São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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Emergentes puxam venda global de carros

Brasil, China e Índia têm crescimento de dois dígitos, enquanto mercado mundial de veículos afunda, puxado pelos EUA

Países emergentes têm mais espaço para crescer com alta da renda, expansão do crédito e média baixa de habitantes com carro

ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em um ano em que as vendas de veículos caíram pelo mundo, os países emergentes, especialmente China, Índia e Brasil, conseguiram manter seus mercados aquecidos -e a expectativa é que eles continuem a puxar o mercado global neste ano.
Com exceção da Rússia (cuja economia foi dragada pela queda do petróleo), o Bric (bloco de gigantes emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China), repetindo o que ocorreu na economia em geral, destacou-se na venda de automóveis, com crescimento na casa de dois dígitos, enquanto o mercado global recuou cerca de 4%. A Alemanha, que ofereceu generosos subsídios, e a Coreia do Sul também se destacaram.
O Brasil teve um aumento de 12,7% nas vendas, o quinto maior crescimento global, segundo estimativa da consultoria Jato Dynamics, e consolidou o posto obtido em 2008 de quinto principal mercado do mundo. Ajudadas pela redução do IPI e pela recuperação da economia, as vendas somaram 3 milhões -novo recorde.
Para o diretor-superintendente da Jato, Luiz Carlos Augusto, o desempenho do mercado brasileiro deve ser visto como o mais sustentável no Bric. "A China vive um boom, mas há dúvidas sobre até quando isso dura, e a Índia tem um crescimento significativo, mas não tão maduro como o brasileiro", afirmou.
O bom momento do mercado automotivo no país deve prosseguir neste ano. A Fenabrave (associação das concessionárias) projeta uma expansão de 9,7% para 2010, número próximo ao previsto pelo banco canadense Scotiabank, que estima avanço de 10,1%.
Mas o melhor resultado veio da China, que pela primeira vez tomou o posto dos EUA de maior mercado automotivo mundial (contando caminhões e ônibus). Levando em consideração apenas automóveis e comerciais leves, os chineses ainda permanecem atrás dos americanos, mas tiveram alta de 52% nas vendas, enquanto os EUA sofreram queda estimada em 18%, apesar da ajuda do governo para a troca de carros antigos por outros que consomem menos combustível.

Vantagem
Segundo o sócio da PriceWaterhouse Marcelo Cioffi, os emergentes tem como vantagem uma "demografia favorável". Na Índia, segundo ele, há 1 carro para cada 78 habitantes, e na China, 1 para cada 29. O Brasil tem uma relação ainda folgada -1 carro para 7,4 pessoas.
"Existe muito espaço ainda para crescer nesses países, porque há uma combinação importante de expansão no crédito e aumento na renda", disse.
Nos mercados desenvolvidos, além de haver uma limitação mais estrutural ao crescimento -nos EUA, há 1 carro para cada 1,2 habitante- e da crise em si, as montadoras passaram por dificuldades. GM e Chrysler (respectivamente, a primeira e a terceira maiores montadoras dos EUA) passaram pelo processo de concordata -inimaginável até pouco tempo atrás- e hoje pertencem em parte ao governo americano.
Para 2010, porém, a expectativa de analistas é que o mercado dos EUA volte a se expandir, já que se espera que a maior economia mundial retome crescimento mais sustentável, com queda do desemprego e aumento da renda média.
Mas o avanço americano não deve chegar nem perto do chinês. Enquanto o crescimento das vendas de automóveis na China deve ser de aproximadamente 20%, o dos EUA deve ficar em torno da metade disso.
Quem também deve se destacar é a Índia, que teve o segundo maior crescimento em 2009: 28%, estima a Jato Dynamics. Para este ano, o avanço projetado é da casa dos 10%, de acordo com o Scotiabank.
No mundo rico, especialmente na Europa, o cenário para este ano não é positivo. As vendas na Alemanha devem cair fortemente, já que o governo não deve colocar novos subsídios para a troca de veículos, o que ajudou as vendas no ano passado a crescerem na casa dos 20%.


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