São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Setor que compete com importado cria vaga

Alguns segmentos aumentaram compras no exterior e, mesmo assim, contrataram mais, caso do ramo automobilístico

Por outro lado, há áreas em que importação de insumos melhora a produção, mas reduz empregos, como no setor de material eletrônico

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário do discurso de que o aumento das importações provoca desemprego na indústria nacional, o cruzamento de dados entre a participação das importações e a geração de empregos mostra que nem sempre isso acontece.
Alguns setores aumentaram suas compras externas e, mesmo assim, abriram mais vagas nos dois últimos anos. O segmento de veículos automotores é um deles. Entre 2005 e 2006, abriu 21.058 novos postos de trabalho. No período, a encomenda de produtos internacionais na área também subiu.
A participação das importações no consumo do segmento de veículos automotores passou de 11% em 2004 para 13% em 2005, segundo indicador calculado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o chamado coeficiente de penetração das importações.
Nesse caso, montadoras e outras empresas do setor importaram peças aproveitando o dólar barato, reduziram custos e, beneficiados pelo aumento da renda e pela expansão do crédito, aumentaram a sua produção e contrataram mais.
Outros setores não só importaram insumos mais baratos como também conseguiram crescer mesmo com a concorrência de importados. É o caso do setor de alimentos, campeão na geração de empregos. De 2004 para cá, o setor também elevou suas compras internacionais. O coeficiente de penetração das importações passou de 3% para 4%.
O indicador mede a participação das importações no consumo doméstico, o que contribui para identificar movimentos de substituição de produtos nacionais por importados.
No setor de vestuário, responsável pela criação de 49.647 vagas entre 2005-2006, o coeficiente também apresentou variação. Em 2004, a participação das importações situava-se em 3%. Subiu para 4% em 2005, passando para 6% no ano passado. A indústria têxtil, porém, sofreu no período, cortando mais vagas do que abrindo.
Os outros três setores em que o aumento das importações não impediu a forte expansão do emprego são: produtos de metal; borracha e plástico; e minerais não-metálicos (veja quadro na pág. B4).
Na análise de especialistas, o aumento das importações permite um incremento na produção de alguns setores, gerando maior necessidade por mão-de-obra. Em outros, porém, esse aumento de compras de insumos no exterior aumenta a produção, mas reduz vagas.
Um exemplo é o setor de material eletrônico e de comunicações. Em 2006, o segmento cortou 1.560 postos de trabalho. Já o seu coeficiente de penetração de importações pulou de 45% para 51% entre 2005 e o ano passado.
No setor de eletrodomésticos esse fenômeno também acontece. O professor Fábio Dória Scatolin, da Universidade Federal do Paraná, lembra que uma indústria do Estado importa peças da China e basicamente acrescenta sua marca para vender o produto no país.

Emergentes
Estudo do BNDES indica que a participação das importações no Brasil ainda é baixa, situando-se em 5,5% na média de todos os setores econômicos. Outros países emergentes, como a Coréia do Sul e o México, têm coeficientes de penetração superiores a 20%. No caso do país asiático, o percentual é de 25,3%. No México, de 21,6%.
O dado é usado para mostrar que a economia brasileira ainda é relativamente fechada em comparação com outras. Quando se analisa somente o coeficiente da indústria brasileira, no entanto, o indicador sobe para 19%, aproximando-se de países com a Coréia.
(VALDO CRUZ e JULIANNA SOFIA)

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