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'FASE DOIS'
Equipe econômica e bancos avaliam que decisão teria impacto negativo sobre esforço para controlar a inflação
Fazenda descarta baixar juros via Caixa e BB
MARCIO AITH
EDITOR DE DINHEIRO
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Fazenda, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica
Federal discordam da idéia de reduzir os juros dos bancos oficiais
para forçar as instituições privadas a baixarem as taxas cobradas
de empresas e de pessoas físicas.
Segundo a Folha apurou, membros da equipe econômica e dos
dois bancos avaliam que a idéia
teria impacto negativo sobre os
esforços desenvolvidos na administração pública para conter a inflação, manter a boa saúde financeira das instituições financeiras
oficiais e garantir o ajuste fiscal.
Além disso, consideram que as
taxas atualmente praticadas pelo
Banco do Brasil e pela Caixa já estão no limite do que poderiam estar e abaixo dos juros médios de
mercado.
A idéia de reduzir os juros dos
bancos oficiais para forçar a competição entre as instituições privadas foi sugerida na terça-feira pelo
próprio presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em encontro com
empresários em São Paulo.
No mesmo dia, o ministro do
Planejamento, Guido Mantega, a
expôs publicamente, dizendo que
o governo aumentaria a competição no setor por meio dos bancos
públicos. Segundo Mantega, a estratégia serviria para reduzir os
juros dos bancos privados, comparados por ele a "um disparate,
um assalto à mão armada".
O temor específico da Fazenda,
segundo apurou a Folha, é que, ao
cobrar juros menores, o Banco do
Brasil e a Caixa obteriam lucros
menores. Com isso, repassariam
menos dividendos ao Tesouro
Nacional, único acionista da Caixa e principal acionista do BB.
Neste ano, o BB deve repassar
dividendos de R$ 491,5 milhões
ao Tesouro. A Caixa, de R$ 619
milhões (esses dividendos referem-se aos lucros de 2002).
Uma segunda preocupação da
Fazenda tem relação com o controle da inflação. A equipe estima
que o microcrédito e a expansão
das cooperativas, projetos em andamento do governo e que devem
ser anunciados nos próximos
dias, são os únicos meios seguros
de expandir o financiamento à
população sem o risco de inflação.
A equipe econômica tem a convicção de que a elevação do volume de crédito no Brasil deve ser
acompanhada da capacidade instalada da indústria e do aumento
da oferta de bens e serviços.
A Caixa e o BB têm mais um argumento. Segundo eles, o acordo
de renegociação de seus passivos,
conduzido por meio do Proef
(programa de ajuda aos bancos
federais), em 2001, os obriga a
aplicar taxas compatíveis com as
de mercado, ainda que ligeiramente mais baixas. Esse acordo
exigiu das duas instituições os
mesmos critérios internacionais
de prudência aplicados aos bancos privados.
A posição da Fazenda, do BB e
da Caixa revelam uma divisão na
equipe econômica. Para eles, Lula
foi induzido pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega, e pelo presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Carlos Lessa, a fazer uma promessa que dificilmente será cumprida.
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