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CÂMBIO
Cotação cai em dezembro para melhorar os balanços e em janeiro com a volta do dinheiro que fugiu do risco Brasil
Dólar deverá manter tendência de queda
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar que assombrou o país
em 2002, acumulando alta de
53,20%, entrou o ano de marcha a
ré e até sexta-feira acumulava
queda de 2,54%, cotado a R$ 3,45.
E, segundo analistas, promete
continuar descendo a ladeira, a
exemplo do movimento de dezembro, mês em que, tradicionalmente, o câmbio recua.
Depois de bater em R$ 3,95 no
dia 22 de outubro, uma semana
antes da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar encerrou o ano
cotado a R$ 3,54, com queda de
3,01% só no último mês do ano
Em janeiro, segundo Paulo Possas, diretor da Eagle Capital, a tendência do dólar é continuar caindo. A queda neste mês, segundo
ele, tradicionalmente atinge até o
"black". Até sexta-feira, o paralelo
acumulava variação de -3,27%.
"Esse fenômeno é muito mais forte e permanente do que a queda
de dezembro. "Quem tirou dinheiro do país para fugir do risco
Brasil, começa a voltar; já as empresas vendem dólares para pagar
contas", diz Possas.
É em dezembro, porém, que os
interesses da maioria dos agentes
econômicos convergem derrubando as cotações. Naquele mês,
as empresas e os bancos encerram
seus balanços, contabilizando dívidas e aplicações em moeda estrangeira, além dos dividendos
remetidos às matrizes.
O fechamento das contas é feito
com base no câmbio do dia 31.
"Quanto menor for a cotação em
dezembro, melhores os resultados no final do balanço", diz Alberto Borges Matias, professor de
economia da Universidade de São
Paulo, USP, de Ribeirão Preto.
Também ao governo interessa
encerrar o ano com a moeda local
mais valorizada. "Historicamente
o dólar cai nesta época, pois o BC
quer mostrar uma dívida cambial
menor e passar tranquilidade aos
agentes econômicos", diz Possas.
Segundo Matias, o mercado de
câmbio não é um mercado perfeito, pois na maior parte das vezes o
volume de operações é pequeno e
o Banco Central também intervém vendendo ou comprando
moeda, para evitar grandes oscilações. "Isso permite que um número pequeno de empresas e
bancos interfiram nesse mercado,
puxando ou derrubando cotações, de acordo com seus interesses", diz ele.
Às empresas endividadas em
moeda estrangeira, diz Matias, interessa derrubar o câmbio em dezembro para reduzir seus passivos em reais. Essas empresas, em
geral, fazem hegde (proteção
cambial) comprando títulos da
dívida externa brasileira. "Se o
real se valoriza em relação ao dólar, cai o risco-país e diminui o deságio desses títulos dando ganhos
financeiros a essas empresas", diz.
Também as multinacionais têm
interesse em encerrar o ano com o
real mais encorpado. "Se o balanço local for fechado com um real
desvalorizado, a matriz terá prejuízos, pois seus ativos locais perderão valor", diz Matias.
Já os bancos também têm interesse em encerrar o ano com o
câmbio deprimido. Ao longo deste ano eles investiram em títulos
públicos federais que acompanham a variação cambial. Quando o dólar disparou, esses títulos
se valorizaram inflando os seus
ganhos. Mas, contando com um
recuo do dólar, os bancos provisionaram nos balanços trimestrais a desvalorização que esses títulos teriam até o final do ano.
Segundo Matias, a maioria das
instituições provisionou essas
perdas potenciais considerando
que o dólar valeria R$ 2,80 no final
do ano. Como a moeda americana fechou acima desse patamar,
terão de reverter as provisões. O
resultado será um lucro maior no
final do balanço. "Os provisionamentos vinham ocultando o lucro
nos balanços trimestrais", diz ele.
"Agora ele vai aparecer", acrescenta.
Mecanismos
Segundo Possas, "há uma gama
enorme de operações financeiras
e comerciais que podem ser feitas,
de forma absolutamente legal, para fixar um lucro maior ou menor
e que influenciam o câmbio".
Na virada do ano podem crescer
as captações no exterior, por
exemplo. Nas últimas semanas
foram anunciadas captações significativas de empresas e bancos:
Petrobras (US$ 200 milhões),
Gerdau (US$ 75 milhões), BBA
(US$ 60 milhões) e ABN Amro
(US$ 50 milhões). "Quando os recursos são internalizados, cai a
cotação do dólar", diz Matias.
Também empurram o câmbio
para baixo a entrada de recursos
de exportadores, de bancos e de
empresas que estavam fora do
país e que são internalizados nessa época do ano.
Segundo Possas, a maior parte
das movimentações ocorrem na
primeira quinzena do mês. "Depois do Natal nada acontece, só
manipulação de mercado; por isso o dólar caiu e depois voltou a
subir um pouco", diz ele.
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