São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Para diretor da empresa, Bolívia não pediu mudança na forma de reajuste, que segue variação do óleo

Petrobras não crê em alta no preço do gás

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Questionado sobre a declaração do presidente Lula, segundo a qual se o preço do gás subir a empresa é que arcaria com o custo -e não os consumidores-, o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, disse não acreditar em aumento no preço do gás estabelecido no contrato assinado com o governo boliviano. Ou seja, a Petrobras não sofrerá com um potencial aumento de custos.
Segundo o diretor, a Bolívia não fez um pedido formal para alterar a fórmula de reajuste do gás, que atualmente é trimestral e acompanha a variação do petróleo. "Esse assunto não está formalmente na pauta de negociações. A batalha do preço é como a Batalha de Itararé, aquela que não houve."
Hoje, o gás boliviano chega ao Brasil a US$ 30 o barril equivalente de petróleo -que está na faixa de US$ 75. O país importa 26 milhões de metros cúbicos de gás da Bolívia por dia, para um consumo nacional de cerca de 40 milhões de metros cúbicos. A Petrobras produz 25% do gás boliviano.
A Petrobras gastará neste ano US$ 1,2 bilhão com a importação de gás da Bolívia.
Para Sauer, é muito difícil alterar o contrato sem o consentimento do parceiro, embora exista a possibilidade de arbitragem internacional. "Duvido que a Bolívia vá à arbitragem, porque a chance de sucesso é pequena."
Em 2003, a Petrobras solicitou a redução de preço porque sobrava gás destinado às termelétricas, e a Bolívia rejeitou -o contrato prevê o pagamento de um volume mínimo, mesmo que não seja utilizado. Desistiu de recorrer à arbitragem porque sabia que teria dificuldades em ganhar o pleito.

Sem desabastecimento
Indagado se a Petrobras repassará um eventual aumento, Sauer reiterou que não acredita em reajuste do preço do gás.
Para o diretor da Petrobras, não há risco de desabastecimento do produto. Sauer disse que a Bolívia "jamais ameaçou cortar o suprimento" de gás, justamente porque sabe que depende da arrecadação de tributos com a venda do produto e já se beneficiou com o aumento dos impostos.
Segundo Sauer, a arrecadação de impostos com o gás aumentou em dez vezes com a nova Lei dos Hidrocarbonetos na Bolívia, que elevou a tributação sobre o produto de 18% para 50%. O aumento foi feito no ano passado, antes da eleição de Evo Morales para a Presidência da República.
A receita com a venda do gás, que era de US$ 70 milhões, passou para US$ 700 milhões em 2005, diz Sauer. Neste ano, deve superar US$ 800 milhões com as novas regras do decreto de nacionalização do gás, que aumentou a tributação para 82%, prevê o executivo.
Sauer defendeu ainda a posição do governo brasileiro de dizer que respeita a decisão "soberana" da Bolívia. "O governo ajudou a acalmar, mostrando que tem de haver equilíbrio e compreensão". Tal posição, diz, facilitou as tratativas entre a Petrobras e o governo boliviano. "Agora, o ambiente para as negociações ficou melhor."


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