São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Abriram a lata de vermes?

Agora são também temores sobre queda nas vendas de "commodities" que derrubam Bolsas de países emergentes

UM DIA ANTES do início da síndrome da China, na segunda-feira, 26, o preço das "commodities" tinha subido ao nível do início de dezembro do ano passado. Era ao menos uma recuperação dos tropeços do final de 2006 e início de 2007. Na terça-feira da queda de Xangai, as "commodities" (coisas como combustíveis, metais e grãos) começaram a desandar também. "Esse choque da China abriu uma lata de vermes", dizia ontem à agência Bloomberg um desacorçoado estrategista de investimentos de uma grande corretora de "commodities".
Ontem, ficou claro que as matérias-primas brutas também tornaram-se protagonistas da derrubada dos ditos emergentes. Pânico? Não.
No tumulto do maio/junho do ano passado, as Bolsas emergentes caíram 25%. Ainda estamos nos 6%. Mas petroleiras, fábricas de aço e de açúcar levaram um tombo nas Bolsas. A Vale caiu 3,21%, bem mais que o Ibovespa. A Cosan, maior produtora mundial de açúcar e álcool, amargou um tombo de quase 4%. Por que tais desesperos?
"Commodities", ou variações pouco elaboradas, são cerca de 50% das exportações do Brasil e muito mais em economias de outros emergentes, como a Rússia. A Bolsa russa está no segundo lugar das que mais desceram no ano. Só perde para a da Índia, que, aliás, começou a cair bem antes de Xangai. Outro sinal de que o desarranjo mundial não se deve apenas a comida chinesa estragada.
Como disse o Nobel de Economia Mike Spence à Folha, parecem ser dúvidas sobre a atividade econômica os fatores principais da corrida para posições financeiras menos arriscadas. Mas, dada a interconexão dos mercados, a venda e a decorrente desvalorização de um ativo sempre afetam os preços em outros mercados financeiros.
Um exemplo. A fuga do risco provoca a venda de ações de emergentes (em especial de empresas de "commodities", que haviam subido muito e seriam desvalorizadas no caso de os EUA crescerem menos).
A queda nessas Bolsas afeta investimentos de quem emprestou dinheiro barato em moeda forte (como o iene) a fim de adquirir ações brasileiras, russas ou juros em moedas da África do Sul ou da Nova Zelândia. A fim de evitar perda maior, liqüidam-se tais investimentos de risco e compra-se o iene de volta, que sobe diante do dólar.
Há muita gente dizendo, como o pessoal da Moody's, que vai levar ao menos um mês para que se tenha idéia melhor sobre o futuro da economia dos EUA. Ok. O problema é que, se o tumulto continuar por um mês, com alta nos indicadores de volatilidade e risco, haverá mais movimentos de vendas e mais desvalorizações em vários mercados. Quanto mais balançar, mais operações arriscadas e volumosas podem ser afetadas.


vinit@uol.com.br

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