São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Euforias e expectativas medíocres

Dados anuais sobre indústria e exportações negam otimismo doido e queixas exageradas

A INDÚSTRIA FOI mal em abril?
Foi? O dado é relevante ou "pegou mal" porque furou as estimativas do mercado? Indústria e investimentos vão tão bem assim para justificar a euforia besta que temos visto? O país mudou tanto desde que o IBGE revisou o PIB, a dívida interna ganhou "grau de investimento" e o mercado se acalmou sobre a economia dos EUA? Não. A indústria melhora desde outubro de 2006, mas muito devagar.
Ora cresce a 3,2% ao ano, contra picos de 8% de 2004 e de 6%, em 2001, antes do apagão. Na nossa era das expectativas reduzidas, também se festeja a produção de bens de capital (máquinas e instalações). A recuperação é animadora, no caso, mas o indicador é volátil (vide gráfico da direita) e já chegou a picos de 20% em 2004. Devagar com o andor.
Há queixas exageradas também. No início de 2006, parecia explodir a importação de máquinas e de insumos industriais (uns 72% do total das compras brasileiras no exterior). As importações desses bens cresciam muito mais que a produção doméstica e aceleravam. Ainda crescem, mas desaceleram -parece haver uma reação da indústria nacional, mesmo com o real forte.
Há muita cascata no debate, ainda mais na obsessão com indicadores de curtíssimo prazo. Para economistas mais afeitos a finanças, qualquer crescimento miúdo é excesso. De resto, eles têm estranha aversão ao empresário industrial (embora sempre recitem a ladainha de que o setor privado, mais livre, sozinho daria conta de desenvolver o país).
Menosprezam queixas da indústria; dizem que não haveria problemas se o país se tornasse mais e mais exportador de "commodities" (produtos básicos). Decretam que, dado o consumo voraz da China e cia., acabou o risco de baixa no preço de "commodities" (baixa que afetaria bem a exportação brasileira). Mas o preço das "commodities" é volátil (vide gráfico) e, curioso, o preço médio dos produtos básicos brasileiros desacelera (embora o dos semimanufaturados tenha crescido).
Mas em alta certeira, mesmo, anda só a numeralha ideológica.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Preços 2: Leite pressiona IPC na cidade de São Paulo
Próximo Texto: Mantega rejeita aperto menor com Estados
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.