São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Crise torna dividendos mais atraentes para o investidor

Remuneração não varia com o preço das ações e compensa momentos de queda na Bolsa

Normalmente, as empresas que mais pagam dividendo são as que demandam menor investimento e têm menor risco de queda de receita

DA REPORTAGEM LOCAL

Livre de impostos, o retorno da aplicação em ações via dividendos sempre foi relegado a segundo plano pelo mercado acionário brasileiro. Isso porque os ganhos potenciais com a valorização das ações na Bolsa sempre foram proporcionalmente superiores aos dividendos pagos pelas empresas.
Enquanto as companhias mais agressivas na remuneração ao acionista chegaram no máximo a dar um retorno de 12% no ano passado, papéis de baixo risco como os PN da Vale e da Petrobras tiveram ganhos de 91,4% e de 79,71% apenas com a valorização em Bolsa. Na média, o retorno repassado ao acionista vai de 3% a 4%.
Com o amadurecimento do mercado brasileiro, fica cada vez mais difícil encontrar ações baratas -e de alto potencial de valorização-, tornando o retorno via dividendo mais interessante. A crise americana e o aumento das oscilações nos mercados tornaram ainda mais atraentes os dividendos.
Normalmente, as empresas que mais pagam dividendo são as que demandam menor investimento e têm menor risco de queda de receita em seu negócio, como as concessionárias de água e esgoto e distribuidoras de energia. Por outro lado, o preço das ações desses setores já embute a expectativa total de ganhos e costuma ter pouco potencial de valorização.
"Os dividendos são defensivos em momentos de crise. Não variam com o preço das ações e compensam os momentos de queda na Bolsa", disse Roseli Machado, diretora de fundos do banco Fator.
Normalmente, os dividendos são depositados diretamente na conta corrente do detentor de uma ação. O mesmo não costuma acontecer com os cotistas de fundos de investimento. Na maioria dos casos, os dividendos acabam indo para o patrimônio do fundo, aumentando a cota do investidor.
O problema é que o dividendo é isento de IR (a empresa já pagou o tributo em sua operação). Quando vira cota de um fundo, o investidor perde essa vantagem fiscal, pois o ganho aferido está sujeito ao IR por ganho de capital.
O banco Fator lançou em dezembro do ano passado um fundo focado em dividendos. Antes do lançamento, o banco estudou pagar os dividendos diretamente na conta do cotista, como acontece com o dono de ações, mas acabou desistindo por uma limitação operacional de seu agente custodiante.
Uma das poucas gestoras brasileiras a efetuar o pagamento dos dividendos direto na conta do cotista, a GAS Investimentos tem o fundo GAS Dividendos, focado em ações do setor elétrico. Segundo Luiz Liuzzi, analista da GAS, o fundo deu retorno de 38,7% aos cotistas em 2007, sendo 8,02 pontos em dinheiro na conta. "É dinheiro na veia. A vantagem é que é livre de imposto", disse.
Para André Oda, especialista em fundos do LabFin-USP (Laboratório de Finanças), o pagamento de dividendo direto na conta do cotista não decola porque não interessa aos gestores. "O administrador do fundo ganha mais com a taxa de administração se o dividendo entrar no fundo. E a Receita Federal também recolhe mais. Se não fazem dar certo, é porque não ganham nada com isso", disse.

Campeãs do dividendo
Entre as campeãs de distribuição de dividendos no ano passado, estavam a AES Tietê e a Eletropaulo Metropolitana, que deram, ambas, retorno de 12% sobre o capital investido. Na Bolsa, as ações PN da Tietê e da Eletropaulo subiram 18,45% e 42,77%, respectivamente.
"Temos uma posição confortável de caixa, que permite uma política agressiva de distribuição de dividendos. Nosso endividamento está baixo e não há necessidade de grandes investimentos", disse Clarice Silva Assis, diretora de relações com investidores da Eletropaulo e da AES Tietê.
A Eletropaulo destinou 100,3% de seu lucro líquido aos acionistas, na forma de dividendos e de juros sobre o capital. No caso da Tietê, o pagamento foi de 101% do lucro.


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