São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Para BC, pacote fiscal ajuda a conter juro

Meirelles afirmou a Lula que elevação de tributos deverá reduzir expansão do crédito e minimizar pressões inflacionárias

Avaliação no governo é a de que medidas para repor as perdas da CPMF diminuirão a necessidade de o Banco Central aumentar a Selic

KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião na quinta-feira no Palácio do Planalto, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o pacote de medidas para compensar a perda da CPMF contribuirá para evitar alta da taxa básica de juros, a Selic.
Segundo Meirelles, sem as medidas, a política monetária teria de ser mais conservadora do que já é. Leia-se: possibilidade de elevação da Selic, hoje em 11,25% ao ano. O problema é que, para o governo, uma alta de juros quebraria o ciclo virtuoso que a economia brasileira vive, ao afetar o otimismo do empresariado em relação às perspectivas de crescimento nos próximos anos.
Aí, na avaliação da equipe econômica, seria o pior dos mundos, porque isso teria impacto nos investimentos necessários para atender uma demanda sustentada pelo crescimento do crédito.
Nesse cenário, para evitar uma escalada inflacionária, o BC teria que frear o consumo de forma brusca, com impacto sobre o nível de atividade.
Do ponto de vista fiscal, o pacote "20 + 10 + 10" compensa a extinção do imposto do cheque, tributo que arrecadaria R$ 38 bilhões em 2008.
Foram R$ 20 bilhões em promessa de corte de gastos, R$ 10 bilhões em aumento de impostos e R$ 10 bilhões que serão adicionados à arrecadação tributária de 2008 devido à previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na casa dos 5%.
Contudo, segundo disse Meirelles a Lula, o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) deverá aumentar o custo dos empréstimos, reduzindo a velocidade de expansão das operações de crédito. Isso pode até minimizar as pressões inflacionárias.
Como antecipou a Folha, a direção do BC via com preocupação qual solução Lula adotaria para compensar a perda da CPMF. Uma parte dos diretores do BC já falava informalmente que a discussão não era mais até quando os juros ficariam inalterados, mas sobre a possibilidade de elevar a taxa.
Como o pacote para compensar a perda da CPMF, fica descartada, por ora, a elevação dos juros. E haverá, segundo palavras de Meirelles ao presidente, espaço para reduzir a Selic. Mas num ritmo menor.
Segundo a Folha apurou, Meirelles não se comprometeu com eventual número de reduções da Selic em 2008.
O mercado financeiro estima que, no máximo, haverá três cortes de 0,25 ponto percentual em 2008. Isso deixaria a Selic em 10,5% ao ano em dezembro próximo, no cenário mais favorável.
Meirelles argumentou que o "pacote da CPMF" foi uma boa resposta econômica no aspecto interno, mas não é apenas isso que preocupa.
Há ainda riscos de contaminação em função da evolução da economia mundial, como o desenrolar da crise de crédito imobiliário nos Estados Unidos e as previsões de recessão na maior economia do planeta.
Presente à reunião, o ministro Guido Mantega (Fazenda) foi mais otimista. Avaliou que a inflação continuará inferior à meta oficial, 4,5% ao ano pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que também participou da reunião, lembrou que o pacote ajudará a afastar expectativas negativas sobre a economia e que isso terá reflexo positivo sobre o crescimento.
No início do ano passado, o mercado previu crescimento do PIB de 4,5%. O ano de 2007 deverá fechar com um PIB superior a 5% -Lula e Mantega apostam numa taxa de 5,2%.


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