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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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GOVERNO LULA CEM DIAS

Para ganhar a confiança dos mercados, governo freia a economia e reduz renda dos trabalhadores; exportadores e bancos se beneficiam

Aperto recorde marca início da era Lula

DA REDAÇÃO

Para conquistar a confiança dos investidores nos cem primeiros dias de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou a dose do remédio amargo de seu antecessor.
A taxa básica de juros da economia (a Selic) subiu de 25% para 26,5% ao ano, e o superávit primário -economia que o governo faz para pagar os juros de sua dívida- aumentou de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,25%. Até fevereiro, o esforço fiscal do setor público superava os registrados, para o mesmo período, nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
Essas medidas ajudaram o novo governo a reverter o descrédito do investidor estrangeiro. O risco-país, termômetro da confiança dos papéis brasileiros no exterior, caiu de 1.446 para 940 neste ano. O dólar acumula queda de 9,08% desde a posse de Lula.
No entanto, trabalhadores, consumidores, comércio e setores industriais que dependem do mercado interno saíram perdendo com o crédito ainda mais caro e a falta de investimentos. A inflação também ajudou a corroer a renda.
Segundo o IBGE, o rendimento médio do trabalhadores assalariado em seis regiões metropolitanas do país caiu de R$ 894,83, em dezembro, para R$ 849,50 em fevereiro. A expectativa é que tenha ocorrido uma nova retração no mês passado.
A queda da renda acabou se refletindo na inadimplência ao comércio, que cresceu 13% no primeiro trimestre. Já o número de falências decretadas subiu 3,05%.
Beneficiadas pela prioridade do governo de corrigir suas contas externas, as exportações brasileiras cresceram 26,5% no primeiro trimestre e atingiram US$ 15,04 bilhões. O superávit de US$ 3,76 bilhões na balança comercial no período é quase o mesmo alcançado em todo o primeiro semestre do ano passado.
"Ficou claro que, nesses primeiros cem dias, Lula fez o melhor que poderia fazer em tão curto prazo, que foi reconquistar a credibilidade do Brasil", disse o economista Antonio Barros de Castro, ex-presidente do BNDES. "Foi uma grata surpresa. Mas o governo tem revelado uma certa ausência de formulação, de alternativas. Ele ainda não disse a que veio em muitos campos."
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), principal fonte de financiamento de longo prazo, está paralisado. A aprovação de novos projetos caiu 66%.
Para o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto, a política econômica de Lula está dando certo. "A palavra-chave é "delivery" [entrega", como bem empregou um analista de Wall Street. A gente está prometendo e a gente está entregando."


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