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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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GOVERNO LULA CEM DIAS

BC deve aproveitar bom momento para recompor suas reservas e reduzir dívida interna corrigida pelo câmbio, afirma Loyola

Juros altos atraem captação de curto prazo

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fator decisivo para a queda vertiginosa das cotações do dólar, a volta das captações de recursos externos por empresas brasileiras ainda está baseada no capital de curto prazo, atraído pelos juros altos do Banco Central.
Levantamento feito pela empresa de consultoria Tendências mostra que, de 32 operações de lançamento de papéis no exterior neste ano, 22 tiveram prazo de um ano ou menos para o pagamento da dívida; destas, 17 foram feitas por bancos.
Trata-se de uma pista clara da natureza desses negócios. Os bancos, tradicionalmente, buscam recursos no exterior, onde os juros são mais baixos, para emprestá-los no país, tirando partido da diferença de taxas -operação tipicamente especulativa.
"Capital de longo prazo nós ainda não temos", diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, sócio da Tendências. Embora considere que a política de austeridade do governo Luiz Inácio Lula da Silva tem méritos na melhora dos indicadores, Loyola recomenda cautela na avaliação dos resultados: "O BC não pode cantar vitória nem tratar esse capital externo como estável".
O mérito do governo, como concorda praticamente todo o mercado, foi afastar os temores de que a troca de poder viria acompanhada de quebra de contratos, afrouxamento das metas fiscais ou leniência com a inflação. Além disso, a vigorosa recuperação da balança comercial, iniciada em 2002, minimizou o déficit externo brasileiro.
Para Luiz Fernando Lopes, economista-chefe do JP Morgan, foi desfeito o "cenário catastrófico" desenhado pelo mercado a partir da campanha eleitoral. No entanto, observando as cotações do dólar e o risco-país, a situação ainda é pior que há 12 meses.

O que fazer
"Não pára de entrar dinheiro de curto prazo, por causa dos juros", diz Lopes, que cita as captações externas como o principal canal de entrada de capital externo, seguido pelos fundos especulativos de investimento conhecidos como "hedge funds".
O economista acrescenta ainda que a alta das cotações dos C-Bonds, principal título da dívida externa brasileira, é baseada principalmente em operações de investidores nacionais.
Tudo isso significa que a atual euforia do mercado pode se desmanchar tão rapidamente quanto a histeria de antes. O comportamento do dólar neste ano é um exemplo disso: abriu o ano em R$ 3,54, despencou para R$ 3,26 ainda em janeiro, voltou a subir e atingiu um pico de R$ 3,66 em março, despencou e, anteontem, fechou em R$ 3,22.
Diante dessa conjuntura, o que fazer? Loyola descarta a idéia de o BC comprar dólares para evitar que a queda contínua da moeda americana prejudique a balança comercial. "Não vejo razão para esse choro preventivo dos exportadores", diz.
Para ele, é hora de o BC recompor suas reservas aproveitando o momento positivo e lançando títulos do Tesouro no exterior. Também é aconselhável, avalia, reduzir a dívida interna corrigida pelo câmbio.
Lopes concorda com a proposta de reduzir a dívida cambial, "que tanta instabilidade trouxe em outros momentos". Segundo ele, a medida pode barrar a trajetória de queda do dólar sem o artificialismo de uma intervenção direta no mercado de câmbio.


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