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VINICIUS TORRES FREIRE
O início do fim de uma maldição
Estudo mapeia importância e meios atualizados da ação do Estado na criação de novos negócios de exportação
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A AÇÃO DO GOVERNO a fim de desenvolver setores econômicos vinha sendo considerada
praga mortal pelo menos nos últimos 15 anos do debate econômico
brasileiro. O primitivismo do debate
e a privatização de políticas públicas
facilitaram a associação entre a ação
de governo e a peste da ineficiência.
O passadismo desenvolvimentista
da esquerda, de resto ainda adepta
de inflacionismos disfarçados e do
gasto público excessivo, desmoralizou a idéia de ação do Estado.
Na contramão, havia (há) uma onda de novos economistas "idiot savants", alguns até muito bons especialistas, mas muito ignorantes de
contextos, cultura, história e política. São os adeptos da idéia quase
sempre fracassada de que qualquer
mercado desobstruído se encarrega,
sem mais, de encontrar as melhores
opções para o emprego do capital.
O choque dessas duas bobagens
azeitou a inércia político-econômica. Mas há gente a pensar o que pode
ser feito do desenvolvimento em
países periféricos ou, para ser "economicamente correto", em países
com muitas "falhas de mercado".
Regis Bonelli e Armando Castelar
Pinheiro acabam de publicar ótimo
estudo de três casos de sucesso exportador, ou de "descoberta de exportação" ("Novas Atividades Exportadoras no Brasil", em inglês em
www.ipea.gov.br, seção de Publicações, Texto para Discussão nš
1269a). Os economistas baseiam-se
em modelo de desenvolvimento de
Ricardo Hausmann e Dani Rodrik,
este um economista que se ocupa
em desmontar chavões liberalóides
e pensar em contextos (seu próximo
livro diz algo sobre sua atitude:
"Uma Teoria Econômica, Várias Receitas". Estreou seu blog semana
passada: rodrik.typepad.com).
Bonelli e Pinheiro avaliam os casos de aviões (Embraer), celulares
(Motorola) e carne suína (Sadia e
Perdigão). Refletem sobre como,
sob condições de competição e abertura comercial, novos setores econômicos podem surgir, ter sucesso
na exportação e como governos podem azeitar o processo.
Numa síntese extrema: governos
podem reduzir dificuldades oriundas do subdesenvolvimento do mercado financeiro, da logística e da burocracia. Podem auxiliar a inovação
científica e tecnológica, a promoção
de marcas, o esclarecimento de mercados estranhos para o exportador e
reduzir o custo de financiamento
das vendas. Isto é, reduzir incertezas, custos iniciais e favorecer ganhos de escala para novos setores.
Largadas, é improvável que as empresas invistam na descoberta de
novos negócios de exportação.
A última grande renovação da
pauta exportadora brasileira ocorreu no anos 70/80, com apoio maciço do Estado, embora ineficiente e
nada sujeito a controle democrático.
O presente estudo indica que, afora
pressupostos macro e microeconômicos elementares, subsídios (via
BNDES ou não), grosso investimento público em ciência e promoção
comercial agressiva e técnica têm
seu papel. Dados "sinais" do mercado, o Estado pode "escolher" setores, desde que provisoriamente e
com contrapartida de eficiência.
O que não dá certo é combinar o
surto liberalóide a primitivismos como desordem fiscal e regulatória, tapando buracos com impostos crescentes e fechamento do comércio.
vinit@uol.com.br
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