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Fusão deve ser aprovada, mas pode ter restrições
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A compra do controle da Casas Bahia pelo Grupo Pão de
Açúcar deve ser aprovada pelo
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Pode
haver, porém, restrições, dependendo da participação da
nova empresa em mercados regionais, principalmente no Sudeste, onde concentram-se as
lojas da Casas Bahia e do Ponto
Frio, também adquirido pelo
Pão de Açúcar, em junho.
A Folha apurou que os cálculos estão sendo feitos pelas empresas para demonstrar ao Cade que, mesmo em locais onde
a nova companhia passará a deter 40% de mercado, haverá
competição. Um levantamento
inicial indica que em nenhuma
praça ela terá participação superior a 50%, considerando
apenas os pontos de venda.
Haverá sobreposição principalmente em São Paulo, mas,
mesmo assim, o Ponto Frio
atende consumidores das classes A e B, enquanto a Casas Bahia se concentra no público C,
D e E. Em relação aos fornecedores, a situação seria ainda
mais favorável à nova companhia, com menos de 15%.
Esses números serão enviados até 24 de dezembro ao Cade, órgão responsável pela defesa da concorrência no país.
Ao mesmo tempo, a Seae (Secretaria da Acompanhamento
Econômico), do Ministério da
Fazenda, e a SDE (Secretaria
de Direito Econômico), do Ministério da Justiça, darão início
às suas análises, com prazo máximo de quatro meses para a
conclusão do trabalho.
Mas o processo pode superar
seis meses, caso peçam documentos adicionais. Contudo,
nada impede o Cade de exigir
um acordo de reversibilidade,
impondo restrições antes disso
como medida cautelar.
A secretária da SDE, Mariana Tavares, declarou não ver
problemas imediatos ao negócio, de antemão.
O presidente do conselho de
administração do Grupo Pão
de Açúcar, Abilio Diniz, disse
que está "muito tranquilo" em
relação à aprovação pelo Cade.
"Temos menos de 20% do mercado, contamos com pouco
mais de mil lojas das 20 mil
existentes no país," disse.
Inversão de ordem
A notícia da compra pegou de
surpresa o presidente do Cade,
Arthur Badin. Presente em um
evento em São Paulo, ontem
pela manhã, Badin reclamou.
"Infelizmente, a legislação
atual só determina que fusões e
aquisições sejam informadas
ao Cade depois de já terem sido
acertadas entre as empresas."
Um projeto de lei em andamento no Senado prevê mais
poder ao conselho, invertendo
essa ordem. "Será muito melhor quando as empresas apresentarem suas operações primeiro ao Cade, antes de darem
início a um processo de fusão",
diz Badin. "Isso evita as restrições posteriores ou até a reversão do negócio."
Como consumidor, Badin
acredita que haverá sobreposição de lojas em alguns locais. "É
uma ideia intuitiva", diz. "Preciso avaliar os documentos."
Segundo advogados das empresas, ficará comprovado que,
mesmo com a sobreposição em
algumas áreas, a concorrência
estará preservada. Eles citam
como exemplo o aumento da
concentração bancária com a
recente fusão entre Unibanco e
Itaú. Para eles, a operação não
alterou o grau de competição
no setor devido à existência de
outros concorrentes de peso.
Além disso, a competição no
segmento de bens duráveis, em
que atuam Casas Bahia e Ponto
Frio, ocorreria via preço, não
pelo número de empresas. Ainda segundo os advogados, o Cade seguiu nessa mesma direção
ao analisar a compra do Submarino pela Lojas Americanas.
Outro argumento em favor
da nova companhia é o de que a
internet mudou os hábitos dos
brasileiros. Hoje, quem pretende adquirir um eletrodoméstico pesquisa primeiro. O preço,
e não a rede varejista, seria o fator decisivo para a compra.
Alguns conselheiros do Cade
preferem aguardar os documentos para opinar, mas estão
preocupados que os preços da
nova companhia possam ficar
mais baixos devido ao maior
poder de compra junto aos fornecedores, algo que desequilibraria o mercado.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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