São Paulo, sexta-feira, 06 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China indica que reduzirá reservas em dólares

DO "FINANCIAL TIMES"

A China indicou ontem que começará a diversificar suas reservas cambiais cada vez maiores, abandonando parcialmente os dólares e os títulos do Tesouro dos EUA -mudança que pode acarretar implicações significativas para os mercados financeiros e de commodities mundiais.
Os economistas estimam que mais de 70% das reservas cambiais chinesas sejam formadas por ativos denominados em dólares dos Estados Unidos, o que vem ajudando a bancar os grandes déficits recentes nas contas norte-americanas. Caso a China deixe de adquirir proporção tão grande de dólares com suas reservas, que no momento crescem em cerca de US$ 15 bilhões ao mês, pode surgir forte pressão de baixa sobre a divisa norte-americana.
Em um breve comunicado divulgado em seu site, a agência regulatória do câmbio chinês anunciou que uma de suas metas para 2006 seria "melhorar a operação e a administração das reservas cambiais e estudar de maneira atenta maneiras mais efetivas de utilizar os ativos mantidos como reserva".
O comunicado prossegue afirmando que "[o objetivo do governo] é melhorar a estrutura cambial e a estrutura de ativos de nossas reservas nacionais e continuar a expandir a área de investimento das reservas". "Queremos assegurar que o uso de reservas cambiais sirva de apoio à estratégia nacional, a uma economia aberta e ao ajuste macroeconômico", afirma.
O anúncio foi feito pela Administração Estatal de Câmbio e não oferece detalhes adicionais que permitam determinar se o novo regime implicaria fortes mudanças na estratégia de investimento das reservas chinesas, que, de acordo com reportagens na imprensa local, atingiram montante de quase US$ 800 bilhões no final do ano passado. Os economistas antecipam que o volume deve superar a marca do US$ 1 trilhão neste ano.
A agência regulatória anunciou que poria fim às cotas que limitam o montante em moedas estrangeiras que empresas chinesas podem adquirir para investimentos no exterior, decisão que remove um obstáculo burocrático para as empresas interessadas em realizar aquisições internacionais.

Debate intenso
O comunicado surge em um período de debate cada vez mais intenso na China sobre a maneira pela qual as reservas são investidas. Alguns economistas solicitaram que Pequim empregasse os fundos para financiar investimentos em infra-estrutura e sanear as finanças de empresas estatais ou que investisse em ativos de rendimento mais alto do que o financiamento à captação norte-americana.
No entanto, de acordo com Stephen Green, economista do banco Standard Chartered em Xangai, ainda que a linguagem do comunicado tenha sido "vaga", o anúncio representava a primeira ocasião em que o governo chinês havia indicado publicamente que se afastaria dos ativos denominados em dólares.
"É um sinal sutil, mas claro, de que estão interessados em se afastar do dólar norte-americano e investir em outras moedas e que há interesse em estabelecer uma espécie de fundo estratégico de commodities, talvez apenas para o petróleo, mas talvez também para outras categorias de commodity", disse.
O Grupo dos 7 (G7) maiores países industrializados vem pedindo repetidamente por um ajuste no desequilíbrio do comércio mundial, incluindo uma alta na moeda chinesa, o yuan. Os Estados Unidos expressaram frustração pelo fato de a China não ter permitido que sua moeda subisse de maneira significativa, depois da valorização de 2% autorizada em julho. As mudanças daquele mês incluíam a adoção de uma cesta de divisas como parâmetro para a cotação do yuan, em lugar do dólar, o que poderia permitir uma alta da moeda chinesa em relação à norte-americana.
John Snow, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, falando antes do último anúncio chinês, repetiu seu pedido de que a China permita alta do yuan com relação ao dólar. "O déficit comercial é influenciado por muitas coisas, diferenças nos ritmos de crescimento, poupança, investimento e outros. Mas é evidente que, se a moeda chinesa fosse avaliada de maneira mais correta, o processo mundial de ajuste seria beneficiado", declarou.
No entanto, alguns economistas acreditam que seria um erro para a China destinar suas reservas a investimentos internos ou outras categorias de ativos.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: FMI faz visita para "quitação"
Próximo Texto: Opinião econômica - Luiz Carlos Mendonça de Barros: A força do passado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.