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ANÁLISE
Greenspan está determinado a evitar o erro de 1990
RICHARD W. STEVENSON
DO "THE NEW YORK TIMES"
Na segunda metade de 1989 e de
novo em 1990, Alan Greenspan e
seus colegas no Federal Reserve
(Fed, o banco central dos Estados
Unidos) cortaram as taxas de juros norte-americanas, acreditando que a economia do país estava
perdendo o ímpeto. Mas Greenspan não via nenhuma ameaça
substancial de recessão e, assim,
embora mantivesse a política de
corte de juros nos meses que se
seguiram, adotou cortes graduais.
Foi uma das poucas vezes em
seus mais de 13 anos como chairman do Fed que Greenspan cometeu um erro. A economia entrou em recessão no terceiro trimestre de 1990 sem que o Fed reconhecesse o fato ou respondesse
a ele de maneira agressiva.
Foi um erro que Greenspan parece determinado a não repetir à
medida que o longo período de
crescimento contínuo uma vez
mais dá lugar a uma fase de risco
econômico ampliado.
Ao reduzir a taxa de fundos federais do Fed em meio ponto percentual na quarta-feira -e de
uma maneira que chamou a atenção-, Greenspan estava sinalizando sua disposição de agir cedo
e com vigor a fim de manter em
curso a expansão econômica.
E, ao fazê-lo, ele lembrou ao
mundo que a política monetária,
embora seja uma ferramenta menos que perfeita para administrar
os altos e baixos da economia, pode ser usada muito mais rapidamente do que a alternativa, no caso um corte de impostos.
"Em 1990, o desempenho do
Fed não foi ruim, mas ficou abaixo do ótimo", diz Allen Sinai, economista da Primark Decision
Economics, uma consultoria.
"Greenspan parece ter dito que
não pretende fazer as coisas daquela maneira porque poderíamos ter agido melhor."
Ao agir assim agressivamente, o
chairman do Fed estava reconhecendo implicitamente outra realidade que muitas vezes passa despercebida à medida que cresce a
sua estatura como mestre da economia: definir as taxas de juros é
uma tarefa complicada, sujeita
não só a erros de julgamento como também à rápida mudança
das condições econômicas.
A ação do Fed na quarta foi em
essência uma reversão do aumento de juros de meio ponto percentual decretado em maio, quando
parecia que a economia estava à
beira do superaquecimento. E o
ciclo de aumentos de juros que se
fechou em maio passado foi em
parte uma resposta a uma série de
cortes no final de 1998, que ajudou a levar o crescimento da economia a um patamar potencialmente inflacionário.
"Eles cortaram demais em
1998", disse Mickey D. Levy, economista-chefe da Banc of America Securities. "Depois partiram
para o aperto, como deveriam,
mas apertaram demais."
No entanto, embora seja fácil
criticar em retrospecto, Levy e outros analistas dizem que Greenspan se destaca pela sua flexibilidade e disposição de se adaptar a novos dados, novas evidências circunstanciais sobre o estado da
economia e novas idéias sobre receitas de política econômica.
"Alan Greenspan é o sujeito
mais positivo que já vi no Fed,
porque está aberto a compreender de que forma a economia está
mudando e preparado para tomar medidas para enfrentar as
mudanças", disse Jerry Jasinowski, presidente da Associação Nacional da Indústria. Ele se provou
aberto às mudanças tecnológicas
que estavam demonstrando ganhos de produtividade que conduziam a um crescimento econômico mais alto sem inflação,
acrescentou Jasinowski, e "continuou aberto diante do impacto
cumulativo dos aumentos nos
preços da energia e das taxas de
juros e dos declínios nas Bolsas de
Valores, percebendo que isso estava derrubando a economia".
Além disso, dizem os analistas,
Greenspan tem a capacidade de
discernir o que está acontecendo
com a economia muito antes que
a tendência se torne aparente nos
dados oficiais, o que permite que
ele aja antes que seja tarde demais
para evitar os problemas. Parte
dessa capacidade, dizem, é sua facilidade para detectar o efeito da
psicologia dos investidores e consumidores sobre a economia.
"A psicologia é muito importante", diz Alice M. Rivlin, ex-vice
chairman do Fed. "Essa interessante medida foi uma indicação
de que a psicologia da situação teria agravado a queda e, por isso,
era melhor agir antes."
Greenspan sempre se sentiu
desconfortável com sua reputação como vidente infalível. Ele se
descreve como apenas um economista esforçado e experiente e, às
vezes, parece se sentir intensamente pressionando a atender às
expectativas de que seja capaz de
realizar milagres.
Até certo ponto, ao ajudar o país
a evitar recessão nos últimos dez
anos, o maior período de crescimento consistente já registrado,
ele o fez. Aos 74 anos, Greenspan
sem dúvida está pensando em como a história o verá, e orientar a
economia à sua segunda década
de expansão consecutiva não seria um legado fácil de esquecer.
Ele também foi cuidadoso sobre
a influência política que seu sucesso no Fed lhe concedeu. O momento do corte de juros esta semana colocou o Fed no meio do
debate sobre se a queda na atividade econômica oferecia mais base para um corte dos impostos,
como o presidente eleito George
W. Bush e seus colegas republicanos no Congresso gostariam.
Os republicanos viram o corte
de juros como validação de sua
idéia de que a economia poderia
usar o estímulo providenciado
por um corte de impostos. Eles se
mantiveram fiéis a essa posição
mesmo que cerca de um ano seja
necessário antes que o projeto de
lei de corte de impostos passe pelo
Congresso.
Os democratas viram a atitude
do Fed como evidência de que a
política monetária era a melhor
ferramenta para enfrentar as reviravoltas do ciclo de negócios.
Que ambos os lados possam
apontar para o chairman do Fed
como aliado na defesa de suas posições é sem dúvida gratificante
para Greenspan, que acha útil para ele e para o Fed ter apoio dos
dois lados da divisa partidária.
Mas manter esse apoio exige,
primeiro, que ele não cometa erros importantes. Ao cortar os juros, Greenspan parecia determinado a não sucumbir à tendência
de esperar até que os dados oficiais mostrem provas incontestáveis de problemas antes de agir.
Sinai diz que o verdadeiro desafio para Greenspan seria reconhecer quando os padrões graduais e
lineares do comportamento econômico indicam mudanças
abruptas, mas não imediatamente evidentes. Nesse caso, disse ele,
Greenspan parece ter baseado sua
atitude em dados sólidos, evidências circunstanciais e no seu instinto, para concluir que a economia chegou a um ponto de virada
que exige resposta imediata.
Ao agir de imediato, Greenspan
também está ilustrando sua crença de que a política monetária
precisa trabalhar para evitar problemas econômicos, e não só para
consertá-los. Mais do que qualquer de seus predecessores,
Greenspan quer eliminar a inflação antes que ela se instale e manter a economia crescendo de preferência a ressuscitá-la depois de
uma paralisação. "A revolução do
Fed de Greenspan", diz Sinai, "é
que a política monetária dele está
voltada ao futuro."
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