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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Para diretor da empresa, Bolívia não pediu mudança na forma de reajuste, que segue variação do óleo
Petrobras não crê em alta no preço do gás
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Questionado sobre a declaração
do presidente Lula, segundo a
qual se o preço do gás subir a empresa é que arcaria com o custo
-e não os consumidores-, o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, disse não acreditar em aumento no preço do gás
estabelecido no contrato assinado
com o governo boliviano. Ou seja,
a Petrobras não sofrerá com um
potencial aumento de custos.
Segundo o diretor, a Bolívia não
fez um pedido formal para alterar
a fórmula de reajuste do gás, que
atualmente é trimestral e acompanha a variação do petróleo. "Esse assunto não está formalmente
na pauta de negociações. A batalha do preço é como a Batalha de
Itararé, aquela que não houve."
Hoje, o gás boliviano chega ao
Brasil a US$ 30 o barril equivalente de petróleo -que está na faixa
de US$ 75. O país importa 26 milhões de metros cúbicos de gás da
Bolívia por dia, para um consumo
nacional de cerca de 40 milhões
de metros cúbicos. A Petrobras
produz 25% do gás boliviano.
A Petrobras gastará neste ano
US$ 1,2 bilhão com a importação
de gás da Bolívia.
Para Sauer, é muito difícil alterar o contrato sem o consentimento do parceiro, embora exista
a possibilidade de arbitragem internacional. "Duvido que a Bolívia vá à arbitragem, porque a
chance de sucesso é pequena."
Em 2003, a Petrobras solicitou a
redução de preço porque sobrava
gás destinado às termelétricas, e a
Bolívia rejeitou -o contrato prevê o pagamento de um volume
mínimo, mesmo que não seja utilizado. Desistiu de recorrer à arbitragem porque sabia que teria dificuldades em ganhar o pleito.
Sem desabastecimento
Indagado se a Petrobras repassará um eventual aumento, Sauer
reiterou que não acredita em reajuste do preço do gás.
Para o diretor da Petrobras, não
há risco de desabastecimento do
produto. Sauer disse que a Bolívia
"jamais ameaçou cortar o suprimento" de gás, justamente porque sabe que depende da arrecadação de tributos com a venda do
produto e já se beneficiou com o
aumento dos impostos.
Segundo Sauer, a arrecadação
de impostos com o gás aumentou
em dez vezes com a nova Lei dos
Hidrocarbonetos na Bolívia, que
elevou a tributação sobre o produto de 18% para 50%. O aumento foi feito no ano passado, antes
da eleição de Evo Morales para a
Presidência da República.
A receita com a venda do gás,
que era de US$ 70 milhões, passou
para US$ 700 milhões em 2005,
diz Sauer. Neste ano, deve superar
US$ 800 milhões com as novas regras do decreto de nacionalização
do gás, que aumentou a tributação para 82%, prevê o executivo.
Sauer defendeu ainda a posição
do governo brasileiro de dizer que
respeita a decisão "soberana" da
Bolívia. "O governo ajudou a acalmar, mostrando que tem de haver
equilíbrio e compreensão". Tal
posição, diz, facilitou as tratativas
entre a Petrobras e o governo boliviano. "Agora, o ambiente para
as negociações ficou melhor."
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