São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Memórias do apagão


Preço da eletricidade no curto prazo mais que duplica em relação a dezembro, sinal crítico de risco de escassez


O PREÇO da eletricidade no curto prazo se acelerou num ritmo que não se via desde os tempos de apagão, em 2001. Não, não quer dizer que estamos na batida do racionamento, mas que as estimativas de pouca chuva na virada do ano se confirmaram, como aqui se relatava no domingo passado. O megawatt-hora (MWh) subirá dos R$ 247 da semana que passou para cerca de R$ 473 na semana que vem.
Em resumo simples, isso significa que cresceu o risco de escassez de energia. Em outros termos, é ora mais provável que seja preciso gerar eletricidade por meio das caras usinas térmicas (movidas a gás, óleo ou carvão), acionadas eventualmente para evitar que os reservatórios das hidrelétricas fiquem mais vazios.
O preço da energia no curto prazo afeta grandes consumidores (indústrias, shoppings) que negociam eletricidade no mercado livre e precisam fazer compras adicionais ou estão temporariamente sem contrato com um comercializador. Mas são uma referência de mercado e um termômetro do risco de escassez.
O preço da energia no curto prazo sempre varia muito. Mas, pelo menos desde 2002, passara de R$ 100 o MWh só em 2006, em dois meses secos. Em 2007, superou R$ 100 em cinco meses e chegou a mais de R$ 200 em dezembro. Agora vai a R$ 473 (curiosamente, quase o mesmo valor nominal do MWh de quando tocou a sirene do apagão em 2001).
Neste início de janeiro, os reservatórios do Sudeste estão no nível mais baixo desde 2003. Tem chovido bem abaixo da média histórica. Tudo pode mudar em um mês, para melhor -ou pior. Em janeiro de 2007, os reservatórios do Sudeste estavam cheios, com mais de 78% de sua capacidade. No janeiro do apagão de 2001, estavam só com 31%. Mas, na quinta-feira passada, o nível era de pouco menos de 45%.
Em dezembro, a Aneel decidiu que o nível crítico para janeiro seria de 36% (quando seriam acionadas térmicas a rodo). Decidiu-se pagar para ver se chove: gasta-se água/energia hidráulica em vez de combustível fóssil das térmicas. O sistema elétrico hoje é melhor que em 2001. É mais interligado, há mais térmicas. Falta é gás para mover as turbinas de parte delas; a Petrobras ainda não mostrou um cronograma de aumento da oferta de gás. Há mais alternativas para lidar com o problema, mas a situação é crítica e, agora, depende dos céus.
Para piorar, governos mentem e erram estupidamente. O governo FHC mentiu até a véspera do apagão. Em março de 2001, negava o racionamento. Em abril, criava um plano de "racionalização" de consumo, um fiasco. Em maio, discutia abertamente o corte de energia. No dia 10 de maio, Pedro Parente, a Dilma Rousseff de FHC, assumia o ministério do apagão. O governo Lula criou um planejamento melhor para a energia. Mas é lerdo e mente tanto ou mais que qualquer governo.

vinit@uol.com.br


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