|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Presidente diz a Meirelles que quer uma resposta positiva nesta semana ao resultado fraco do PIB de 2005
Lula cobra do BC queda de um ponto no juro
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião reservada na quinta
de manhã no Palácio do Planalto,
o presidente Lula cobrou do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a redução de um
ponto percentual na taxa básica
de juros. Meirelles prometeu trabalhar a favor do pedido de Lula
em conversas com a diretoria do
BC. A Selic está em 17,25% ao ano.
O Copom (Comitê de Política
Monetária), órgão do BC que se
reúne a cada 45 dias para fixar os
juros básicos da economia, terá o
segundo encontro oficial do ano
amanhã e na quarta.
Meirelles foi ao Palácio do Planalto acompanhado do ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Para manter em segredo a cobrança, apenas Palocci constava
de sua agenda. A reunião, porém,
foi pedida por Lula antes do Carnaval para pressionar Meirelles.
No encontro, Lula deixou claro
para o presidente do BC a sua insatisfação com o resultado do PIB
(Produto Interno Bruto) de 2005.
O PIB cresceu apenas 2,3%, bem
abaixo dos 4% que Meirelles e Palocci prometeram a Lula ao longo
de 2005. Lula chegou a falar em
crescimento de 5%. Com a divulgação do dado oficial, a oposição
o atacou duramente. Ele esperava
um número ruim, mas nem tanto.
Apesar de decepcionado, o presidente disse a Meirelles que 2005
"já era passado" e que ele estava
preocupado com este ano, no
qual pretende disputar a reeleição. Disse que desejava uma resposta positiva (queda de um ponto nos juros) a uma notícia negativa (PIB de 2005) por se julgar credor do BC. Lula disse que sempre
deu autonomia ao banco, mas
que sua paciência tinha limites.
O presidente afirmou a Meirelles que atendeu ao pedido da
equipe econômica para que o governo federal isentasse do Imposto de Renda os investidores estrangeiros que compram títulos
da dívida pública, medida que foi
adotada. Em contrapartida, a
equipe econômica prometeu que
ela ajudaria a baixar os juros.
Usando um tom duro, Lula cobrou a fatura de Meirelles. Na reunião mais recente do Copom, nos
dias 17 e 18 de janeiro, o BC não
atendeu ao seu pedido de corte da
Selic em um ponto. Segundo auxiliares, Lula não dormiu direito
na noite de 18 de janeiro, dia do
anúncio da conclusão da reunião.
Corte simbólico
O presidente considerava "simbólico" um corte de um ponto
percentual, mas o Copom, numa
das decisões mais discutidas internamente, optou pela redução
de 0,75 ponto percentual.
Na reunião da última quinta,
Lula disse que ele e muita gente na
equipe econômica, inclusive o
próprio Palocci, não viam motivos para um redução menor do
que um ponto percentual.
Lula já havia reclamado duas
vezes na semana passada com o
ministro da Fazenda. Nas conversas com Palocci, ele reiterou que o
superávit primário em 2006 deve
ficar próximo à meta oficial de
4,25% do PIB. Nos últimos anos, a
Fazenda excedeu a meta. Em
2005, a economia do setor público
para pagar juros da dívida chegou
ao recorde de 4,8% do produto.
Quando o resultado do PIB no
terceiro trimestre de 2005 indicou
que o crescimento do ano seria
medíocre, Lula usou as expressões "facada nas costas" e "maior
decepção" por suspeitar de que
Palocci e Meirelles o haviam enganado de propósito. A amigos,
Lula disse que a Fazenda e o BC
dispunham de dados que permitiam previsões com boa antecedência, mas Palocci se declarou
surpreso com a forte queda (1,2%
negativo, revisto para -0,9%).
Meirelles reiterou ao presidente
o que Palocci já havia dito na semana passada: dados do desempenho econômico do início de
2006 sinalizam que o crescimento
deverá ser de 4%. As previsões extra-oficiais são as de crescimento
de 1,5% no primeiro trimestre e
de 1% no segundo. Isso permitiria
dizer em agosto, quando a campanha eleitoral entrar na fase
mais importante, que a economia
estará crescendo de forma significativa. Palocci espera recuperar o
abalado prestígio quando bons
números forem divulgados.
A diretoria do BC e a Fazenda
sempre reclamam que a pressão
de Lula e a publicação de sua insatisfação na imprensa dificultam a
queda dos juros, pois pareceria
fraqueza do Copom ceder a desejo político.
Texto Anterior: Cenários: Consumo puxa PIB em 2006, dizem analistas Próximo Texto: Comércio exterior: País exporta pouco para Reino Unido Índice
|