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GIGANTE DO VAREJO
ENTREVISTA
MICHAEL KLEIN
Nós não vendemos a empresa, afirma dono da Casas Bahia
Diretor-executivo da rede de lojas diz que só vai avaliar se vende a sua participação na nova empresa daqui a seis anos
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Michael Klein,
diretor-executivo da Casas Bahia, afirma que não foi difícil tomar a decisão de abrir mão do
controle da empresa fundada
pelo seu pai há 57 anos. "O que
é melhor: eu, família Klein, ter
um sócio e administrar uma
empresa de 1.015 lojas ou eu sozinho ter 500 lojas e 100% do
controle?"
Em entrevista à Folha, Klein
diz que sua empresa não foi
vendida e que agora ele é sócio
de uma empresa que atende
100% da população brasileira,
da classe A às classes D/E.
(MARIANA BARBOSA)
FOLHA - Por que vender a empresa
neste momento?
MICHAEL KLEIN - Nós não vendemos a empresa. Nós continuamos com a nossa Casas Bahia.
Simplesmente tiramos parte
do ativo dela e entramos como
sócios em outra empresa. E
com essas duas vamos fazer
uma terceira empresa. Os sócios não mudaram, continuam
100% da Casas Bahia na família
Klein. Eu só fiz um cheque e
comprei 49% da nova empresa.
Tinha uma Globex com valor
de R$ 1,3 bilhão, aproximado, e
eu pus mais R$ 1,2 bilhão. Mas
esse valor vai variar conforme a
valorização da nova empresa.
FOLHA - Qual foi a sua reação ao receber uma ligação de Abilio Diniz?
KLEIN - Tive curiosidade de escutar. Tem que escutar antes de
tomar uma decisão, ver o que o
outro tem para falar. A gente
conversou como dois concorrentes.
FOLHA - Vocês procuraram ou foram procurados por outras empresas?
KLEIN - Não, em nenhum momento.
FOLHA - Foi fácil tomar a decisão de
abrir mão do controle?
KLEIN - O que é melhor: eu, família Klein, ter um sócio e administrar uma empresa de
1.015 lojas ou eu sozinho ter
500 lojas e 100% do controle? É
mais fácil juntar com um sócio.
E a sinergia que vamos ter vai
pagar o investimento e vai dar
retorno.
FOLHA - O modelo de crediário da
Casas Bahia não se tornou anacrônico para o atual momento da economia brasileira, com maior oferta e
acesso a crédito?
KLEIN - Não acho. A cada dia
mais, as pessoas precisam fazer
primeiro um crediário via carnê para depois partirem para o
meio eletrônico e o cartão de
crédito. Se ele não tiver um histórico de compra a prazo, ele
nunca vai ter um crédito positivo para poder entrar no sistema financeiro. É uma porta de
entrada no sistema financeiro.
FOLHA - O que muda para o cliente
da Casas Bahia?
KLEIN - Nada, vamos trabalhar
com as duas bandeiras, Ponto
Frio e Casas Bahia. Nas regiões
de classe C e D/E, vamos ter
produto adaptado para o bolso
desse consumidor. E, para a
classe A, vamos ter uma rede
chamada Ponto Frio com esse
tipo de produto. As empresas se
complementam e vão passar a
atender, juntas, 100% da população brasileira.
FOLHA - Vai haver alguma alteração na política de crediário?
KLEIN - A política de preço baixo, juro baixo e crediário fácil a
gente vai manter sempre. Vem
dando certo há 57 anos, não
tem razão para mudar. E não
vai mudar.
FOLHA - Os modelos de financiamento de Ponto Frio e Casas Bahia
são muito diferentes. Eles vão conviver?
KLEIN - Sim, vão conviver durante um bom tempo. O volume de financiamento das duas
é tão grande que dificilmente
um banco conseguiria atender
as duas sozinho. Vamos ter
uma quantidade de financiamento suficiente para atender
tanto o Bradesco (principal financiador da Casas Bahia) como o Itaú (que possui contrato
de exclusividade com o Ponto
Frio, por meio da FIC.)
FOLHA - Quando vence o contrato
da Casas Bahia com o Bradesco?
KLEIN - Tenho um contrato
com o Bradesco que vence em
2010, no qual tenho que manter um mínimo de financiamento. E tem um segundo, que
não sei quando vence, do cartão
de crédito do Bradesco, que
funciona com as bandeiras Visa, MasterCard ou Amex. Mas o
Bradesco é o meu maior parceiro entre os bancos, mas não é o
meu único parceiro. Faço com
Safra, Banco do Brasil, Santander, Caixa.
FOLHA - O contrato estabelece um
cronograma de um a seis anos para
a família Klein vender, progressivamente, as ações na nova empresa se
assim desejar. Vocês têm intenção
de vender?
KLEIN - A intenção é ficar. Depois de seis anos, a gente vai
avaliar se a empresa vai continuar rentável, se valerá a pena
continuar ou não.
FOLHA - Em 2007, surgiram rumores no mercado de que a empresa
estaria procurando algum comprador.
KLEIN - Foi pura especulação
de mercado. Nós fizemos uma
avaliação da empresa, pois estávamos estruturando o negócio de internet e a partir daí começou a surgir esse rumor. Não
sei se foi a consultoria que fez a
avaliação que andou oferecendo a empresa, não temos como
saber.
FOLHA - Vocês nunca tinham sido
contatados por outro grande varejista?
KLEIN - Não tem outro grande.
O grande sou eu. Não, nunca tinha recebido proposta, mas
também eu nunca dei espaço
para isso.
FOLHA - Como será sua rotina a
partir de amanhã?
KLEIN - Vou continuar fazendo
o que eu faço todo dia, visitar
lojas, fazer prospecção. Tenho
que continuar fazendo isso até
para ajudar o conselho a dar
orientações para os diretores
da companhia. Você vai me ver
inaugurando loja, visitando loja. Não preciso estar lá para assinar o cheque. Só vou ter um
compromisso a mais, pois uma
vez por mês tem reunião do
conselho.
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