|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
China indica que reduzirá reservas em dólares
DO "FINANCIAL TIMES"
A China indicou ontem que começará a diversificar suas reservas cambiais cada vez maiores,
abandonando parcialmente os
dólares e os títulos do Tesouro
dos EUA -mudança que pode
acarretar implicações significativas para os mercados financeiros
e de commodities mundiais.
Os economistas estimam que
mais de 70% das reservas cambiais chinesas sejam formadas
por ativos denominados em dólares dos Estados Unidos, o que
vem ajudando a bancar os grandes déficits recentes nas contas
norte-americanas. Caso a China
deixe de adquirir proporção tão
grande de dólares com suas reservas, que no momento crescem em
cerca de US$ 15 bilhões ao mês,
pode surgir forte pressão de baixa
sobre a divisa norte-americana.
Em um breve comunicado divulgado em seu site, a agência regulatória do câmbio chinês anunciou que uma de suas metas para
2006 seria "melhorar a operação e
a administração das reservas
cambiais e estudar de maneira
atenta maneiras mais efetivas de
utilizar os ativos mantidos como
reserva".
O comunicado prossegue afirmando que "[o objetivo do governo] é melhorar a estrutura cambial e a estrutura de ativos de nossas reservas nacionais e continuar
a expandir a área de investimento
das reservas". "Queremos assegurar que o uso de reservas cambiais
sirva de apoio à estratégia nacional, a uma economia aberta e ao
ajuste macroeconômico", afirma.
O anúncio foi feito pela Administração Estatal de Câmbio e não
oferece detalhes adicionais que
permitam determinar se o novo
regime implicaria fortes mudanças na estratégia de investimento
das reservas chinesas, que, de
acordo com reportagens na imprensa local, atingiram montante
de quase US$ 800 bilhões no final
do ano passado. Os economistas
antecipam que o volume deve superar a marca do US$ 1 trilhão
neste ano.
A agência regulatória anunciou
que poria fim às cotas que limitam o montante em moedas estrangeiras que empresas chinesas
podem adquirir para investimentos no exterior, decisão que remove um obstáculo burocrático para
as empresas interessadas em realizar aquisições internacionais.
Debate intenso
O comunicado surge em um período de debate cada vez mais intenso na China sobre a maneira
pela qual as reservas são investidas. Alguns economistas solicitaram que Pequim empregasse os
fundos para financiar investimentos em infra-estrutura e sanear as finanças de empresas estatais ou que investisse em ativos de
rendimento mais alto do que o financiamento à captação norte-americana.
No entanto, de acordo com Stephen Green, economista do banco Standard Chartered em Xangai, ainda que a linguagem do comunicado tenha sido "vaga", o
anúncio representava a primeira
ocasião em que o governo chinês
havia indicado publicamente que
se afastaria dos ativos denominados em dólares.
"É um sinal sutil, mas claro, de
que estão interessados em se afastar do dólar norte-americano e investir em outras moedas e que há
interesse em estabelecer uma espécie de fundo estratégico de
commodities, talvez apenas para
o petróleo, mas talvez também
para outras categorias de commodity", disse.
O Grupo dos 7 (G7) maiores
países industrializados vem pedindo repetidamente por um
ajuste no desequilíbrio do comércio mundial, incluindo uma alta
na moeda chinesa, o yuan. Os Estados Unidos expressaram frustração pelo fato de a China não ter
permitido que sua moeda subisse
de maneira significativa, depois
da valorização de 2% autorizada
em julho. As mudanças daquele
mês incluíam a adoção de uma
cesta de divisas como parâmetro
para a cotação do yuan, em lugar
do dólar, o que poderia permitir
uma alta da moeda chinesa em relação à norte-americana.
John Snow, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, falando antes do último anúncio chinês, repetiu seu pedido de que a
China permita alta do yuan com
relação ao dólar. "O déficit comercial é influenciado por muitas
coisas, diferenças nos ritmos de
crescimento, poupança, investimento e outros. Mas é evidente
que, se a moeda chinesa fosse avaliada de maneira mais correta, o
processo mundial de ajuste seria
beneficiado", declarou.
No entanto, alguns economistas
acreditam que seria um erro para
a China destinar suas reservas a
investimentos internos ou outras
categorias de ativos.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: FMI faz visita para "quitação" Próximo Texto: Opinião econômica - Luiz Carlos Mendonça de Barros: A força do passado Índice
|