São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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Bancos ampliam ganhos com câmbio, apesar de maior instabilidade nas taxas

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise descapitalizou os bancos e secou as operações de crédito, mas as instituições financeiras de presença global continuaram ganhando com o câmbio de moedas, um negócio que vai bem tanto com a economia crescendo quanto em crise.
Com a turbulência, aumentaram as oscilações e as chances de ganhar -ou perder- dinheiro com a troca de moedas. A saída de bancos importantes (ABN Amro, Bear Stearns, Lehman Brothers, Merrill Lynch etc.) do negócio também diminuiu a concorrência e tornou as operações concentradas nos grandes bancos globais, que passaram a cobrar mais.
No Brasil, as principais instituições ampliaram seus lucros com o câmbio mesmo com a retração nos fluxos comerciais e a parada súbita da entrada de capital estrangeiro em setembro.
Segundo o Citibank, líder no câmbio brasileiro, o fluxo comercial recuou 30%, e o financeiro, mais de 50%, após a quebra do Lehman Brothers. Até então, o mercado crescia entre 10% e 15% em relação a 2007.
A chave dos ganhos foi a instabilidade cambial, que levou o dólar a subir até 60% -de R$ 1,56 em 26 de agosto até R$ 2,50 em 5 de dezembro.
A concorrência menor justificou um aumento de mais de 30% nos "spreads", a diferença entre as taxas de câmbio de compra e venda de moeda.
Segundo maior no câmbio brasileiro, o Bradesco viu seu resultado com troca de moedas saltar de R$ 377,5 milhões para R$ 1,016 bilhão de 2007 para 2008, incluindo o impacto da variação cambial. No Itaú, somou R$ 1,027 bilhão no ano passado, após resultado de R$ 147 milhões no ano anterior.
No Banco do Brasil, terceiro maior, os ganhos foram mais modestos -saltaram de R$ 396,4 milhões para R$ 464,15 milhões. O Citibank, que já teve ganho com câmbio de R$ 956 milhões em 2007, apurou resultado de R$ 638 milhões em 2008. Sem contar o Banco Real, o câmbio rendeu R$ 1,081 bilhão ao Santander, após perdas de R$ 47,3 milhões em 2007.

Repatriação
Segundo Pedro Lorenzini, diretor-executivo de Tesouraria do Citibank, o mercado de câmbio se sustentou após a crise com a repatriação de dinheiro dos fundos de hedge e as remessas de dinheiro das empresas para suas matrizes.
"Teve aumento de "spread" porque houve uma concentração de grandes players, presença global e capacidade de fazer grandes tíquetes. Os que tinham uma atuação menor sumiram. Tivemos dias com oscilação de mais de 5%. Dada a volatilidade, você pede um pouco mais de retorno. Se fizer uma execução ruim em um tíquete de US$ 100 milhões, pode perder US$ 5 milhões. É 5% do volume. E vivemos vários dias assim em outubro e novembro."
O câmbio brasileiro girava US$ 99,95 bilhões em dezembro, pouco menos do que os US$ 103,76 bilhões de dezembro de 2007, período de euforia, segundo o Banco Central.
No mundo, estudo da Greenwich Associates aponta aumento médio de 15% nos volumes negociados de 2007 para 2008. Para a consultoria, a crise fez as empresas e os investidores ficarem mais seletivos, priorizando as instituições mais fortes. "O câmbio de moedas foi uma das poucas fontes de lucro para os bancos globais no ano passado", disse a Greenwich.
Para 2009, a expectativa é que a taxa de câmbio fique um pouco mais estável, porém, com oportunidades menores de ganho com risco e volatilidade. Os bancos sentem uma volta lenta do fluxos comerciais e financeiros nas últimas semanas. Desde o fim de março, os "spreads" no câmbio começaram a recuar, mas ainda se encontram 10% acima dos cobrados antes de setembro.
"O ritmo de volatilidade do câmbio caiu, mas continua alto. Esse mercado ainda chacoalha quase todo dia e muito mais do que em 2007", disse Carlos Rocha, diretor do JPMorgan.


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