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SEMENTES DA DISCÓRDIA
Produtor não aproveitou momento ideal de vender e ganho com exportação deve cair em relação ao previsto
Sojicultor e balança perdem com veto chinês
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A recusa da soja brasileira pelos
chineses provoca perdas não só
para as empresas exportadoras,
proibidas de vender para aquele
país, mas também para produtores e para a balança comercial.
Os produtores perdem porque
estão com a comercialização atrasada e deixaram de vender em
março e abril, quando a soja superou os US$ 10 por bushel (27,2
quilos) na Bolsa de Chicago. Perde também a balança comercial
do país, porque as exportações
efetuadas até abril, quando os
preços ainda estavam elevados no
mercado externo, atingiam apenas 19% das previstas para o ano.
"Demanda externa existe, mas
não existe para soja a US$ 9 por
bushel", diz Anderson Galvão, da
Céleres, de Uberlândia (MG). "O
que a China faz atualmente é adotar uma estratégia de mercado.
Ela precisa da soja, mas a quer
com preços menores."
Para ele, o Brasil vai vender a soja que tem, mas por preços inferiores. A recusa da China, a saída
dos fundos de investimento do
mercado de soja (foram para petróleo) e as perspectivas de uma
boa safra nos EUA reduziram os
preços. E, quanto mais o Brasil
atrasar a venda do produto, mais
será pressionado pela safra norte-americana, que chega ao mercado
a partir de outubro.
Galvão diz que parte dos produtores perdeu o tempo ideal de
venda. Os relatórios de acompanhamento de vendas da Céleres
indicam que 42% dos produtores
venderam a soja abaixo de US$ 8
por bushel.
Quando o produto ficou entre
US$ 8 e US$ 10, apenas 14% dos
produtores foram ao mercado para vender. Outros 10% entraram
no mercado quando o produto já
caía de US$ 10 para US$ 8. Ainda
resta um terço da soja para ser comercializada, e os preços podem
não ser muito atraentes, segundo
o analista da Céleres.
O preço interno também não
vai favorecer os produtores. Após
ter atingido R$ 52 por saca há algumas semanas, a soja já é comercializada abaixo de R$ 40.
Essa queda dos preços provoca,
ainda, uma perda de receita com
as exportações do chamado complexo soja -soja em grão, farelo e
óleo de soja. Os cálculos iniciais
da Céleres eram de receitas de
US$ 12 bilhões neste ano. Agora,
Galvão diz que as receitas devem
recuar para US$ 10,3 bilhões.
As estimativas iniciais de exportações de soja pelo Brasil eram de
22 milhões de toneladas. Até abril,
apenas 19% desse volume tinha
deixado os portos brasileiros.
As estimativas atuais já indicam
volumes entre 20 milhões e 22 milhões de toneladas. Essa perda
ocorre devido à quebra da safra,
que, estimada inicialmente em 60
milhões de toneladas, deverá recuar para 50 milhões.
Efeito EUA
O mercado de soja passará por
uma gangorra nos próximos meses, e o clima será fator determinante de preços. A safra dos EUA
começou muito bem. O plantio
está acelerado, mas na semana
passada a lavoura viveu os primeiros momentos de incerteza.
Excesso de chuvas nos dois principais Estados produtores (Iowa e
Illinois) fizeram os preços subir.
Essa indefinição de produção
nos EUA deve continuar até agosto, quando se aproxima a colheita
da safra. Uma nova quebra na safra dos EUA pode dar sustentação
aos preços, já que a relação estoque-consumo é uma das menores
das últimas décadas. Uma "safra
cheia", próxima de 80 milhões de
toneladas, vai derrubar ainda
mais os preços.
Renegociação
O cenário atual é francamente
favorável à renegociação de preços pelos chineses, diz Galvão. Há
um mês, a soja brasileira chegava
aos portos da China a quase US$
400 por tonelada. Em outubro,
com a entrada da safra norte-americana, os chineses vão conseguir colocar soja abaixo de US$
300 por tonelada em seus portos.
Essa possibilidade de ter um
produto mais barato nos próximos meses gera mais exigências
por parte dos chineses, diz Galvão. A própria indústria chinesa
quer regular a oferta de produto
no mercado interno para não derrubar ainda mais os preços. Uma
queda maior inviabiliza as margens de ganho dessas indústrias.
Para o mercado brasileiro, uma
estratégia para derrubar mais os
preços externos e enfraquecer o
poder das grandes exportadoras
que atuam no Brasil foi incluir várias "tradings" na lista das que
não podem vender à China.
Uma das envolvidas, e que não
quis se identificar, diz que é "tudo
muito estranho". A empresa está
na lista das proibidas de exportar,
mas oficialmente não recebeu comunicado nem do governo chinês nem do brasileiro.
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