São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2001

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CRÉDITO

Banco Central deve adotar medidas que permitam maior injeção de dinheiro na economia e corte de juros para tomador final

BC deve fazer bancos emprestarem mais

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A

O Banco Central deve adotar ainda este ano algumas medidas que podem baixar as taxas de juros de empréstimos cobradas pelos bancos para o tomador final do dinheiro: empresas e consumidores. O impacto pode até ser maior do que a redução da taxa básica de juros na economia que vem sendo feita pelo BC.
Hoje, o Banco Central exige que os bancos limitem seus empréstimos a 11% do seu capital (patrimônio líquido). Com as medidas, os bancos terão uma massa maior de recursos para poder emprestar ao mercado. Em função disso, as instituições terão possibilidade de obter ganhos com o aumento do número das operações de crédito, em vez de faturar com taxas de juros maiores cobradas de menos tomadores de empréstimos.
A diretora de Fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi, confirma o estudo das medidas. O objetivo é deixar o Brasil mais próximo das normas mínimas previstas pelo Acordo da Basiléia, um conjunto de regras sugeridas para a manutenção da saúde das instituições financeiras. Grossi admite que as exigências impostas aos bancos brasileiros são das mais rigorosas do planeta.

Qualidade de crédito
"Ao reduzirmos o peso de algumas operações de crédito, as instituições poderão aplicar mais recursos em empréstimos", diz.
Tereza Grossi admite que os estudos para essas mudanças estão em fase avançadas. Mas, segundo a diretora do BC, antes é necessário que seja concluída a implantação do modelo de classificação dos créditos bancários.
Desde o ano passado, o Banco Central adotou um sistema de classificação para avaliar os créditos concedidos pelos bancos. Os créditos são classificados em nove níveis (de aa, a, b....até h). Essa avaliação é feita pelos próprios bancos. O BC está em fase final de avaliação desses modelos.
A partir dessa análise e dos ajustes nos modelos que o BC está recomendando aos bancos é que a autoridade monetária vai bater o martelo sobre a mudança da ponderação sobre os ativos.
Tereza Grossi diz que a intenção do BC é de deixar o Brasil mais próximo dos critérios recomendados pelo Acordo da Basiléia. O banco admite inclusive a possibilidade de, mais a frente, reduzir o índice de Basiléia de 11% para um número mais baixo. Só não disse quando. O índice da Basiléia mede a capitalização das instituições financeiras. Os bancos no Brasil precisam ter 11% de capital próprio em relação aos ativos operacionais (créditos) ponderados pelo risco.

Segurança
Grossi afirma que o Brasil é um dos países mais rigorosos no cumprimento do Acordo de Basiléia. Os Estados Unidos e países da Europa Ocidental adotam os 8% mínimos recomendados pelo Acordo. Já na Argentina, o índice é de 11,5%. Nos países do Leste Europeu, o índice é superior a 8%. "Quanto maior o índice, maior a segurança da instituição financeira", diz Grossi.
O economista Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Asis, diz que o impacto dessas medidas poderá ser significativo para provocar uma substancial queda nas taxas de juros cobradas sobre os empréstimos.
Segundo ele, essas duas medidas de flexibilização sobre o Acordo de Basiléia, mais a redução da inadimplência dos créditos bancários, que já está acontecendo, além da possibilidade de uma nova redução no compulsório sobre os depósitos à vista, podem fazer com que o spread bancário médio fique entre 15% e 20% ao ano.
Spread é a diferença entre a taxa de juros pela qual um banco toma um empréstimo e aquela pela qual ele empresta. Hoje, o spread médio está na casa de 60% ao ano. Em alguns produtos, como no caso do cheque especial, o spread chega a 120% ao ano.
De acordo com Erivelto Rodrigues, essa queda no spread terá um impacto muito maior do as quedas nos juros básicos da economia promovidas pelo Banco Central desde o ano passado.

Nova ponderação
A medida em estudo pelo BC que pode ter impacto sobre os juros cobrados sobre os empréstimos é complexa. Hoje, o Banco Central atribui um peso de quase 100% sobre o risco das operações de créditos concedidos pelos bancos. A única exceção é o crédito imobiliário, cuja ponderação é de 50%.
Na grande maioria dos países, essa ponderação varia de acordo com a classificação de risco do crédito. Um crédito de um banco para a uma empresa com uma excelente classificação de risco (nível A), por exemplo, pode ser de 20%.
O peso dessas operações de crédito é importante porque restringe a capacidade dos bancos na concessão de empréstimos, em função do índice da Basiléia.
Por esse índice da Basiléia, os bancos são obrigados a manter um mínimo de 11% de capital próprio em relação aos créditos ponderados pelo risco. Se o risco é de 100% sobre quase todos os créditos, a base de cálculo para os 11% de capital é muito alta.
Com as ponderações caindo, a base se reduzirá e os bancos poderão reduzir o percentual de capital próprio e, portanto, aumentar o volume de empréstimos na economia.


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