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ESTAGNAÇÃO
Números mostram que vendas caíram 5,28% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado
CNI vê a indústria parada e culpa juros
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sufocada por juros altos e estagnação do consumo interno, a indústria vendeu 5,28% menos em
abril de 2003 em relação ao mesmo período de 2002, segundo a
CNI (Confederação Nacional da
Indústria). Trata-se da maior queda desde maio do ano passado
(-7,31%) em igual tipo de comparação. Em março, as vendas haviam crescido 0,06%.
Segundo Flávio Castello Branco, economista da CNI, o resultado "mostra claramente o impacto
da política monetária restritiva"
-ou seja, de juros altos. Ao falar
das vendas, afirmou que a retração é ainda mais expressiva porque a base de comparação é fraca.
No início de 2002, o setor ainda
sofria os efeitos do racionamento
de energia.
Outro sinal de piora do nível de
atividade econômica é a redução
da utilização da capacidade instalada das fábricas. O indicador ficou em 79,7% em abril -havia sido de 80,8% em abril de 2002.
A principal causa para a retração nas vendas, disse Castello
Branco, é o fato de o consumo interno estar parado. Dois são os
motivos da estagnação: a queda
do rendimento, que perdura há
mais de dois anos, e a restrição e o
encarecimento do crédito, reflexo
do juro elevado.
Renda
Em abril, a renda do trabalhador industrial caiu: o salário líquido real (descontada a inflação) ficou 7,72% menor do que no mesmo período de 2002.
Para o economista Luís Fernando Cezario, o efeito retardado dos
aumentos de juros no final do ano
passado e no início deste ano começou a ser sentido com mais
força em abril. Com o aperto no
crédito, tanto os investimentos
dos industriais como as vendas financiadas ficam comprometidas.
Para Castello Branco, "há uma
contínua trajetória de desaceleração da economia". Prova disso é
que os resultados acumulados no
ano estão cedendo. Até março, as
vendas somavam alta de 4,62%. O
percentual acumulado até abril ficou em 1,96%.
Gastos
Ao comentar a retração das vendas, Cezario afirmou: "O consumidor não tem renda e acaba cortando gastos. Além disso, os juros
altos e o desemprego criam um
receio de contrair financiamentos
para a compra de bens".
Segundo Castello Branco, as exportações e o agronegócio, que vinham sustentando a indústria,
não têm conseguido compensar a
restrição cada vez maior do consumo das famílias, que representa
60% do PIB.
Odair Abate, economista-chefe
do Lloyds TSB, concorda: "As
fontes de crescimento da indústria estão se esgotando".
Tanto Castello Branco como
Abate afirmam que uma recuperação do setor dependerá da intensidade da queda da taxa de juro -hoje em 26,5% ao ano. A reação, dizem, deve começar em
agosto -isso se a Selic for reduzida já neste mês. Mas só será mais
firme no último trimestre do ano.
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