São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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Kirchner manipula inflação, dizem técnicos

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em meio a protestos de técnicos contra a nova metodologia de cálculo da inflação argentina, o Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos), órgão que equivale ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgou ontem que a variação do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) em fevereiro foi de 0,3%.
A pesquisa de expectativas do mercado feita pelo BC da Argentina com analistas, consultorias e universidades mostrou que os economistas previam alta em torno de 0,7%. Estimativas independentes apontavam para taxa de até 1,2%.
Técnicos do instituto e profissionais da área de estatística acusam o governo de Néstor Kirchner de "fraudar" e "manipular dados" para obter uma taxa de inflação menor do que a real. Ontem, em protesto em frente ao Ministério da Economia, eram exibidas faixas com o texto "Índices retoKados", em referência a Kirchner.
Os trabalhadores querem que o Indec seja auditado por entidades estatísticas internacionais e pela Sociedade Argentina de Estatística. O governo diz que o protesto é político.
A metodologia do cálculo do IPC foi alterada a partir de janeiro. Para os produtos e serviços que fazem parte de acordos setoriais com o governo, o Indec passou a utilizar os preços "oficiais", definidos nos acordos, e não mais os efetivamente praticados no mercado.
Agora, na hora de visitar pontos-de-venda para verificar a variação dos preços, os pesquisadores do instituto têm de levar um computador portátil para registrar os dados imediatamente. Se o valor registrado mostra uma variação maior que a autorizada, a informação é marcada como "duvidosa" no banco de dados do Indec.
Em janeiro, quando especialistas previam até 2,1% de inflação, o índice oficial foi de 1,1%.
Os preços de turismo foram tomados com base em pesquisas da Secretaria de Turismo do país, desconsiderando os valores da pesquisa do próprio Indec. No caso dos planos de saúde, só foi computado o aumento autorizado de 2%, sendo que o valor da mensalidade para o consumidor subiu até 22%.
Em ano eleitoral, Kirchner, que ainda não anunciou se é candidato à reeleição ou se lança a candidatura de sua mulher, Cristina Fernández, tem como principais desafios conter a inflação e manter elevado o consumo.
Segundo relatório da consultoria Ecolatina, a estratégia governista para conter os preços corre o risco de naufragar de vez nos próximos meses se a oferta de bens e serviços seguir crescendo em ritmo inferior ao da demanda.


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