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Baixa qualificação puxa alta do emprego
No primeiro mandato de Lula, mercado formal de trabalho avança com a criação de vagas que exigem menor escolaridade
Entre as ocupações que mais empregaram, estão as de vendedor e operário; cargos de supervisão e gerência perderam, aponta ranking
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por trás dos números recordes de geração de emprego formal no governo Lula, o mercado de trabalho com carteira assinada avança em ocupações de
baixa escolaridade e salários
menores, enquanto, em nome
da globalização e dos ganhos de
produtividade das empresas,
posições mais bem remuneradas nas áreas de supervisão e
gerência tendem à atrofia.
Um ranking das ocupações
elaborado pelo Ministério do
Trabalho a pedido da Folha
mostra as 15 atividades que
mais geraram postos e as 15
que mais fecharam vagas entre
2003 e 2006, período do primeiro mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Os números indicam que a
alta do emprego formal foi puxada pela criação de vagas de
baixa qualificação.
Os dados foram extraídos da
Rais (Relação Anual de Informações Sociais), uma espécie
de censo anual do mercado formal divulgado pelo governo no
segundo semestre do ano seguinte ao qual as informações
se referem.
O governo avalia que os números de 2007 mostram a
mesma tendência de criação de
vagas em ocupações que exigem menos qualificação. A expectativa para 2007 é a de criação de cerca de 1,6 milhão de
empregos formais. Confirmada, será novo recorde histórico.
O secretário de Políticas Públicas de Emprego, Sérgio Vidigal, diz que "a maior parte da
mão-de-obra [no mercado formal] é de baixa escolaridade e
tem baixa remuneração".
Vidigal ressalta que "esse
atual ciclo de crescimento do
emprego tem atingido quase a
totalidade da estrutura produtiva". Indústria, comércio,
construção civil e agricultura
geram vagas.
De 2003 a 2006, a ocupação
que mais rendeu empregos foi
a de vendedor do comércio varejista (315 mil vagas). Em seguida, aparecem trabalhadores
de linhas de produção (307 mil
empregos) e auxiliar de escritório (287 mil postos).
Vidigal afirma que a escolaridade da maior parte dessa
mão-de-obra se situa entre o
ensino fundamental e o médio.
"O número de vagas é elevado, mas isso embute uma alta
rotatividade. Quem tem baixa
escolaridade entra e sai do
mercado com muita rapidez",
diz o secretário. Segundo ele,
em novembro, para os 125 mil
postos criados no mercado formal, 1,1 milhão de trabalhadores foram contratados, e 1 milhão, demitidos.
Para Mário Fagundes, consultor do Grupo Catho, o ranking das ocupações do Ministério do Trabalho é limitado porque compreende apenas o mercado de trabalho formal, que
responde por 40% da população brasileira ocupada.
No entanto, ele avalia que os
números refletem a tendência
do mercado. "Temos um ranking diferente, mas que aponta
no mesmo sentido."
Na opinião de Vidigal, o mercado de trabalho não sustentará esse ritmo de crescimento. A
perspectiva para 2008 é a de
que, em vez de números vultosos de contratação, as empresas passem a admitir menos
funcionários, mas com maior
grau de qualificação.
Vagas em extinção
O administrador de empresas Hamurabi Oliveira Santos,
29, brasiliense, desde novembro entrou para as estatísticas
não só de desemprego como
também nas de ocupações em
ritmo de extinção. Desde 2005,
ele trabalhava em uma agência
bancária exercendo uma função similar à de gerente de conta corrente.
A ocupação aparece em sexto
no ranking das atividades que
mais fecharam vagas de 2003 a
2006. Supervisor administrativo e gerente de loja e supermercado são os dois cargos que
mais perderam lugar no mercado no período, eliminando, juntos, mais de 40 mil postos.
"Fui demitido. Eles disseram
que contratariam outra pessoa
para a função. Mas isso não
aconteceu. Outros dez saíram
na mesma época. Eles vão enxugando para contratar com
salário mais baixo e para um fazer o trabalho de dois", relata.
Das 15 ocupações em queda,
ao menos 5 estão diretamente
ligadas ao setor bancário, que
vive uma onda de fusões.
O consultor Fagundes acrescenta que existe uma cultura de
investir nos chamados funcionários "multifuncionais".
Esse "novo funcionário" vem
decretando a extinção de cargos de gerência e supervisão. "É
a globalização. Para reduzir
custos e aumentar a produtividade, as empresas estão integrando as equipes", diz o secretário de Políticas Públicas de
Emprego. No ranking das ocupações que mais perderam vagas, 11 são funções de supervisão e gerência.
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