São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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Meirelles minimiza risco de especulação

Presidente do BC diz que grau de investimento deve elevar entrada de capital de longo prazo e reduzir o especulativo

Brasil é citado como exemplo da força dos emergentes em meio à crise financeira em reunião de chefes de BCs na Basiléia

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA

A entrada de capitais no Brasil motivada pela concessão do grau de investimento ao país não ocorrerá "do dia para a noite", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que espera um aumento dos investimentos de longo prazo.
Meirelles fez o comentário após reunião de autoridades monetárias no BIS (Banco de Compensações Financeiras), em Basiléia, na qual o Brasil foi citado como exemplo da saúde das economias emergentes.
"A história mostra que, num país que atinge "investment grade", a presença do capital especulativo tende a diminuir. E aumentam os investimentos de longo prazo", disse Meirelles. "O chamado "smart money", aquele que busca um lucro rápido, tende a diminuir, e aqueles fundos de longo prazo, o "real money", tendem a aumentar gradualmente."
Não deve ocorrer, afirmou, uma súbita enxurrada de capitais no país, seja de curto ou longo prazo. "É um movimento paulatino, não ocorre necessariamente do dia para a noite", disse o presidente do BC, explicando que alguns fundos de pensão, por exemplo, precisarão esperar pelo aval de uma segunda agência de rating, além da Standard & Poor's.
Meirelles disse que não cabe a ele, como autoridade monetária, pensar em restrições à entrada de certos tipos de capitais. Mas considera "normal" o debate em torno dos capitais que o Brasil vai atrair. "Compete a cada analista fazer sua aposta, acertar ou errar. E pagar o preço por isso", disse.
Na entrevista coletiva em que resumiu as preocupações dos banqueiros sobre a economia mundial, o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Jean-Claude Trichet, fez um elogio indireto ao Brasil. Indagado sobre o grau de investimento brasileiro, Trichet disse que é uma "ilustração" da resistência dos mercados emergentes em meio às turbulências que atingiram os países ricos.
Meirelles afirmou que a economia brasileira "está saudável e com dinâmica forte", mas que não convém facilitar. Disse que o BC "está atento" às pressões inflacionárias e que os riscos ainda estão presentes na economia mundial. Por isso, é preciso ter cuidado para não confundir o "desejo" de ficar imune à crise e a "realidade".
Diante dos indícios de que a recessão nos EUA será "moderada", o BC mantém a meta de crescimento em 4,8% para 2008, disse Meirelles.
Sobre a crise dos alimentos, Meirelles disse que o principal motivo é o aumento da demanda provocada pelo avanço dos países emergentes, como o Brasil. Trichet repetiu o diagnóstico, mas lembrou que a especulação também influi, embora não seja o fator principal.
Trichet deu ainda um conselho aos países que acumularam superávit, como o Brasil e principalmente países asiáticos e petroleiros. "Para o bem da economia global, seria apropriado que as economias com grande superávit pudessem, de forma simétrica, diminuir um pouco seu superávit em conta corrente, o que permitiria que a economia global absorva essa correção de trajetória da melhor forma possível."


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