São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

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Alimento pressiona, e IPCA tem maior alta em 20 meses

Transporte também pesa, e índice sobe 0,75% em janeiro; em 12 meses, inflação supera centro da meta

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

O avanço dos preços dos alimentos e dos transportes, duas das principais fontes de despesas das famílias brasileiras, pressionou a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em janeiro. Depois de registrar 0,37% em dezembro, o índice oficial de inflação passou para 0,75%. Foi a maior taxa mensal desde maio de 2008.
O acumulado em 12 meses também subiu, para 4,59%, superando o centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%. Instituído em 1999, o regime de metas de inflação serve como diretriz para as decisões da política monetária, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.
Na ata de sua última reunião, o Copom (Comitê da Política Monetária), do Banco Central, sinalizou que poderá aumentar a taxa básica de juros devido ao risco de elevação da inflação.
De acordo com a economista Eulina dos Santos, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o aumento de preços em janeiro ocorreu de forma mais generalizada do que em 2009. Com maior peso no orçamento das famílias, os alimentos, que no ano passado tiveram pouco impacto sobre a inflação, responderam por um terço da taxa mensal. "As chuvas prejudicaram tanto a fase da semeadura, no ano passado, quanto a da colheita."
Segundo ela, a valorização recente do dólar também já afeta produtos importados como o bacalhau (5,41%) e o alho (3,21%). A elevação dos preços das commodities no mercado internacional é outro fator de preocupação -as carnes, que em 2009 caíram 5,33%, em janeiro tiveram alta de 1,67%.
Outro produto que impactou o IPCA foi o açúcar, nas versões cristal (10,27%) e refinado (6,25%). Além da chuva, que prejudicou a colheita da cana, pesou também a escassez do produto no mercado global.
Com os usineiros destinando maior parte da produção de cana para a exportação, o fenômeno levou ao aumento do álcool combustível, que teve alta de 11,09% e causou reflexos também sobre a gasolina (1,33%), ao qual é adicionado. Para tentar segurar os preços, o governo anunciou a redução da mistura de álcool e o corte da alíquota da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) na gasolina.
Outro gasto relacionado ao transporte que teve elevação foi a tarifa de ônibus urbano, reajustada em 17,40% em São Paulo e em 4,18% em Salvador, o que causou uma variação de 3,90% na média do país. Em fevereiro, novos reajustes de ônibus no Rio de Janeiro e em Belém, de trem e metrô em São Paulo e de táxi em Belo Horizonte devem voltar a pressionar o índice, ao lado dos reajustes das mensalidades escolares.
Para a economista-chefe da corretora Icap, Inês Filipa, o resultado de janeiro deixa incertezas à vista, mas "não aumenta o nível de estresse". Segundo ela, é necessário aguardar para ver se a alta dos alimentos é ou não sazonal, bem como para ter uma avaliação mais precisa do efeito da aversão ao risco nos mercados internacionais, que, assim como derrubou a Bovespa nos últimos dias, pode mexer com o câmbio e o preço das commodities.


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