São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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BC tenta conter efeito manada no câmbio

Autoridade monetária teme novos estragos da instabilidade cambial na contabilidade das empresas brasileiras

Mercado, que antes acreditava na valorização do dólar, passou a apostar na queda da moeda americana diante do real


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Num cenário internacional ainda incerto, o Banco Central quer evitar que apostas numa valorização excessiva do real diante do dólar neste momento se torne uma fonte potencial de problemas no futuro.
Depois dos prejuízos causados em várias empresas que apostaram na alta da moeda brasileira no início de 2008, a equipe econômica teme que uma nova alta brusca do dólar em razão de possíveis notícias ruins no exterior espalhe mais prejuízos no Brasil.
Segundo a Folha apurou, a forte atuação do BC no mercado de câmbio ontem teve dois objetivos. O primeiro foi tentar conter um efeito manada no mercado, que se traduz em aumento das apostas a favor do real e que poderia fazer a cotação cair abaixo do R$ 2,10, alimentando ainda mais o movimento de baixa do dólar.
O outro foi aproveitar a oferta de dólares e, com a compra de cerca de US$ 3,4 bilhões, neutralizar contratos de venda no valor de US$ 3,3 bilhões que o BC assumiu no auge da crise internacional e que vencerão no início de junho.
Segundo o comunicado de ontem, o BC "decidiu fazer leilão de swap reverso [contratos especiais de câmbio, veja quadro nesta página] agindo em função de alterações nas condições de fluxo prevalecentes no mercado nas última semanas".
Com isso, os diretores aproveitaram o excesso de oferta de dólar e acabaram com um ruído que vinha crescendo no mercado: o BC renovaria ou liquidaria os contratos de venda de dólar feitos durante a crise?
No comunicado, o BC também reafirmou que "não trabalha com piso, teto ou qualquer meta para taxa de câmbio" e que o regime cambial no país é flutuante. Porém, ao pegar o mercado de surpresa, o BC mostrou que uma nova onda de aposta na valorização do real num cenário externo ainda duvidoso fez acender a luz amarela na área econômica.
Há várias semanas, o real tem se valorizado. Em abril, o dólar teve depreciação de 5,91% diante do real. No ano, a queda acumulada está em 7,97%. E, por mais que o BC saiba que não irá reverter a tendência, sua atuação ajudou, ao menos, a conter os excessos.
Depois de meses de crise, as apostas de desvalorização do real começaram a virar. A cotação, que estava no patamar de R$ 2,3, chegou a R$ 2,18 na semana passada e caiu a R$ 2,13 anteontem até fechar ontem em R$ 2,148 após a ação do BC.
Os sinais de que a crise externa pode estar finalmente arrefecendo, o que favorece o fluxo de dólar para o Brasil, estimula o movimento pró-real. Romper a barreira simbólica de R$ 2,10 poderia estimular ainda mais apostas de uma valorização maior do real.


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