|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pedido de recuperação de empresa quadruplica no ano
Riscos de insolvência crescem com o aperto no crédito e queda nas vendas
Além da crise econômica, Serasa Experian afirma que instrumento jurídico passou a ser mais conhecido das empresas e dos credores
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os pedidos de recuperação
judicial, instrumento em que
empresas com risco de insolvência ganham tempo para retomar pagamentos aos credores, aumentaram 300% no início deste ano, segundo a Serasa
Experian. Em janeiro e fevereiro, houve 135 pedidos de recuperação de empresas em dificuldade -no mesmo período
de 2008, foram só 34.
Para Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da
Serasa, o indicador reflete o
aperto no crédito -menos recursos disponíveis, taxas maiores e prazos menores- e a situação mais difícil enfrentada
pelas empresas desde a quebra
do Lehman Brothers nos EUA,
em 15 de setembro.
Almeida lembra ainda que há
um "componente de aprendizado" das empresas quanto ao
uso do novo instrumento, que
substituiu a antiga concordata
em junho de 2005. "A crise
agravou, sim, essa estatística.
Temos um componente de
conjuntura [crise] e um de
aculturamento da recuperação
judicial, que passou a ser mais
entendida", disse Almeida.
Criada pela Lei de Falências
de 2004 para ajudar empresas a
se reerguerem, a primeira companhia a aderir, de fato, à recuperação judicial foi a Varig, em
julho de 2005. Como a economia entrava em um ciclo virtuoso, poucas empresas -e
seus credores- tiveram interesse no mecanismo. Após a
Varig, só em fevereiro de 2006
a Justiça deferiu mais pedidos
de recuperação judicial, com
Bombril e Parmalat.
Até a crise atual, só empresas
de grande porte tinham acesso
ao instrumento, que demanda
assessoria jurídica e técnica especializadas, além de ter as
contas em ordem e dívidas expressivas com credores.
"Tivemos períodos sem recuperação judicial porque as empresas não precisavam [dela].
Depois, as empresas que passavam por dificuldades começaram a tomar conhecimento.
Numa primeira etapa, as empresas grandes entraram. Vemos agora que empresas médias também estão recorrendo
à recuperação judicial. Acreditamos que em breve [o instrumento] vai chegar também às
pequenas empresas", disse.
"O instrumento sempre existiu para empresas de diferentes
portes. A crise mostrou que a
recuperação judicial está aí e
funciona", disse o advogado Tadeu Laskowski, especialista em
recuperação judicial.
A recuperação judicial envolve um caminho árduo de negociação, acompanhado pela Justiça. Dos pedidos de recuperação em análise, a Justiça deferiu 86 em janeiro e fevereiro
-há um ano, foram 15 no período. Estima-se que o deferimento leve até três meses.
Depois do deferimento, ainda há todo um trâmite para os
credores chegarem a um acordo de recuperação judicial,
quando só então começa o processo em que o pagamento das
dívidas fica suspenso por 180
dias, prorrogáveis por mais 90.
No primeiro bimestre, 15
empresas passaram a funcionar em meio à recuperação judicial -no mesmo período de
2008, só uma passou por isso.
Além da recuperação, os credores podem pedir diretamente a falência de uma empresa
para ter suas dívidas executadas. Segundo a Serasa, houve
301 pedidos de falência requeridos em janeiro e fevereiro,
ante 302 feitos no primeiro bimestre de 2008. Já as falências
decretadas somaram 127 no bimestre, contra 173 no mesmo
período de 2008.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Saiba mais: Recuperação substituiu a concordata Índice
|