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Lula compara o Brasil a um "trabalhador comportado"
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou ontem o
Brasil a um "trabalhador comportado" ao falar para famílias
beneficiadas com casas populares, em Teresina (PI), sobre o
grau de investimento concedido ao país na semana passada
pela agência Standard & Poor's.
"Imaginemos dois trabalhadores. Os dois ganham R$
1.000. Mas um é homem comportado, cuida da família, paga
seu aluguel, não tem vícios, não
perde dinheiro em jogo. Todo
mês senta com a mulher e discute o que tem que pagar, discute se pode guardar alguma
coisa e vai junto com a mulher
fazer compra. Esse é o "investiment grade" [grau de investimento]. O outro recebe o dinheiro e torra tudo na mesa de
jogo, ou bebe demais, ou gasta
demais, ou tem uma mulher
que, se ele ganha R$ 1.000, gasta R$ 2.000, e ele está quebrado. Então, era assim o Brasil. O
Brasil estava quebrado, não tinha credibilidade", afirmou.
Lula voltou a dizer que "não é
possível consertar tudo em
quatro, oito ou dez anos", no
que foi seguido de um coro do
público, que gritou: "Um, dois,
três, Lula outra vez".
Ele, porém, disse por duas
vezes que faltam dois anos e oito meses para acabar seu mandato e que ainda dá para fazer
muita coisa. "Se a coisa continuar do jeito que está, podem
ficar certos de uma coisa, ninguém segura este país chamado
Brasil, ninguém segura, ninguém segura", disse, retomando um jargão difundido durante o regime militar (1964-1985).
Lula também usou metáforas
futebolísticas para falar das
perspectivas do país. "A gente
pode fazer muito mais. Todos
nós aprendemos no primeiro
mandato. No segundo mandato, é fazer como o Flamengo fez
com o Botafogo, como o Internacional fez com o Juventude.
Só não posso falar do Corinthians, que está capengando."
Flamengo e Inter foram campeões estaduais anteontem.
Para Lula, o aumento do preço dos alimentos, anunciado
internacionalmente como uma
crise, nem sequer é ruim. "Esse
é um problema bom. Porque os
chineses estão comendo mais,
os indianos estão comendo
mais, o povo pobre brasileiro
está comendo mais, a América
Latina está comendo mais, os
africanos estão comendo mais.
Se falta alimento, ótimo, vamos
produzir mais alimentos."
Assim como esse grupo de
manifestantes não pôde entrar,
nos outros eventos a segurança
da Presidência tentava impedir
a entrada de cartazes na platéia. Um deles, que reclamava
de falta de médicos na periferia,
foi visto por Lula, que pediu para que o entregassem a ele.
Dólar
Em entrevista à TV Cultura,
ontem à noite, Lula pregou
uma "euforia comedida" com o
grau de investimento, mas ironizou a preocupação com um
possível maior ingresso de dólares no país.
"Primeiro, eu quero que entrem todos os dólares do mundo dentro do Brasil. Segundo,
eu acho que nós temos que ter
mecanismos para não misturar
o dólar que entra para o setor
produtivo... com o dólar que
vem para a especulação", disse
Lula.
O presidente citou como
exemplo de mecanismo de contenção do capital especulativo a
taxação do IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) para
estrangeiros em 1,5%, introduzida em março.
"Se for preciso, cria-se mais.
O Conselho Monetário saberá
o momento adequado para discutir isso."
Com a Reuters
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