São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Folhainvest

Analistas recomendam cautela na Bolsa

Apesar da alta de 9,2% da Bovespa nos últimos 4 pregões, especialistas alertam para incertezas na economia global nos próximos meses

Analistas afirmam que investidor deve entrar aos poucos no mercado acionário; Bolsa precisa subir 65% para voltar ao pico

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A escalada da Bolsa de Valores de São Paulo na semana passada fez muita gente começar a se questionar se o momento mais crítico do mercado ficou para trás. Apenas nos últimos quatro pregões, a Bovespa deu um salto de 9,2% e alcançou seu mais elevado nível em seis meses. No ano, os ganhos acumulados chegam a 18,22%.
Todavia, mesmo que o desempenho recente do mercado de ações possa gerar certa euforia, analistas advertem que ainda há muitas incertezas em relação ao desempenho da economia mundial pelos próximos meses. E, consequentemente, não há garantias de que a Bolsa seguirá em rota de alta.
"Começamos a entrar em um processo de recuperação, mas não é hora de ficar ansioso para investir em ações. Nesse momento, é bom entrar na Bolsa aos poucos. Vai demorar para que a Bovespa consiga retomar seus picos", diz Ricardo Almeida, professor de finanças do Ibmec-SP. "Realizações de lucros vão ocorrer pelo caminho."
Aos 44.390 pontos, a Bovespa encerrou a sexta em sua mais alta pontuação desde o dia 3 de outubro. Mas ainda está distante de sua máxima histórica, os 73.516 pontos marcados no dia 20 de maio de 2008.
A pontuação da Bolsa oscila com o sobe e desce do valor das ações. Assim, quando a pontuação atinge um recorde, significa que nunca as ações estiveram tão valorizadas.
Para retomar seu recorde, a Bolsa de Valores terá de se apreciar em mais de 65%.
"Até o começo da semana [passada], falava-se em Bolsa a 50 mil pontos no fim do ano. E não acho que o cenário tenha se alterado drasticamente. Não adianta começar a pensar que a Bolsa retornará aos 70 mil pontos", diz Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros.
Monteiro lembra que, apesar de o mercado ter se animado na semana passada com os anúncios feitos na reunião do G20, a economia mundial ainda está muito comprometida. "Tem de esperar para ver como a economia vai se comportar daqui para a frente. Devemos ter dados econômicos mais claros no fim do segundo trimestre", diz.
A oscilação das ações reflete as perspectivas para os resultados das companhias. E, com o atual cenário debilitado, não se espera que as empresas com ações em Bolsa consigam ser muito mais lucrativas do que foram no ano passado. Ao menos este primeiro semestre promete ser bastante difícil.
Um bom exemplo é o setor bancário. Em 2008, segundo levantamento da Economática, os bancos registraram lucro 2,8% menor que em 2007 -considerando 28 instituições financeiras de capital aberto. Para este ano, com juros em queda e demanda menor por crédito, as projeções indicam que os lucros dos bancos serão ainda menores.
De qualquer forma, os investidores brasileiros têm demonstrado interesse em aplicar em ações, talvez por acreditarem que os preços dos papéis já tenham caído muito. No ano, a captação dos fundos de ações está positiva em R$ 1,97 bilhão.

Humor internacional
A história recente mostra que, para a recuperação da Bovespa, é fundamental o apetite do investidor estrangeiro. Sendo a categoria que mais negocia no pregão, com 34,5% do total movimentado, os estrangeiros desempenham grande influência nas oscilações do mercado acionário doméstico.
Em março, quando o índice Ibovespa (principal referência do mercado local) registrou valorização de 7,1%, em seu melhor mês desde abril de 2008, os estrangeiros mais compraram que venderam ações no pregão. O saldo das operações da categoria no mês ficou positivo em R$ 1,44 bilhão -também o melhor resultado desde abril passado.
Se o humor internacional voltar a piorar e espantar novamente o capital externo daqui -entre junho e janeiro, o saldo das operações dos estrangeiros ficou negativo-, a Bolsa brasileira terá dificuldades para manter a recente recuperação.


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