São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2001

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LUÍS NASSIF


@com e a depressão irracional

Como sempre ocorre em movimentos especulativos, à exuberância irracional segue-se a depressão irracional. No começo do ano passado, analistas de sistema, especialistas em bancos de dados, jovens designers eram disputados a peso de ouro pelo mercado. As empresas pontocom se multiplicavam, impulsionadas pelo dinheiro fácil que afluía do mercado financeiro para a nova corrida do ouro. Agora, o mercado inteiro trabalha com capacidade ociosa. Tanto agora como antes, os critérios de avaliação de projetos continuam generalizantes, superficiais e, não raras vezes, completamente falsos -apenas as direções são opostas. Antes se pensava no projeto sem prazo para alcançar o ponto de equilíbrio -uma ficção. Agora, quer-se o ponto de equilíbrio no primeiro ano. Projeto com esse perfil não precisa de investimento. No início do ano passado o slogan preferencial de valoração de projetos era o "número de page views". Lembro uma conversa com um desses portais financeiros independentes que estão se desmanchando no ar. Ele possuía "page views" porque o portal genérico fazia chamadas na home page remetendo leitores para lá. Mas qual sua capacidade de fidelizar a clientela? Qual seu plano estratégico para transformar os "page views" em negócios? Qual sua capacidade de gerar "page views" sem a ajuda do portal genérico? Não havia resposta para nada. Agora o slogan é que só é consistente o projeto que tenha paralelo com a velha economia. O que significa isso? Simplesmente que o projeto tem que ter um produto para ser vendido e clientes que se disponham a comprá-lo. É a isso que chamam de paralelo com a velha economia. Ora, esse é um princípio básico de negócio, em economia real ou virtual, velha ou nova. No entanto hoje em dia é apresentado como a última palavra em Internet simplesmente porque a especulação do ano passado prescindia de produtos a serem oferecidos. Bastava o tal do "page views". Mas como é se se analisa uma nova tecnologia, revolucionária, permitindo inovações de toda ordem e se sentencia que só darão certo projetos que sejam cópias informatizadas da velha economia. Qual é? O mais bem-sucedido projeto do ano passado, o hPg surgiu remando contra a maré e trabalhando com algo só possível na nova economia: a montagem de sites personalizados de pessoas e empresas. A possibilidade de consultorias virtuais no atacado, a tecnologia asp, a orientação em tempo real para executivos e o leilão reverso remoto são atividades só possíveis na nova economia, com as novas tecnologias. Outro modismo foi buscar uma rapaziada nova, sem experiência de vida, sem amadurecimento, para tocar projetos grandiosos, conforme artigo recente do administrador Fernando Camargo Luiz para a Clickinvest. Essa estereotipação se deu em todos os níveis. Confundiram-se jovens brilhantes e fanáticos por computador com aqueles que eram apenas jovens fanáticos, especialistas de primeiro time em determinadas áreas com integrantes da terceira divisão. E passou-se a louvar a irresponsabilidade, o desligamento, o amadorismo como se fosse sinal de genialidade, e não simplesmente de amadorismo. Os analistas de primeiro time voltarão a ganhar dinheiro com a Internet porque sabem que cada projeto é um projeto. Os fazedores de slogans passarão, e o capital de risco voltará à Internet em bases mais sólidas.
Café
A previsão da Embrapa para a safra de café deste ano é de 26 milhões de sacas. O mercado chega a até 28 milhões. A Unicafé fala em 31 milhões de sacas.
Internet: www.dinheirovivo.com.br E-mail - lnassif@uol.com.br


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