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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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ESTAGNAÇÃO

Instituto baixa de 1,8% para 1,6% estimativa de avanço do PIB; emprego, renda e investimentos devem piorar

Ipea reduz previsão de crescimento no ano

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, reviu sua previsão de crescimento da economia brasileira neste ano de 1,8% em março para 1,6%, de acordo com seu "Boletim de Conjuntura", divulgado ontem. Os comportamentos do emprego e da renda e dos investimentos foram ajustados para pior.
Segundo o economista Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do órgão, a revisão da projeção do PIB (Produto Interno Bruto) foi determinada pelo desempenho do trimestre em curso (abril a junho), que deverá ser inferior ao esperado, especialmente por causa do comportamento da indústria. Para 2004, o Ipea reviu o crescimento econômico para cima -de 2,8% na previsão de março para 3% agora.
No trimestre de abril a junho, o Ipea prevê que a economia crescerá apenas 0,7% (previa 1,3% em março) em relação ao mesmo trimestre do ano passado e que encolherá 0,8% em relação ao trimestre anterior (mais 0,1% em março), a segunda queda seguida nessa forma de comparação.

Recessão, não
Levy disse que não dá para dizer que duas quedas seguidas irão configurar recessão, como é classicamente considerado, porque a queda do primeiro trimestre de 2003 em relação ao último de 2002, já constatada (0,1%), é muito pequena e poderá ser corrigida posteriormente.
"Se você disser qual é a diferença de menos 0,1% para zero ou para mais 0,1%", ponderou.
O Ipea prevê que no segundo semestre deste ano haverá redução gradual da taxa de juros e um relaxamento do crédito na economia, estimulando o consumo das famílias que, ainda assim, crescerá apenas 0,2% no ano.
Mesmo com esse baixo incremento, segundo Levy, o consumo será o principal suporte do crescimento econômico na segunda metade do ano (crescerá 1,4% no terceiro trimestre e 3,3% no quarto sobre o mesmo período do ano anterior), embora no conjunto de 2003 as exportações ainda devam ser o principal fator de crescimento do PIB.

Maior consumo
"Programas como o Fome Zero [renda mínima] vão ter alguma influência no segundo semestre, aumentando as transferências governamentais, mas o crescimento do consumo virá mais do relaxamento das condições de crédito e da redução da taxa de juros", afirmou Levy.
Mesmo apontando para uma melhoria no consumo, o Ipea está prevendo mais desemprego e menos renda neste ano. Os números usados no boletim ainda são baseados na metodologia de cálculo antiga do IBGE, modificada em dezembro do ano passado. Segundo Levy, o uso da metodologia antiga é para permitir comparabilidade com o passado.
Pelo método antigo, o IBGE prevê que o desemprego fechará 2003 em 7,5% (7,2% em março) e que a renda cairá 2,2% (em março a previsão era de aumento de 1,2%). Pelo método atual do IBGE, o desemprego mensal está em 12,4% (dado de abril).

Inflação e juros
Embora considere que os indicadores de tendência de inflação permanecem "relativamente elevados", o Ipea informa que a valorização do real em relação ao dólar norte-americano ocorrida nos últimos meses tende a favorecer a queda mais rápida da inflação.
O órgão reviu sua previsão do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para este ano de 12,6% para 11,5%. Com a inflação caindo mais depressa, o Ipea avalia que a taxa de juros básica (Selic) poderá também ser reduzida mais rapidamente.
No boletim deste mês, a estimativa da taxa de juros média para este ano é de 24,6% -em março, era de 25,2%. O Ipea prevê também que na média dos últimos três meses deste ano os juros básicos estarão em 22,5% -em março, a previsão era de 23,5%.
A expectativa de desempenho dos investimentos feita pelo Ipea é que piorou sensivelmente. Em março, o órgão previa que os investimentos cresceriam 1,5% neste ano em relação a 2002. Agora, a estimativa é que cresçam apenas 0,7%. Para 2004, a estimativa de crescimento foi revista para menos -de 5,1% para 3,6%.


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