São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não há solução para o dólar fraco, diz Jorge

Saída para indústria é ganhar produtividade e aumentar eficiência, e alguns setores terão que se reinventar, afirma ministro

Titular do Desenvolvimento afirma que não será crítico das políticas monetária e cambial do governo e vê dólar pouco acima de R$ 2


LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, afirmou ontem que não será um crítico das políticas monetária e cambial do governo e avisou que não há solução de curto prazo para a valorização do real ante o dólar.
Para ele, a cotação da moeda americana deve se manter um "pouco acima" de R$ 2,00 e a saída para a indústria é aumentar a produtividade para compensar as oscilações da moeda.
"Vai ser difícil que o câmbio mude. As intervenções do BC (Banco Central) serão tópicas, pontuais e também não resolverão. O que precisava ser feito, no caso da indústria, é ganhar produtividade, aumentar a eficiência. Acho que alguns setores terão que se reinventar", disse, após encontro com o colega Guido Mantega (Fazenda).
Miguel Jorge deixou claro que não dará voz às reclamações da indústria sobre a valorização cambial e as altas taxas de juros. "Acho que, quando você está no governo, você está em um time. São 11 atacantes e um técnico. Se não segue as orientações, substitui-se", disse o ministro, usando as metáforas futebolísticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto gosta.
Para o novo ministro, as desonerações tributárias poderão ser adotadas como medidas pontuais para ajudar setores mais afetados pelo efeito do câmbio, caso do calçadista, moveleiro, de têxteis e confecções.
Miguel Jorge também descartou reduções nas alíquotas de importações para esses produtos, mas considerou possível dar uma proteção extra a esses setores aumentando os impostos pagos pelos importados ao entrar no mercado brasileiro, apesar de considerar essas saídas pontuais.
Outra alternativa citada pelo ministro para compensar o efeito do câmbio é a redução de tributos para máquinas e equipamentos, o que permitiria a modernização da indústria.
O reconhecimento dos créditos de ICMS, imposto estadual cobrado sobre a circulação de mercadorias e serviços, que os exportadores têm junto aos governos estaduais é outra medida que, na avaliação de Miguel Jorge, pode ajudar a melhorar a situação da indústria.
"Nós temos ainda algumas áreas em que [as desonerações] podem ser feitas. Agora, desoneração em si não resolve. É também uma medida pontual, tópica. Esse conjunto de providências [desonerações, aquisição de equipamentos e reconhecimento dos créditos do ICMS] é que podem fazer uma mudança substancial", afirmou Miguel Jorge.
As declarações de Jorge marcam uma mudança em relação ao discurso que prevaleceu no Ministério do Desenvolvimento durante a maior parte do primeiro mandato de Lula.
Luiz Fernando Furlan, que esteve à frente do ministério nos últimos quatro anos, foi um crítico da política cambial e defensor da desoneração tributária para alguns setores econômicos. Essa posição rendeu conflitos variados com o Ministério da Fazenda, contrário à perda de receitas.
Apenas nos últimos meses de sua gestão é que Furlan adotou o discurso de que a valorização do real ante o dólar não seria revertida com facilidade e da necessidade de as empresas se adaptarem à nova realidade.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Ministro vai discutir BNDES com Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.