São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China reduz pela quarta vez recursos dos bancos

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo chinês decidiu reduzir pela quarta vez em sete meses a quantidade de dinheiro nas mãos dos bancos, em mais uma tentativa de frear a oferta de crédito e o ritmo de crescimento da economia.
Financiamentos baratos e abundantes são uma das principais fontes de investimentos na China. E os investimentos são o mais potente motor da expansão do PIB, que alcançou 10,5% no ano passado.
O problema é que cerca de dois terços dos financiamentos terminam nos caixas das milhares de estatais que sobreviveram às reformas econômicas. Grande parte delas é ineficiente e muitas aplicam os recursos em projetos de duvidosa viabilidade econômica.
A medida de ontem elevou em 0,5 ponto percentual o depósito compulsório dos bancos, que passa a ser de 9% -no Brasil, o índice é de 45% para os depósitos à vista. Esses recursos devem ficar depositados no banco central e não podem ser utilizados em financiamentos.
Com a decisão, o governo chinês vai retirar US$ 18,8 bilhões de circulação. Desde junho, as elevações no depósito compulsório tiraram dos cofres dos bancos US$ 75,2 bilhões.
O valor supera tudo o que a China recebeu em investimento estrangeiro direto em 2005, mas é pequeno se comparado aos US$ 2,8 trilhões em empréstimos do sistema bancário, o equivalente a cerca de 120% do PIB. No Brasil, o volume de crédito é de 33% do PIB e o governo quer elevá-lo a 50%.
O governo chinês teme que o investimento excessivo leve a um crescimento não sustentável, que poderia acabar no temível "hard landing" -a interrupção brusca da atividade econômica em razão de uma oferta de bens maior da que pode ser absorvida pela demanda.

Novo estilo
As sucessivas elevações do depósito compulsório neste ano indicam uma mudança de estilo na tentativa da China de controlar a expansão do PIB.
As autoridades do país costumavam dar preferência a decisões de caráter administrativo, como ordens para que as províncias reduzissem os investimentos das estatais sob seu controle. Medidas clássicas de política monetária, como aumento do compulsório e dos juros, eram pouco utilizadas.
Os juros foram elevados duas vezes neste ano, depois de um tímido reajuste em outubro de 2004, o primeiro em quase uma década. Mesmo com os aumentos, a taxa básica está em 6,21%.
Além do risco de superaquecimento, a rápida expansão dos empréstimos é uma ameaça ao sistema financeiro, que tem em seus balanços uma quantidade enorme de créditos irrecuperáveis. Mesmo com as reformas realizadas nos últimos três anos, os bancos estatais chineses continuam sujeitos à interferência política, o que pode levar à concessão de créditos a empresas que não terão condições de quitá-los no futuro.
(CLÁUDIA TREVISAN)


Texto Anterior: Setores aquecidos e em crise "dividem" economia americana
Próximo Texto: Comércio exterior: UE pede esforço dos EUA para retomar Doha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.