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VINICIUS TORRES FREIRE
Euforias e expectativas medíocres
Dados anuais sobre indústria e exportações negam otimismo
doido e queixas exageradas
A INDÚSTRIA FOI mal em abril?
Foi? O dado é relevante ou
"pegou mal" porque furou as
estimativas do mercado? Indústria e
investimentos vão tão bem assim
para justificar a euforia besta que temos visto? O país mudou tanto desde que o IBGE revisou o PIB, a dívida interna ganhou "grau de investimento" e o mercado se acalmou sobre a economia dos EUA? Não.
A indústria melhora desde outubro de 2006, mas muito devagar.
Ora cresce a 3,2% ao ano, contra picos de 8% de 2004 e de 6%, em 2001,
antes do apagão. Na nossa era das
expectativas reduzidas, também se
festeja a produção de bens de capital
(máquinas e instalações). A recuperação é animadora, no caso, mas o
indicador é volátil (vide gráfico da
direita) e já chegou a picos de 20%
em 2004. Devagar com o andor.
Há queixas exageradas também.
No início de 2006, parecia explodir a
importação de máquinas e de insumos industriais (uns 72% do total
das compras brasileiras no exterior). As importações desses bens
cresciam muito mais que a produção doméstica e aceleravam. Ainda
crescem, mas desaceleram -parece
haver uma reação da indústria nacional, mesmo com o real forte.
Há muita cascata no debate, ainda
mais na obsessão com indicadores
de curtíssimo prazo. Para economistas mais afeitos a finanças, qualquer
crescimento miúdo é excesso. De
resto, eles têm estranha aversão ao
empresário industrial (embora
sempre recitem a ladainha de que o
setor privado, mais livre, sozinho
daria conta de desenvolver o país).
Menosprezam queixas da indústria; dizem que não haveria problemas se o país se tornasse mais e mais
exportador de "commodities" (produtos básicos). Decretam que, dado
o consumo voraz da China e cia.,
acabou o risco de baixa no preço de
"commodities" (baixa que afetaria
bem a exportação brasileira). Mas o
preço das "commodities" é volátil
(vide gráfico) e, curioso, o preço médio dos produtos básicos brasileiros
desacelera (embora o dos semimanufaturados tenha crescido).
Mas em alta certeira, mesmo, anda só a numeralha ideológica.
vinit@uol.com.br
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