São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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Lula compara o Brasil a um "trabalhador comportado"

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou ontem o Brasil a um "trabalhador comportado" ao falar para famílias beneficiadas com casas populares, em Teresina (PI), sobre o grau de investimento concedido ao país na semana passada pela agência Standard & Poor's.
"Imaginemos dois trabalhadores. Os dois ganham R$ 1.000. Mas um é homem comportado, cuida da família, paga seu aluguel, não tem vícios, não perde dinheiro em jogo. Todo mês senta com a mulher e discute o que tem que pagar, discute se pode guardar alguma coisa e vai junto com a mulher fazer compra. Esse é o "investiment grade" [grau de investimento]. O outro recebe o dinheiro e torra tudo na mesa de jogo, ou bebe demais, ou gasta demais, ou tem uma mulher que, se ele ganha R$ 1.000, gasta R$ 2.000, e ele está quebrado. Então, era assim o Brasil. O Brasil estava quebrado, não tinha credibilidade", afirmou.
Lula voltou a dizer que "não é possível consertar tudo em quatro, oito ou dez anos", no que foi seguido de um coro do público, que gritou: "Um, dois, três, Lula outra vez".
Ele, porém, disse por duas vezes que faltam dois anos e oito meses para acabar seu mandato e que ainda dá para fazer muita coisa. "Se a coisa continuar do jeito que está, podem ficar certos de uma coisa, ninguém segura este país chamado Brasil, ninguém segura, ninguém segura", disse, retomando um jargão difundido durante o regime militar (1964-1985).
Lula também usou metáforas futebolísticas para falar das perspectivas do país. "A gente pode fazer muito mais. Todos nós aprendemos no primeiro mandato. No segundo mandato, é fazer como o Flamengo fez com o Botafogo, como o Internacional fez com o Juventude. Só não posso falar do Corinthians, que está capengando." Flamengo e Inter foram campeões estaduais anteontem.
Para Lula, o aumento do preço dos alimentos, anunciado internacionalmente como uma crise, nem sequer é ruim. "Esse é um problema bom. Porque os chineses estão comendo mais, os indianos estão comendo mais, o povo pobre brasileiro está comendo mais, a América Latina está comendo mais, os africanos estão comendo mais. Se falta alimento, ótimo, vamos produzir mais alimentos."
Assim como esse grupo de manifestantes não pôde entrar, nos outros eventos a segurança da Presidência tentava impedir a entrada de cartazes na platéia. Um deles, que reclamava de falta de médicos na periferia, foi visto por Lula, que pediu para que o entregassem a ele.

Dólar
Em entrevista à TV Cultura, ontem à noite, Lula pregou uma "euforia comedida" com o grau de investimento, mas ironizou a preocupação com um possível maior ingresso de dólares no país.
"Primeiro, eu quero que entrem todos os dólares do mundo dentro do Brasil. Segundo, eu acho que nós temos que ter mecanismos para não misturar o dólar que entra para o setor produtivo... com o dólar que vem para a especulação", disse Lula.
O presidente citou como exemplo de mecanismo de contenção do capital especulativo a taxação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para estrangeiros em 1,5%, introduzida em março.
"Se for preciso, cria-se mais. O Conselho Monetário saberá o momento adequado para discutir isso."


Com a Reuters


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