São Paulo, sexta-feira, 06 de janeiro de 2006

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CRISE NO AR

Empresário diz que foi vítima de campanha orquestrada contra ele, mas ainda pretende adquirir Varig Log e Vem

Tanure desiste da Varig, mas quer subsidiárias

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O Grupo Docas, do empresário Nelson Tanure, anunciou ontem a desistência da proposta de compra do controle da Varig na a assembléia do colégio deliberante da FRB (Fundação Ruben Berta), que confirmou a aprovação do plano de recuperação da empresa.
Tanure, no entanto, vai partir para a disputa das subsidiárias Varig Log (transporte de cargas) e VEM (engenharia e manutenção) com a estatal portuguesa TAP e com o fundo de investimentos americano Mattlin Patterson.
O empresário fez críticas à imprensa na abertura da assembléia da instância máxima na tomada de decisões da Varig. Disse ter sido alvo de uma campanha orquestrada e, segundo participantes da reunião, que negocia a compra da Varig desde 2003.
O colégio deliberante é formado por 140 funcionários e já havia sinalizado no final de 2005 que não pretendia aprovar a oferta do empresário. A proposta que garantia a Tanure a gestão da Varig previa o pagamento de US$ 112 milhões por 25% das ações ordinárias e o direito a 67% do capital votante da FRB-Par (Fundação Ruben Berta Participações) por dez anos.
O assessor da presidência da Docas, Demétrio Guiot, justificou a decisão afirmando que "não adianta fazer negócio com quem não quer fazer negócio com você". O presidente do Conselho de Curadores da FRB, Cesar Curi, afirmou que a decisão partiu exclusivamente da Docas.
Guiot afirmou que a Docas insistirá na compra da Varig Log e da VEM. "Vamos bater, não vamos mais apanhar, porque quem bate não sabe apanhar", disse.
Segundo o presidente da Varig, Marcelo Bottini, a proposta da Docas para Varig Log e VEM foi desqualificada porque não atendia aos pré-requisitos, como o esclarecimento da origem dos recursos. A Docas ofereceu US$ 139 milhões pelas duas companhias. "Ele tem o direito de apelar. A Varig trabalha com as opções da TAP e do Mattlin Patterson", disse Bottini.
Após a venda preliminar das lucrativas subsidiárias para a TAP, em 9 de novembro, por US$ 62 milhões, e que também teve sua estrutura contratual aprovada ontem em assembléia, a Varig colocou as companhias em leilão. A Aero-LB, sociedade de propósito específico criada pela TAP no Brasil, tinha o direito de analisar as propostas e decidir se cobriria ou não a oferta. A Aero-LB acabou desqualificando a proposta da Docas pelas empresas.
"Estamos questionando o direito abusivo da Aero-LB de desqualificar uma proposta de valor superior", disse Guiot.
Para a Docas, houve um "jogo de cartas marcadas" para que a TAP ficasse com a VEM, e a Varig Log, com o Mattlin Patterson.
O presidente da Varig reconheceu que a Varig tem interesse em vender as duas companhias em separado porque os dois investidores pretendem participar do processo de recuperação da Varig. "Do ponto de vista econômico e estratégico, de continuar com dois investidores, esse seria para nós o melhor dos mundos", disse. A decisão sobre quem fica com cada subsidiária ainda está em suspenso, mas Bottini promete que será resolvida o mais rápido possível.
Caso a Varig Log seja vendida ao Mattlin Patterson, a Varig ganhará um adicional de US$ 9 milhões. O fundo americano fez uma proposta de US$ 55 milhões pela empresa, que inclui o valor pago anteriormente pela TAP, de US$ 38 milhões e a multa de 20% sobre o valor.
Segundo Bottini, a disputa em torno da aquisição das subsidiárias não deve prejudicar o processo de recuperação da Varig, mas pode atrasar a entrada das empresas no controle da companhia aérea. "Quanto mais rápido acabar esse imbróglio jurídico, mais rápido poderíamos começar a tratar de outros assuntos", disse.

Recebíveis
A Justiça americana determinou que a Varig pague até o dia 12 US$ 56 milhões referentes a dívidas com empresas de leasing. Segundo Bottini, a companhia já tem garantidos US$ 29 milhões de fluxo de caixa. O restante deverá ser obtido por meio da troca de recebíveis com a TAP de cerca de US$ 30 milhões ou da devolução de US$ 30 milhões que foram pagos antecipadamente à Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), uma câmara de compensação internacional.


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