São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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Inflação avança e é a maior em quase 2 anos

Puxado por reajustes de escolas, alimentos e transporte, IPCA sobe 0,78%, maior variação para um mês de fevereiro desde 2003

Para especialistas, índice já reflete impacto da economia mais aquecida; pressão deve continuar principalmente nos preços dos serviços

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Passada a crise, a economia cresce em ritmo acelerado e já existem indicações de algum nível de contágio nos preços. Um sinal desse cenário é a alta da inflação em fevereiro: o IPCA subiu para 0,78%, resultado pouco acima do 0,75% de janeiro e o maior índice desde maio de 2008. Na comparação com os meses de fevereiro, é a taxa mais alta para tal mês desde 2003, segundo o IBGE.
Segundo economistas e o próprio IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já existem evidências de repasses mais intensos de custos para os preços ao consumidor, ainda que o quadro esteja distante de uma pressão inflacionária generalizada.
Tal tendência emerge especialmente dos números dos serviços, itens mais resistentes à inflação e que acompanham de perto o nível de atividade e o poder de compra -inflado pelo reajuste real do salário mínimo.
Pelos dados consolidados da LCA, esses itens passaram de uma alta média de 0,61% em janeiro para 1,81% -em boa medida sob impulso de reajustes das mensalidades escolares. Em fevereiro, os colégios subiram 5,38% e puxaram para cima o grupo Educação (4,53%), que, sozinho, correspondeu a 41% do IPCA de fevereiro.
"Existem sinais de que o aquecimento da economia está pressionando alguns preços", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Isso, diz, explica a alta mais intensa do IPCA neste ano do que em 2009, quando o índice avançou 0,48% em fevereiro, mês que concentra os reajustes de mensalidades escolares.
Nunes dos Santos afirmou, porém, que os alimentos estão pressionados por causa principalmente do clima. É que o excesso de chuvas fez subir preços de hortaliças, frutas e legumes. O grupo Alimentação teve alta de 0,96% em fevereiro.
Também pressionaram o IPCA em fevereiro os custos com transportes, que avançaram 0,79%, sob impacto dos aumentos dos ônibus (2,5%) e do álcool (3,21%).

Descompressão
Segundo o economista Fábio Romão, da LCA, há uma "descompressão" em curso dos preços de alimentos e transportes, e a inflação está menos pulverizada do que em janeiro. Ainda assim, diz, há uma nítida influência do nível de atividade econômica sobre alguns itens de serviços.
Neste ano, o PIB deve crescer entre 5% e 6% e só não vai pressionar mais a inflação porque o Banco Central deve elevar os juros para conter o consumo e, consequentemente, os preços.
Diante desse cenário, consultorias já ajustaram suas previsões para cima, e a maior parte delas estima um IPCA na faixa de 5%, acima do centro da meta do governo -de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais.


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