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Para BC, não há risco cambial para empresas
Banco estima em só US$ 35 milhões exposição a derivativos "tóxicos", ante US$ 20 bilhões que exportadores têm no exterior
Para mercado, autoridade
monetária estimula alta do
dólar ao comprar moeda
agora; com valorização de
0,37%, divisa fecha a R$ 1,89
MARCIO AITH
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar subiu pela quarta semana seguida e voltou à casa de
R$ 1,90, mas pegou poucas empresas despreparadas, diferentemente do que ocorreu no final de 2008, segundo avaliação
do Banco Central. Por conta
disso, a autoridade monetária
tem se mantido alheia à alta do
dólar e decidiu não intervir para elevar a cotação do real. Ontem, a moeda encerrou a R$
1,891, com alta de 0,37% no dia.
Mesmo com a tensão nos
mercados, o BC ainda não apareceu vendendo dólares, como
fizera no final de 2008. Durante toda a semana, o BC comprou dólares na faixa de R$ 1,84
e R$ 1,88, colaborando para ratificar o novo valor da moeda.
O argumento é que não haveria hoje a mesma crise de liquidez e asfixia de crédito vista na
turbulência de 2008. Nem casos relevantes de empresas
com aposta errada no câmbio
capaz de levá-las muito perto
da insolvência, como ocorreu
com Sadia e Aracruz Celulose.
O BC calcula em apenas US$
35 milhões a exposição de empresas a esses derivativos "tóxicos", valor que seria irrisório
não só ante os R$ 30 bilhões em
contratos registrados de derivativos, mas, principalmente,
diante dos US$ 20 bilhões que
os exportadores brasileiros
mantêm no exterior. Para o BC,
as empresas brasileiras têm dólares de sobra, não em falta.
Para o mercado, porém, o BC
está jogando "gasolina na fogueira" para deixar o dólar subir à casa de R$ 2. Com o câmbio flutuante, o discurso do BC
é intervir no mercado para corrigir problemas pontuais de liquidez que prejudicam a formação da taxa de câmbio.
Com alta de 2,5% em dois
dias, operadores de câmbio relataram que o mercado à vista
teve volume reduzido de negócios ontem, com giro perto de
US$ 2 bilhões. Importadores
esperam o mercado se acalmar
para comprar moeda; exportadores não teriam mais dólares
para desovar, porque já aproveitaram a alta da semana passada. "Há muita consulta, mas
pouco negócio. Quem pode espera a coisa se acalmar", disse
Johnny Kneese, diretor da corretora de câmbio LevyCam.
"O BC não está nem aí. Está
só jogando gasolina", disse José
Roberto Carreira, gerente de
câmbio da Fair Corretora.
Já o mercado futuro, em que
empresas e bancos vão fazer
hedge [proteção] para cobrir a
exposição cambial, viu muito
movimento nos últimos dias. A
mudança de patamar do câmbio em tão pouco tempo elevou
a necessidade das empresas de
se protegerem, fato que também pressiona a alta do dólar.
Além da necessidade de hedge, o mercado fala que algumas
empresas também compram
dólares na BM&F para desarmar seus derivativos "tóxicos",
contratados quando o câmbio
estava estável para reduzir os
custos de financiamento ou para especular.
O BC só admite que possa haver alguns focos isolados de
problemas, mas todos de baixa
complexidade e gravidade. As
empresas brasileiras, principalmente as grandes, teriam fugido das apostas cambiais arriscadas por ter aprendido a "lição" de que o dólar não caminha apenas em uma direção.
Além disso, o aperto da fiscalização sobre os produtos financeiros oferecidos por bancos a empresas teria coibido
novos excessos no mercado, segundo um dirigente do BC.
Agora, as empresas têm de detalhar sua exposição a derivativos e atribuir valor de mercado
às operações de hedge.
Em 2008, o crédito internacional secou e o doméstico passou a ser disputado por mais
empresas -incluindo gigantes
como Petrobras. Para o BC, o
quadro atual é outro. Tanto que
ainda se diz no "período de acumulação de reservas". Ou seja,
encontra espaço para comprar
dólar, não vender.
Para o BC, essas compras seriam neutras para a taxa de
câmbio porque são volumes pequenos e sempre pela taxa de
mercado. Na semana, somaram
quase US$ 300 milhões.
O BC também não vê com
preocupação a cotação atual do
real ou a queda da Bolsa. No entanto, diz estar preparado para
utilizar reservas de US$ 240 bilhões para mudar sua orientação ao primeiro sinal de crise
de liquidez ou de crédito.
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