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BENJAMIN STEINBRUCH
Grau de investimento
Cabe ao país tirar proveito
dessa exposição positiva e aplicar da melhor forma os
recursos que virão agora
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A ASCENSÃO do Brasil ao grau de
investimento na classificação
da Standard & Poor's foi comemorada pelo mercado e pelo governo na semana passada. Nada
mais justo. O país esperou por esse
reconhecimento durante muitos
anos. Era difícil entender por que alguns países que deram calote internacional muito recentemente podiam ser considerados mais confiáveis que o Brasil.
As comemorações, portanto, são
apropriadas. Mas o grau de investimento é só o começo do campeonato, não a consagração final. Os próprios economistas -e não o presidente Lula, como de costume- lançaram mão da linguagem futebolística para explicar que isso significa
apenas a ascensão do Brasil à primeira divisão das nações economicamente elegíveis para disputar fundos internacionais contados em trilhões de dólares.
Esse acesso à divisão de elite traz
um problema imediato e uma oportunidade talvez nunca antes oferecida ao país no cenário mundial.
O problema é que o provável ingresso maior de capital estrangeiro
especulativo tenderá a valorizar ainda mais o real em relação ao dólar,
com resultados negativos para as exportações, cujo volume já está em
queda -o valor das vendas externas
ainda cresceu 12,6% no primeiro
quadrimestre, mas em razão dos aumentos de preços das commodities.
Há remédio para isso. A taxa de juros interna brasileira, principalmente após o "investment grade",
não precisa ser tão superior às internacionais e seu corte certamente reduziria o fluxo de capital especulativo, com melhorias para o câmbio e
para as exportações. Mas essa é uma
conversa antiga, que ainda vai provocar muito debate.
Importante agora é destacar a
oportunidade que se abre para os investimentos de longo prazo, ainda
que não se deva esperar, como já foi
dito por vários analistas, uma "enxurrada imediata de recursos". O
grau de investimento não ajudará
apenas o governo a vender no mercado seus títulos soberanos. Trará
benefício também para as empresas
brasileiras, que passarão a ter acesso
a uma nova fonte de recursos a custos mais baixos do que os atuais desde que tenham, naturalmente, uma
boa avaliação própria.
Isso tudo é muito bom, mas vai expor uma carência nacional: a falta de
bons projetos. A disputa de investimentos no grupo de elite dos países
confiáveis exigirá empreendedorismo e agilidade tanto no governo como no setor privado. Infelizmente,
há poucos avanços nessa área. Obras
que poderiam ser realizadas em dois
anos levam quatro ou cinco por conta de entraves ambientais ou de natureza puramente burocrática. As
parcerias público-privadas, nas
quais se depositava tanta esperança,
praticamente não saíram do papel.
A promoção brasileira abre melhores perspectivas para captações
de recursos para obras de infra-estrutura, nosso principal gargalo para
o crescimento. Mas o grau de investimento não fará milagres se o país
mantiver a lentidão no desenvolvimento de projetos de energia, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos e
outras obras públicas básicas para
dar respaldo ao crescimento dos variados setores privados da economia.
Ao conceder o grau de investimento ao Brasil, a agência de risco
está apenas dizendo que o país agora
é um bom pagador de dívidas. Nada
mais que isso. Cabe ao país tirar proveito dessa exposição positiva e aplicar da melhor forma os recursos que virão agora em maior quantidade e a
custos menores. Preparar bons projetos rapidamente é essencial neste
momento.
BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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