeiro será indicado pelo Pão de Açúcar. O mais cotado é Orivaldo Padilha, diretor financeiro do Ponto Frio.
No mercado varejista, a Casas Bahia é vista como um banco travestido de rede varejista. Isso porque o ganho financeiro que a rede varejista tem no crediário seria tão ou mais importante do que a margem de lucro com a venda de eletrônicos.
Para Alexandre Jorge Chaia, especialista em crédito do Insper (antigo Ibmec-SP), o modelo de financiamento da Casas Bahia tem mais condições de prevalecer no futuro da nova empresa, apesar de parecer antiquado. Isso porque a Casas Bahia tem mais experiência no financiamento da baixa renda do que a financeira do Itaú.
"A vantagem da Casas Bahia é a agilidade na concessão, que não tem muito a ver com processos bancários e negativação de crédito. Isso é um ativo da Casas Bahia. O Pão de Açúcar não tem condições de assumir o "funding" [captação] da Casas Bahia. Mas será difícil ficarem dois bancos na mesma operação", afirmou o especialista em crédito do Insper.
Mesmo com a crise, a Casas Bahia não sofreu com a inadimplência crescente do consumidor. A Casas Bahia conta com uma carteira de 32 milhões de clientes, sendo que 1 milhão deles estava com dívida em aberto em setembro, quando a varejista lançou seu programa de recuperação de crédito.
Na reabilitação, a rede dava desconto de 50% na dívida. A meta era recuperar 230 mil clientes neste ano; até outubro já haviam aderido 60 mil. Desse total, 45% pagaram à vista, e o restante parcelou o débito.


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