São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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GIGANTE DO VAREJO

Com negócio, indústria sofrerá pressão

Para consultores, poder para negociar preços e prazos fica maior, o que torna fornecedores dependentes da nova rede

Casas Bahia detém 61% de participação nas vendas de eletroeletrônicos na capital paulista, segundo levantamento do Provar

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A compra do controle da Casas Bahia pelo grupo Pão de Açúcar vai dificultar o dia a dia dos fabricantes de produtos eletroeletrônicos, já que a Nova Globex, empresa formada pela associação dos negócios das famílias Diniz e Klein, terá forte poder para negociar preços e prazos com os fornecedores, na avaliação de empresas concorrentes e consultores de varejo.
"O poder de barganha desse novo grupo vai aumentar enormemente, e o que mais interfere em uma negociação de preços e prazos é o poder de compra", diz Claudio Felisoni, presidente do conselho do Provar-FIA (Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração).
Na capital paulista, a Casas Bahia detém 56% de participação nas vendas de eletrodomésticos, 61% nas de eletroeletrônicos, 63% nas de informática, 73% nas de artigos de cine-foto, 49% nas de produtos de telefonia e celulares e 83% nas de eletroportáteis, de acordo com levantamento do Provar feito em setembro.
"A rede Extra [do grupo Pão de Açúcar] detém 12% de participação nas vendas de eletroeletrônicos. Isso quer dizer que, em São Paulo, eles vão deter mais de 70% da distribuição desses produtos. Evidentemente o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] vai analisar tudo isso e ver impacto em outras regiões."
A pressão sobre os fornecedores será intensa, mas esse tipo de associação é inevitável no caso de grupos que querem fortalecer seus negócios, segundo Nelson Barrizzelli, consultor de varejo e professor da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade). "Um país só é forte se as empresas são fortes. E as fusões são o caminho para isso", afirma.
Para escapar da pressão da Nova Globex, as indústrias deverão apostar em novos canais de distribuição, até para não ficarem dependentes de um grupo. "Esse negócio vai mudar as relações comerciais entre os fabricantes e as empresas de varejo. A indústria, obrigatoriamente, vai ter de pensar em fortalecer outras redes menores para criar competição. A indústria precisará ter força para não se submeter às imposições do grupo", afirma Valdemir Col- leone, diretor de relações com o mercado da Lojas Cem.
Para Colleone, que diz estar, assim como outros concorrentes que preferiram não se manifestar, "bastante surpreso com o negócio", pode ser que, com a Nova Globex, redes menores até sejam beneficiadas.

Grupos estrangeiros
O negócio entre as famílias Diniz e Klein aumenta a concentração no varejo brasileiro, "mas, como a concorrência é global, essa união vai permitir que um grupo nacional esteja mais preparado para competir com grupos estrangeiros. Não tenho nada contra grupo estrangeiro, mas as fusões têm de ser analisadas como se estivessem em uma economia global. São o José e o João se unindo para tentar enfrentar a concorrência internacional. É isso o que está sendo feito", diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
O diretor de uma grande rede de varejo que prefere não se identificar estima que a Nova Globex vai passar a deter metade ou mais da distribuição de eletroeletrônicos no país, mercado estimado entre R$ 28 bilhões e R$ 30 bilhões por ano.
Para os fabricantes de brinquedos, as negociações se tornarão mais difíceis.
"O que interessa é saber a posição do Cade sobre esse negócio, que nos afeta na medida em que essa união torna a rede mais poderosa e cartelizada", afirma Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (associação do setor de brinquedos). "O poder de negociação deles passa a ser monstruoso; vão jogar os preços lá para baixo, e isso nos afeta."


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