Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BM&F ajusta foco para expandir mercado
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
No futuro, os alimentos serão
mais caros e os preços de energia, também. Poluir será um direito que terá de ser comprado.
Com as maiores terras agriculturáveis do mundo, o Brasil terá vantagem competitiva, segundo Manoel Félix Cintra Neto, presidente da BM&F. Para
ele, a Bolsa terá papel importante em negociar essas oportunidades e riscos. Ainda em
período de silêncio por causa
da abertura de capital, Cintra
Neto falou à Folha sobre as expectativas para o mercado.
FOLHA - Como foi o "road show"
para "vender" o IPO da BM&F?
MANOEL FÉLIX CINTRA NETO - Se pegar todas as viagens feitas, dá
três vezes a volta ao mundo. Há
um interesse muito grande no
Brasil. Todos reconhecem que
o Brasil será "investment grade" [com selo de bom pagador]
e estão se antecipando a isso.
FOLHA - Qual a maior dúvida?
CINTRA NETO - O Brasil é um país
que tem tudo por fazer. Tem
potencial de investimento em
infra-estrutura, álcool e biodiesel. Temos um mercado com
um arcabouço jurídico muito
forte. E eles perguntam isso,
que é a segurança de investimento. A condução da política
econômica pelo governo Lula
deu confiança para os investidores. Não tem mais esquerda e
direita em termos de fundamentos econômicos.
FOLHA - Se o Brasil é uma realidade, o que falta fazer?
CINTRA NETO - Basta que o governo ofereça segurança para
que o capital privado faça o desenvolvimento que se esperava
do Estado, que é educação, estrada, porto, saída para o Pacífico. Na questão tributária, a reação do Lula [ao fim da CPMF]
foi excelente. Respeitou a democracia e viu o que poderia fazer. É uma oportunidade para
apresentar uma proposta de
simplificação tributária. Outra
questão é a formalização. Os
IPOs mostram que vale a pena
ser formal. Quando todos pagam impostos, se cria a possibilidade para pagar menos.
FOLHA - Se não existe mais direita
e esquerda na economia, então o
ministro da Fazenda ainda é importante? Há um esvaziamento?
CINTRA NETO - O governo sempre vai ser importante. Não
precisa ser o governo empresário. O governo dá o tom na
agenda. É como no futebol. Você vê que o juiz é bom, quando
assiste à partida e não percebe
que tem juiz. Se o país for bem,
você não percebe o governo.
FOLHA - O BNDES e BB perderam a
sua importância para as Bolsas como fonte de recursos?
CINTRA NETO - O país não pode
ficar só na dependência do BB e
do BNDES. Não pode querer
que o BB carregue alguma carga especial nas costas. BNDES
deve atuar em longo prazo, que
os bancos não atendem.
FOLHA - Não é um contra-senso o
produto da BM&F ser tão sofisticado e ter atraído 260 mil pequenos
investidores no IPO?
CINTRA NETO - Realmente, o
grande usuário do sistema de
"hedge" [contrato que funciona
como um seguro] são as grandes empresas. É uma pena que
cada um levou uma quantia
menor do que desejava. Claro
que muitos entram para realizar lucro em curto prazo. Tomara que realizem, saiam satisfeitos e voltem.
FOLHA - Qual a vocação da BM&F e
do país quando os alimentos passam a ter um valor financeiro maior?
CINTRA NETO - Os alimentos passam a ter uma importância
maior, os volumes crescem e os
valores são outros. A entrada da
China como grande consumidora fez a grande diferença nos
últimos dez anos tanto na valorização das commodities quanto no barateamento dos produtos industrializados. O produto
agrícola tem um campo fantástico de crescimento, principalmente o Brasil, que ainda tem
áreas agriculturáveis [extensas]. As perspectivas dos contratos agrícolas de uma maneira geral no mundo todo são
grandes, não só na BM&F.
FOLHA - A Bolsa de Chicago tira negócios da soja da BM&F?
CINTRA NETO - É o contrário, a
Bolsa de Chicago é centenária.
Nós é que estamos aí e com legitimidade, uma vez que o Brasil é um grande produtor.
FOLHA - A BM&F sediou o leilão da
Prefeitura de São Paulo de créditos
de carbono. O Brasil tem uma vocação natural nesse mercado?
CINTRA NETO - O Brasil deverá
ser um grande emissor de créditos de carbono. O desafio é
como comercializar. Como é
que um dos grande investidores lá de fora vai comprar de alguém que não conhece? A
BM&F entra dando credibilidade. O sistema de leilão torna
a comercialização segura. E,
por ser mais segura, obtém o
melhor preço. À medida que
cresça, deverá ser criado um
mercado para esses certificados. É um instrumento interessante para um futuro contrato.
FOLHA - São Paulo tem vocação como centro de liquidez e pode esvaziar as praças na América Latina?
CINTRA NETO - São Paulo é o
mercado mais desenvolvido. À
medida que Buenos Aires, Lima e Santiago virem que há um
mercado forte na América Latina, a tendência é interagirem
com o Brasil. No caso do banco
[argentino] Patagonia, que
abriu o capital na Bovespa, a
tendência seria ir para Nova
York. A Bovespa dá o mesmo
nível de liquidez e segurança.
FOLHA - A BM&F discute a fusão
com a Bovespa? Sairá em 2008?
CINTRA NETO - [Silêncio]
Texto Anterior: Bovespa minimiza comparação com os EUA Próximo Texto: Frase Índice
|