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Crise econômica leva Zapatero a seu pior momento
ROBERTO DIAS
EM BARCELONA
Enquanto o mercado puxava
o tapete da economia espanhola anteontem, o chefe de governo rezava em Washington.
"Não explorarás o trabalhador pobre e necessitado", citou
José Luis Rodríguez Zapatero,
que escolheu um livro do Antigo Testamento (Deuteronômio, capítulo 24). "Pague seu
salário no mesmo dia e antes
que o sol se ponha, porque sua
vida depende de seu salário."
Zapatero participava como
convidado de Barack Obama de
um fórum promovido por uma
entidade cristã dos EUA.
Seria difícil recusar o convite,
mas foi fácil perceber como a
coincidência não ajudou em
nada a melhorar a imagem dele.
A crise faz com que Zapatero viva o momento mais difícil de
seus seis anos no cargo.
Foi quebrada a barreira de 4
milhões de desempregados. O
BC local estima que, nos últimos três meses de 2009, a
quinta maior economia europeia tenha acumulado o sétimo
trimestre de recessão. E quase
metade dos espanhóis avalia a
ação do governo como ruim ou
muito ruim.
Como se as arestas internas
fossem pequenas, o governo teve ainda que vir a público dizer
que a Espanha é muito diferente da Grécia, cercada de dúvidas
sobre a sua dívida crescente.
A tempestade financeira leva
a outra tormenta política para
Zapatero: as medidas pedidas
pelo mercado acabam por lhe
enfraquecer ainda mais na política interna. "O governo traça
reformas para os cidadãos, não
para os mercados", defendia-se
ontem à noite o líder espanhol.
Um dos objetivos das reformas é atacar o deficit fiscal, previsto para bater em quase 10%
do PIB neste ano. O governo fala em baixá-lo em três anos a
3%, a meta exigida pela UE.
Isso envolve mexer no sistema previdenciário, um vespeiro imenso para Zapatero. Sua
fonte mais fiel de apoio até
aqui, o sindicalismo, posicionou-se contrário à proposta e
promete manifestações nas
ruas caso o governo não recue.
Perder esse apoio poderia ser
a morte política de seu governo.
Pesquisa divulgada ontem
mostrou que nunca em sua gestão foi tão grande a vantagem
eleitoral do PP, o principal partido de oposição, sobre os socialistas (PSOE, de Zapatero).
Resulta curioso, porém, que,
ainda que a crise atinja mais
fortemente o governo, a oposição tampouco escapa ilesa.
Seu líder, Mariano Rajoy,
derrotado duas vezes por Zapatero, também está cada vez
mais impopular, já que seu partido se limita a não apoiar nenhuma medida econômica.
Ontem à noite, Zapatero chamou os principais líderes sindicais ao Palácio da Moncloa.
Conseguiu apoio a um de seus
planos, o da reforma trabalhista, que tenta fomentar os contratos de tempo parcial.
Mas também ficou claro o desacordo sobre a reforma da
aposentadoria, o que deixa em
aberto a possibilidade de protestos contra o governo. Não
por acaso, Zapatero pediu que
os trabalhadores dialoguem antes de ir à rua. Resta saber se será ouvido pelos sindicalistas, já
que, como definiu o jornal "El
Periódico de Catalunya" em
sua manchete, "Deus parece
não escutar Zapatero".
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