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GIGANTE DO VAREJO
Com negócio, indústria sofrerá pressão
Para consultores, poder para negociar preços e prazos fica maior, o que torna fornecedores dependentes da nova rede
Casas Bahia detém 61%
de participação nas vendas de eletroeletrônicos na capital paulista, segundo levantamento do Provar
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A compra do controle da Casas Bahia pelo grupo Pão de
Açúcar vai dificultar o dia a dia
dos fabricantes de produtos
eletroeletrônicos, já que a Nova
Globex, empresa formada pela
associação dos negócios das famílias Diniz e Klein, terá forte
poder para negociar preços e
prazos com os fornecedores, na
avaliação de empresas concorrentes e consultores de varejo.
"O poder de barganha desse
novo grupo vai aumentar enormemente, e o que mais interfere em uma negociação de preços e prazos é o poder de compra", diz Claudio Felisoni, presidente do conselho do Provar-FIA (Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração).
Na capital paulista, a Casas
Bahia detém 56% de participação nas vendas de eletrodomésticos, 61% nas de eletroeletrônicos, 63% nas de informática,
73% nas de artigos de cine-foto,
49% nas de produtos de telefonia e celulares e 83% nas de eletroportáteis, de acordo com levantamento do Provar feito em
setembro.
"A rede Extra [do grupo Pão
de Açúcar] detém 12% de participação nas vendas de eletroeletrônicos. Isso quer dizer que,
em São Paulo, eles vão deter
mais de 70% da distribuição
desses produtos. Evidentemente o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] vai analisar tudo isso e ver
impacto em outras regiões."
A pressão sobre os fornecedores será intensa, mas esse tipo de associação é inevitável no
caso de grupos que querem fortalecer seus negócios, segundo
Nelson Barrizzelli, consultor
de varejo e professor da FEA
(Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).
"Um país só é forte se as empresas são fortes. E as fusões são o
caminho para isso", afirma.
Para escapar da pressão da
Nova Globex, as indústrias deverão apostar em novos canais
de distribuição, até para não ficarem dependentes de um grupo. "Esse negócio vai mudar as
relações comerciais entre os fabricantes e as empresas de varejo. A indústria, obrigatoriamente, vai ter de pensar em fortalecer outras redes menores
para criar competição. A indústria precisará ter força para não
se submeter às imposições do
grupo", afirma Valdemir Col-
leone, diretor de relações com o
mercado da Lojas Cem.
Para Colleone, que diz estar,
assim como outros concorrentes que preferiram não se manifestar, "bastante surpreso
com o negócio", pode ser que,
com a Nova Globex, redes menores até sejam beneficiadas.
Grupos estrangeiros
O negócio entre as famílias
Diniz e Klein aumenta a concentração no varejo brasileiro,
"mas, como a concorrência é
global, essa união vai permitir
que um grupo nacional esteja
mais preparado para competir
com grupos estrangeiros. Não
tenho nada contra grupo estrangeiro, mas as fusões têm de
ser analisadas como se estivessem em uma economia global.
São o José e o João se unindo
para tentar enfrentar a concorrência internacional. É isso o
que está sendo feito", diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
O diretor de uma grande rede
de varejo que prefere não se
identificar estima que a Nova
Globex vai passar a deter metade ou mais da distribuição de
eletroeletrônicos no país, mercado estimado entre R$ 28 bilhões e R$ 30 bilhões por ano.
Para os fabricantes de brinquedos, as negociações se tornarão mais difíceis.
"O que interessa é saber a posição do Cade sobre esse negócio, que nos afeta na medida em
que essa união torna a rede
mais poderosa e cartelizada",
afirma Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (associação do setor de brinquedos).
"O poder de negociação deles
passa a ser monstruoso; vão jogar os preços lá para baixo, e isso nos afeta."
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