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VINICIUS TORRES FREIRE
Abriram a lata de vermes?
Agora são também temores
sobre queda nas vendas de
"commodities" que derrubam Bolsas de países emergentes
UM DIA ANTES do início da síndrome da China, na segunda-feira, 26, o preço das
"commodities" tinha subido ao nível
do início de dezembro do ano passado. Era ao menos uma recuperação
dos tropeços do final de 2006 e início de 2007. Na
terça-feira da queda de Xangai, as
"commodities" (coisas como combustíveis, metais e grãos) começaram a desandar também.
"Esse choque da China abriu uma
lata de vermes", dizia ontem à agência Bloomberg um desacorçoado estrategista de investimentos de uma
grande corretora de "commodities".
Ontem, ficou claro que as matérias-primas brutas também tornaram-se protagonistas da derrubada
dos ditos emergentes. Pânico? Não.
No tumulto do maio/junho do ano
passado, as Bolsas emergentes caíram 25%. Ainda estamos nos 6%.
Mas petroleiras, fábricas de aço e
de açúcar levaram um tombo nas
Bolsas. A Vale caiu 3,21%, bem mais
que o Ibovespa. A Cosan, maior produtora mundial de açúcar e álcool,
amargou um tombo de quase 4%.
Por que tais desesperos?
"Commodities", ou variações
pouco elaboradas, são cerca de 50%
das exportações do Brasil e muito
mais em economias de outros emergentes, como a Rússia. A Bolsa russa
está no segundo lugar das que mais
desceram no ano. Só perde para a da
Índia, que, aliás, começou a cair bem
antes de Xangai. Outro sinal de que o
desarranjo mundial não se deve apenas a comida chinesa estragada.
Como disse o Nobel de Economia
Mike Spence à Folha, parecem ser
dúvidas sobre a atividade econômica os fatores principais da corrida
para posições financeiras menos
arriscadas. Mas, dada a interconexão dos mercados, a venda
e a decorrente desvalorização de
um ativo sempre afetam os preços
em outros mercados financeiros.
Um exemplo. A fuga do risco provoca a venda de ações de emergentes (em especial de empresas de
"commodities", que haviam subido
muito e seriam desvalorizadas no
caso de os EUA crescerem menos).
A queda nessas Bolsas afeta investimentos de quem emprestou
dinheiro barato em moeda forte
(como o iene) a fim de adquirir
ações brasileiras, russas ou juros
em moedas da África do Sul ou da
Nova Zelândia. A fim de evitar perda maior, liqüidam-se tais investimentos de risco e compra-se o iene
de volta, que sobe diante do dólar.
Há muita gente dizendo, como o
pessoal da Moody's, que vai levar
ao menos um mês para que se tenha idéia melhor sobre o futuro da
economia dos EUA. Ok. O problema é que, se o tumulto continuar
por um mês, com alta nos indicadores de volatilidade e risco, haverá mais movimentos de vendas e
mais desvalorizações em vários
mercados. Quanto mais balançar,
mais operações arriscadas e volumosas podem ser afetadas.
vinit@uol.com.br
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