São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Presidente diz a Meirelles que quer uma resposta positiva nesta semana ao resultado fraco do PIB de 2005

Lula cobra do BC queda de um ponto no juro

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião reservada na quinta de manhã no Palácio do Planalto, o presidente Lula cobrou do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a redução de um ponto percentual na taxa básica de juros. Meirelles prometeu trabalhar a favor do pedido de Lula em conversas com a diretoria do BC. A Selic está em 17,25% ao ano.
O Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que se reúne a cada 45 dias para fixar os juros básicos da economia, terá o segundo encontro oficial do ano amanhã e na quarta.
Meirelles foi ao Palácio do Planalto acompanhado do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Para manter em segredo a cobrança, apenas Palocci constava de sua agenda. A reunião, porém, foi pedida por Lula antes do Carnaval para pressionar Meirelles.
No encontro, Lula deixou claro para o presidente do BC a sua insatisfação com o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) de 2005. O PIB cresceu apenas 2,3%, bem abaixo dos 4% que Meirelles e Palocci prometeram a Lula ao longo de 2005. Lula chegou a falar em crescimento de 5%. Com a divulgação do dado oficial, a oposição o atacou duramente. Ele esperava um número ruim, mas nem tanto.
Apesar de decepcionado, o presidente disse a Meirelles que 2005 "já era passado" e que ele estava preocupado com este ano, no qual pretende disputar a reeleição. Disse que desejava uma resposta positiva (queda de um ponto nos juros) a uma notícia negativa (PIB de 2005) por se julgar credor do BC. Lula disse que sempre deu autonomia ao banco, mas que sua paciência tinha limites.
O presidente afirmou a Meirelles que atendeu ao pedido da equipe econômica para que o governo federal isentasse do Imposto de Renda os investidores estrangeiros que compram títulos da dívida pública, medida que foi adotada. Em contrapartida, a equipe econômica prometeu que ela ajudaria a baixar os juros.
Usando um tom duro, Lula cobrou a fatura de Meirelles. Na reunião mais recente do Copom, nos dias 17 e 18 de janeiro, o BC não atendeu ao seu pedido de corte da Selic em um ponto. Segundo auxiliares, Lula não dormiu direito na noite de 18 de janeiro, dia do anúncio da conclusão da reunião.

Corte simbólico
O presidente considerava "simbólico" um corte de um ponto percentual, mas o Copom, numa das decisões mais discutidas internamente, optou pela redução de 0,75 ponto percentual.
Na reunião da última quinta, Lula disse que ele e muita gente na equipe econômica, inclusive o próprio Palocci, não viam motivos para um redução menor do que um ponto percentual.
Lula já havia reclamado duas vezes na semana passada com o ministro da Fazenda. Nas conversas com Palocci, ele reiterou que o superávit primário em 2006 deve ficar próximo à meta oficial de 4,25% do PIB. Nos últimos anos, a Fazenda excedeu a meta. Em 2005, a economia do setor público para pagar juros da dívida chegou ao recorde de 4,8% do produto.
Quando o resultado do PIB no terceiro trimestre de 2005 indicou que o crescimento do ano seria medíocre, Lula usou as expressões "facada nas costas" e "maior decepção" por suspeitar de que Palocci e Meirelles o haviam enganado de propósito. A amigos, Lula disse que a Fazenda e o BC dispunham de dados que permitiam previsões com boa antecedência, mas Palocci se declarou surpreso com a forte queda (1,2% negativo, revisto para -0,9%).
Meirelles reiterou ao presidente o que Palocci já havia dito na semana passada: dados do desempenho econômico do início de 2006 sinalizam que o crescimento deverá ser de 4%. As previsões extra-oficiais são as de crescimento de 1,5% no primeiro trimestre e de 1% no segundo. Isso permitiria dizer em agosto, quando a campanha eleitoral entrar na fase mais importante, que a economia estará crescendo de forma significativa. Palocci espera recuperar o abalado prestígio quando bons números forem divulgados.
A diretoria do BC e a Fazenda sempre reclamam que a pressão de Lula e a publicação de sua insatisfação na imprensa dificultam a queda dos juros, pois pareceria fraqueza do Copom ceder a desejo político.


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