São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2001

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A ÁGUIA POUSOU

Número de empregos diminui, mas salários têm crescimento

Bolsas dos EUA caem com temor de inflação e recessão

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A percepção de que a economia norte-americana terá um pouso forçado voltou a ganhar força no mercado dos EUA ontem.
Relatório do Departamento do Trabalho indicou que, embora a taxa de desemprego do país tenha ficado estável em dezembro, o número de vagas criadas pela indústria é o menor desde agosto. As quedas no emprego e na produção, que indicam que o país pode ter de enfrentar uma recessão, não são mais o único fator de preocupação. Segundo o relatório, os ganhos dos norte-americanos por hora trabalhada estão nos maiores níveis em dois anos e meio. O aumento dos custos do trabalho pode se transformar em pressão inflacionária, que o Fed tenta combater, desde 1999, com sua política de elevação de juros.
Ainda ontem, rumores nas Bolsas de Valores indicaram que os juros altos, que encarecem os créditos e provocam o aumento da inadimplência, podem estar prejudicando a saúde dos bancos.
Os boatos atingiram o Bank of America, a terceira maior instituição dos EUA, que estaria com sérios problemas financeiros e definiram, com o relatório sobre o desemprego, o dia de queda para as Bolsas. A Nasdaq caiu 6,20% (acumulou baixa de 2,5% na semana) e o Dow Jones, 2,29%.
Após a primeira reação de euforia com a redução dos juros, o mercado começa a acreditar que o fato de a medida ter vindo de forma inesperada significa que a desaceleração da economia poderá ser maior do que o esperado. "Está ficando difícil acreditar que uma redução dos juros é a solução para os problemas", disse um analista da Cantor Fitzgerald.
Para investidores, o Fed decidiu pelo corte da taxa após tomar conhecimento de que os bancos do país teriam sérios problemas de crédito. Cresce a expectativa por uma nova redução de 0,50 ponto nas taxas na próxima reunião do Fed, nos dias 30 e 31 deste mês.
Pela manhã, o Departamento do Trabalho divulgou que o desemprego ficou em 4%, abaixo das expectativas, que eram de 4,1%. O relatório, no entanto, não trouxe ânimo para os analistas -o número de novos postos criados ficou abaixo dos 133 mil esperados. Foram criados 105 mil vagas em dezembro. Desse total, apenas 49 mil surgiram nas indústrias -o restante delas ocorreu no setor público e de serviços.
O relatório também indicou que, no ano, o aumento do ganho por horas trabalhadas ficou em 4,2% -nos últimos seis meses, os salários cresceram no maior ritmo desde 1998. A notícia provocou quedas das Bolsas, intensificadas por rumores de que o Bank of America teria dificuldades financeiras, com problemas de crédito e de perdas no mercado de derivativos (operações financeiras envolvendo troca ou venda de vários tipos de bens no mercado futuro).
As negociações com os papéis da instituição foram interrompidas após as ações caírem 8%. O Bank of America divulgou nota para acalmar os investidores, dizendo que não havia razão para nenhuma especulação em relação à sua situação financeira e que não houve perda significativa em seus negócios.
Na retomada dos negócios, os papéis tiveram pequena valorização. Analistas observam que o banco tem grande exposição em duas empresas de energia na Califórnia, que, nos últimos dias, afirmaram ter grandes possibilidades de deixar de pagar suas dívidas.
As especulações em torno da situação financeira do banco começaram após a divulgação do balanço da empresa em relação ao terceiro trimestre, que trouxe prejuízo devido a um empréstimo que não foi pago. O nome da empresa não foi citado. O Bank of America já afirmou que terá prejuízo no quarto trimestre -o resultado sairá dia 16.


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