São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Grupo de Lemann investe em ferrovia

À frente da InBev, trio de empresários aposta agora numa das maiores companhias ferroviárias dos EUA

Investimento de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira na CSX, que opera em 23 Estados, é de US$ 1,5 bi

Duda Moraes - 15.set.07/Folha Imagem
O empresário Jorge Paulo Lemann, durante um evento em SP


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Depois de terem criado a InBev, a maior cervejaria do mundo, os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira se lançam a um novo megaempreendimento nos EUA. Eles investiram US$ 1,5 bilhão na compra de 8,3% de participação de uma das maiores ferrovias americanas, a CSX, cuja sede é fincada em Jacksonville, na Flórida.
O capital da CSX é pulverizado na Bolsa de Nova York. Com a participação que o trio de investidores adquiriu da empresa, eles pretendem deter o controle da gestão da ferrovia. A exemplo da InBev, o objetivo dos brasileiros é tornar a empresa mais competitiva para valorizar seu capital no mercado acionário. O valor da CSX na Bolsa de Nova York é calculado em US$ 17 bilhões.
O negócio foi publicado em fato relevante na SEC [Securities and Exchange Comission, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários] no final do ano passado. Os sócios brasileiros estão reivindicando 5 dos 12 assentos no conselho de administração da companhia. Com essas cadeiras, eles pretendem dar as cartas na empresa.
Lemann, Telles e Sicupira pretendem levar para a CSX a experiência que adquiriram com a ALL Logística, atualmente a maior operadora logística de ferrovias na América Latina, quando ainda detinham o controle da GP Investimentos, o maior fundo de investimentos do país. Hoje, os três não participam mais da GP.
Para gerir a empresa ferroviária americana, o nome escolhido deve ser o de Alexandre Behring, que presidiu a ALL no período de julho de 1998 a dezembro de 2004 e ainda tem assento no conselho de administração da empresa. Behring é um dos cinco indicados para o conselho da CSX.
Nessa operação nos Estados Unidos, o investimento de Lemann, Telles e Sicupira foi feito por meio do 3G, um fundo formado com recursos dos três e cujo objetivo é descobrir boas oportunidades de negócios em qualquer parte do planeta. A CSX é o maior investimento feito pelo 3G até agora.
Os investidores brasileiros não estão sozinhos nesse investimento. Eles dividem o negócio com outro fundo, o TCI Fund (The Children Investment Fund), e com um grupo de executivos canadenses cujos nomes ainda estão sendo mantidos em sigilo.
Discretos e avessos a holofotes, Lemann, Telles e Sicupira se notabilizaram pelos negócios mais espetaculares nos últimos 30 anos no Brasil. Os três se lançaram no mundo dos negócios com a criação do Banco Garantia, no final dos anos 70, que, pelo modelo de gestão inovador e agressivo baseado no "partnership" (decisões colegiadas), até hoje é considerado uma lenda no mercado financeiro. O estilo Garantia -o banco foi vendido em 1998 para o Credit Suisse- foi copiado pelos seus concorrentes.
No início da década de 80, eles se tornaram controladores das Lojas Americanas, ao adquirirem ações da empresa na Bolsa, numa operação hostil no mercado de capitais (chamada de "take-over") com muitas semelhanças ao que está sendo feito em Wall Street com a CSX.
Nos anos 80, a investida foi sobre a Brahma. Poucas semanas antes da eleição de Collor, em 1989, os três passaram a controlar a cervejaria. Em seguida, a Antarctica foi comprada para ser criada a AmBev. O curioso é que, nas duas operações, o que se falou na época era que o objetivo dos investidores era vender as empresas assim que elas se recuperassem. Não foi o que aconteceu até hoje.
A maior tacada dos três foi em 2004, quando a cervejaria brasileira se fundiu com a belga Interbrew para ser criada a InBev, hoje a maior cervejaria do planeta. Na época, se dizia que a cervejaria brasileira teria sido vendida para a sua concorrente belga. Atualmente, no topo da gestão da InBev, o que se vê é o contrário. São os brasileiros que estão no comando da operação da companhia.
Na CSX, os investidores brasileiros certamente viram uma grande oportunidade de negócio. Entre outros negócios, a companhia opera a maior ferrovia do leste dos EUA, ligando 23 Estados.


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