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CURTO-CIRCUITO
Reguladoras dizem ter sofrido corte de até 50% em verbas de fiscalização e controle
Agências fazem ato contra o governo
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes de agências reguladoras (como Aneel e Anatel),
empresários e políticos protestaram contra as intervenções do governo nas diretrizes de fiscalização de setores como os de energia
elétrica e telecomunicações.
O palco do protesto foi o salão
nobre da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
As principais críticas foram
contra a suposta política do governo de esvaziar o poder das
agências, o que fortaleceria os ministérios e o Palácio do Planalto.
"Temos visto cortes de recursos
das agências. Trata-se de um torniquete para que elas tenham dificuldades de ação", disse Zevi
Kann, presidente da Abar (Associação Brasileira das Agências de
Regulação).
Desde o início do governo Lula,
ministérios como os das Comunicações e de Minas e Energia têm
interferido na autonomia das
agências. O governo reclama que
as agências autorizam reajustes
acima da inflação que atingem a
maioria da população.
Outra crítica do governo é que
as agências não conseguem acabar com monopólios, como os da
telefonia fixa local.
Kann, que representa 20 agências reguladoras federais ou estaduais, como a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), afirmou que "o ideário mínimo de
uma agência é a autonomia".
Segundo ele, o governo quer
trocar os atuais presidentes das
agências, que têm autonomia no
mandato, para pôr técnicos de
sua confiança naquelas entidades.
"O governo precisa ter um pouco de paciência. Os atuais presidentes das agências sairão no fim
dos mandatos." Para Kann, cabe
às agências regulamentar e fiscalizar os setores da economia, e aos
ministérios, formular políticas de
curto, médio e longo prazos.
Apesar disso, o presidente da
entidade disse que o clima entre
governo e agências começou a
melhorar na semana passada.
"Houve sinalização de que as
agências têm espaço mais importante para o aperfeiçoamento do
modelo regulatório."
Desinvestimento
Algumas agências, no entanto,
estariam com pouca verba. O diretor-geral da Aneel, José Mário
Abdo, disse que sua entidade sofreu um corte de quase 50% nas
verbas por parte do governo Lula.
"Íamos trabalhar em 2003 com R$
200 milhões. Mas teremos R$ 110
milhões", disse Abdo.
Ele afirmou que a redução implicará a queda da capacidade de
fiscalização da Aneel sobre as
concessionárias de energia elétrica. "O consumidor vai querer cobrar a queda na qualidade dos
serviços da Aneel. E com razão."
O presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Luiz Schymura, disse que a
estabilidade de regras permitiu
grandes investimentos nos últimos anos.
Schymura teve desentendimentos com o ministro das Comunicações, Miro Teixeira, devido à
responsabilidade pelo monopólio
na telefonia fixa local.
"A privatização de operadoras e
autorizações para novas empresas do setor, somadas aos investimentos em redes dessas companhias, atraíram R$ 100 bilhões para o país desde 1998", disse
Schymura.
O empresário Hermann Wever,
presidente do conselho da Siemens, disse que o atual clima de
desentendimento sobre o marco
regulatório afugenta investidores.
"Em 2002, a iniciativa privada e
o governo investiram o equivalente a 18% do PIB. Neste ano não
chegarão a esse percentual." Segundo ele, o Brasil precisa investir
entre 22% e 23% do seu PIB para
crescer 4% ao ano, o que garantiria aumento na taxa de emprego.
O presidente do Instituto Roberto Simonsen (entidade ligada à
Fiesp), Ruy Altenfelder, foi enfático em sua crítica contra as intervenções nas agências. "Elas foram
criadas para servirem ao Estado e
ao público, e não ao governo."
O presidente da Fiesp, Horacio
Lafer Piva, também manifestou
seu apoio às agências. "As agências são importantes para a transparência nas decisões sobre os rumos da economia."
Ele afirmou temer um colapso
na infra-estrutura do país se o governo Lula decidir criar departamentos internos nos ministérios
que se sobreponham às agências.
"Esse é um dos temores que tenho. Precisamos de simplicidade
nas decisões e respeito pelo investimento privado."
Procurado, o governo não quis
comentar os cortes orçamentários e as críticas que sofreu sobre
intervenções em agências.
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