São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O início do fim de uma maldição


Estudo mapeia importância e meios atualizados da ação do Estado na criação de novos negócios de exportação

A AÇÃO DO GOVERNO a fim de desenvolver setores econômicos vinha sendo considerada praga mortal pelo menos nos últimos 15 anos do debate econômico brasileiro. O primitivismo do debate e a privatização de políticas públicas facilitaram a associação entre a ação de governo e a peste da ineficiência.
O passadismo desenvolvimentista da esquerda, de resto ainda adepta de inflacionismos disfarçados e do gasto público excessivo, desmoralizou a idéia de ação do Estado.
Na contramão, havia (há) uma onda de novos economistas "idiot savants", alguns até muito bons especialistas, mas muito ignorantes de contextos, cultura, história e política. São os adeptos da idéia quase sempre fracassada de que qualquer mercado desobstruído se encarrega, sem mais, de encontrar as melhores opções para o emprego do capital.
O choque dessas duas bobagens azeitou a inércia político-econômica. Mas há gente a pensar o que pode ser feito do desenvolvimento em países periféricos ou, para ser "economicamente correto", em países com muitas "falhas de mercado".
Regis Bonelli e Armando Castelar Pinheiro acabam de publicar ótimo estudo de três casos de sucesso exportador, ou de "descoberta de exportação" ("Novas Atividades Exportadoras no Brasil", em inglês em www.ipea.gov.br, seção de Publicações, Texto para Discussão nš 1269a). Os economistas baseiam-se em modelo de desenvolvimento de Ricardo Hausmann e Dani Rodrik, este um economista que se ocupa em desmontar chavões liberalóides e pensar em contextos (seu próximo livro diz algo sobre sua atitude: "Uma Teoria Econômica, Várias Receitas". Estreou seu blog semana passada: rodrik.typepad.com).
Bonelli e Pinheiro avaliam os casos de aviões (Embraer), celulares (Motorola) e carne suína (Sadia e Perdigão). Refletem sobre como, sob condições de competição e abertura comercial, novos setores econômicos podem surgir, ter sucesso na exportação e como governos podem azeitar o processo.
Numa síntese extrema: governos podem reduzir dificuldades oriundas do subdesenvolvimento do mercado financeiro, da logística e da burocracia. Podem auxiliar a inovação científica e tecnológica, a promoção de marcas, o esclarecimento de mercados estranhos para o exportador e reduzir o custo de financiamento das vendas. Isto é, reduzir incertezas, custos iniciais e favorecer ganhos de escala para novos setores. Largadas, é improvável que as empresas invistam na descoberta de novos negócios de exportação.
A última grande renovação da pauta exportadora brasileira ocorreu no anos 70/80, com apoio maciço do Estado, embora ineficiente e nada sujeito a controle democrático.
O presente estudo indica que, afora pressupostos macro e microeconômicos elementares, subsídios (via BNDES ou não), grosso investimento público em ciência e promoção comercial agressiva e técnica têm seu papel. Dados "sinais" do mercado, o Estado pode "escolher" setores, desde que provisoriamente e com contrapartida de eficiência.
O que não dá certo é combinar o surto liberalóide a primitivismos como desordem fiscal e regulatória, tapando buracos com impostos crescentes e fechamento do comércio.

vinit@uol.com.br


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