São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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GIGANTE DO VAREJO

ENTREVISTA

MICHAEL KLEIN

Nós não vendemos a empresa, afirma dono da Casas Bahia

Diretor-executivo da rede de lojas diz que só vai avaliar se vende a sua participação na nova empresa daqui a seis anos

DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Michael Klein, diretor-executivo da Casas Bahia, afirma que não foi difícil tomar a decisão de abrir mão do controle da empresa fundada pelo seu pai há 57 anos. "O que é melhor: eu, família Klein, ter um sócio e administrar uma empresa de 1.015 lojas ou eu sozinho ter 500 lojas e 100% do controle?"
Em entrevista à Folha, Klein diz que sua empresa não foi vendida e que agora ele é sócio de uma empresa que atende 100% da população brasileira, da classe A às classes D/E. (MARIANA BARBOSA)

 

FOLHA - Por que vender a empresa neste momento?
MICHAEL KLEIN -
Nós não vendemos a empresa. Nós continuamos com a nossa Casas Bahia. Simplesmente tiramos parte do ativo dela e entramos como sócios em outra empresa. E com essas duas vamos fazer uma terceira empresa. Os sócios não mudaram, continuam 100% da Casas Bahia na família Klein. Eu só fiz um cheque e comprei 49% da nova empresa.
Tinha uma Globex com valor de R$ 1,3 bilhão, aproximado, e eu pus mais R$ 1,2 bilhão. Mas esse valor vai variar conforme a valorização da nova empresa.

FOLHA - Qual foi a sua reação ao receber uma ligação de Abilio Diniz?
KLEIN -
Tive curiosidade de escutar. Tem que escutar antes de tomar uma decisão, ver o que o outro tem para falar. A gente conversou como dois concorrentes.

FOLHA - Vocês procuraram ou foram procurados por outras empresas?
KLEIN -
Não, em nenhum momento.

FOLHA - Foi fácil tomar a decisão de abrir mão do controle?
KLEIN -
O que é melhor: eu, família Klein, ter um sócio e administrar uma empresa de 1.015 lojas ou eu sozinho ter 500 lojas e 100% do controle? É mais fácil juntar com um sócio. E a sinergia que vamos ter vai pagar o investimento e vai dar retorno.

FOLHA - O modelo de crediário da Casas Bahia não se tornou anacrônico para o atual momento da economia brasileira, com maior oferta e acesso a crédito?
KLEIN -
Não acho. A cada dia mais, as pessoas precisam fazer primeiro um crediário via carnê para depois partirem para o meio eletrônico e o cartão de crédito. Se ele não tiver um histórico de compra a prazo, ele nunca vai ter um crédito positivo para poder entrar no sistema financeiro. É uma porta de entrada no sistema financeiro.

FOLHA - O que muda para o cliente da Casas Bahia?
KLEIN -
Nada, vamos trabalhar com as duas bandeiras, Ponto Frio e Casas Bahia. Nas regiões de classe C e D/E, vamos ter produto adaptado para o bolso desse consumidor. E, para a classe A, vamos ter uma rede chamada Ponto Frio com esse tipo de produto. As empresas se complementam e vão passar a atender, juntas, 100% da população brasileira.

FOLHA - Vai haver alguma alteração na política de crediário?
KLEIN -
A política de preço baixo, juro baixo e crediário fácil a gente vai manter sempre. Vem dando certo há 57 anos, não tem razão para mudar. E não vai mudar.

FOLHA - Os modelos de financiamento de Ponto Frio e Casas Bahia são muito diferentes. Eles vão conviver?
KLEIN -
Sim, vão conviver durante um bom tempo. O volume de financiamento das duas é tão grande que dificilmente um banco conseguiria atender as duas sozinho. Vamos ter uma quantidade de financiamento suficiente para atender tanto o Bradesco (principal financiador da Casas Bahia) como o Itaú (que possui contrato de exclusividade com o Ponto Frio, por meio da FIC.)

FOLHA - Quando vence o contrato da Casas Bahia com o Bradesco?
KLEIN -
Tenho um contrato com o Bradesco que vence em 2010, no qual tenho que manter um mínimo de financiamento. E tem um segundo, que não sei quando vence, do cartão de crédito do Bradesco, que funciona com as bandeiras Visa, MasterCard ou Amex. Mas o Bradesco é o meu maior parceiro entre os bancos, mas não é o meu único parceiro. Faço com Safra, Banco do Brasil, Santander, Caixa.

FOLHA - O contrato estabelece um cronograma de um a seis anos para a família Klein vender, progressivamente, as ações na nova empresa se assim desejar. Vocês têm intenção de vender?
KLEIN -
A intenção é ficar. Depois de seis anos, a gente vai avaliar se a empresa vai continuar rentável, se valerá a pena continuar ou não.

FOLHA - Em 2007, surgiram rumores no mercado de que a empresa estaria procurando algum comprador.
KLEIN -
Foi pura especulação de mercado. Nós fizemos uma avaliação da empresa, pois estávamos estruturando o negócio de internet e a partir daí começou a surgir esse rumor. Não sei se foi a consultoria que fez a avaliação que andou oferecendo a empresa, não temos como saber.

FOLHA - Vocês nunca tinham sido contatados por outro grande varejista?
KLEIN -
Não tem outro grande. O grande sou eu. Não, nunca tinha recebido proposta, mas também eu nunca dei espaço para isso.

FOLHA - Como será sua rotina a partir de amanhã?
KLEIN -
Vou continuar fazendo o que eu faço todo dia, visitar lojas, fazer prospecção. Tenho que continuar fazendo isso até para ajudar o conselho a dar orientações para os diretores da companhia. Você vai me ver inaugurando loja, visitando loja. Não preciso estar lá para assinar o cheque. Só vou ter um compromisso a mais, pois uma vez por mês tem reunião do conselho.


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