São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2005

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MERCADO FINANCEIRO

Menor confiança nas economias e governos europeus faz moeda da região recuar frente ao dólar

Quedas do euro podem beneficiar Brasil

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Como a Constituição da União Européia, que recebeu um duplo "não" nos plebiscitos da França e da Holanda, o euro também vem sendo rejeitado.
O enfraquecimento da moeda européia em relação ao dólar pode ser benéfico a países como o Brasil, ainda que não aparente ser duradouro, segundo analistas.
A confiança nos governos de países que compõem o bloco e no potencial de crescimento da Zona do Euro se deteriorou nas últimas três semanas. Apesar disso, o Banco Central Europeu manteve a taxa básica de juros inalterada pelo 24º mês consecutivo.
A piora de expectativas para a Zona do Euro reforça um cenário de desvalorização da moeda única européia, que fechou a semana a R$ 1,22, sua pior cotação desde setembro do ano passado. No início deste ano, a moeda chegou a valer US$ 1,35, e era o dólar que perdia valor.
Como o que causou a depreciação anterior do dólar foram os desequilíbrios macroeconômicos (forte consumo e a alta necessidade de financiá-lo) dos Estados Unidos, e como os déficits gêmeos continuam a existir, economistas projetam a volta da queda do dólar diante do euro.
Apesar do reconhecimento dos problemas de "financiamento dos Estados Unidos, esses fatores [queda na confiança na Zona do Euro e nos governos locais] continuam a apontar para a continuidade do enfraquecimento do euro nos próximos três a seis meses", segundo relatório da equipe global de economistas do UBS Wealth Management.
Para Alexandre Lintz, economista-chefe no Brasil do banco francês BNP Paribas, o ajuste no câmbio é temporário, e deve começar a se enfraquecer já a partir de julho. Os déficits americanos contrabalançariam a pressão sobre o euro.
"Houve uma correção das expectativas, mas logo os fundamentos dos EUA serão avaliados. E há déficit, financiado pela conta capital, pela Ásia. A alta das ações atraem fluxo. O resultado tem de ser muito bom na conta capital para compensar esse déficit, que uma hora pode não ser mais sustentável", diz Lintz.
O crescente déficit em conta corrente pesa sobre os EUA e sobre o dólar. Está em mais de 6% do PIB, seu maior nível histórico.
A apreciação do dólar é positiva porque reduz a pressão inflacionária nos Estados Unidos e, por conseqüência, a necessidade do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) de ser mais agressivo na elevação dos juros.
Alterações no câmbio de moedas como euro e dólar têm impactos em toda a economia mundial por se refletirem na demanda global por commodities e nos fluxos de capital.
Com a alta da moeda dos EUA, suas exportações tendem a cair e as importações a subir. E a moeda tende a vir para um ponto de mais de equilíbrio, dizem economistas.
"Países com superávit em conta corrente, como os asiáticos e o Brasil, saem ganhando porque o fluxo vai mais para essas moedas, quando sai do dólar", diz Lintz. E o Brasil ainda têm juros de 20%, o que também estimula a entrada de capital.
Com esse diferencial de juros o cenário é muito positivo para o Brasil, afirma Paulo Tenani, do UBS. "Juros abaixo de 4% nos EUA e risco-país despencando. O mundo está indo em direção à desaceleração, o que prejudica economias mais abertas e beneficia o Brasil, mais sensível na conta capital."

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