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Soros intensifica atuação no setor de álcool no país
Megainvestidor já tem uma usina em MG e está construindo mais três em MS
Ele participou de encontro em SP sobre o tema, ao lado do ex-presidente FHC, para quem o álcool não é a única solução para o aquecimento
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O megainvestidor George Soros está intensificando sua
aposta no setor de bioenergia.
Ao participar ontem do São
Paulo Ethanol Summit, disse
que veio para aprender sobre o
álcool combustível, mas o megainvestidor está partindo, na
verdade, para seu segundo investimento no setor no Brasil.
Após a consolidação do primeiro negócio, em Minas Gerais, onde sua empresa, a Adecoagro, adquiriu a usina Monte
Alegre, Soros e seus sócios brasileiros estão montando três
usinas em Mato Grosso do Sul.
Soros é o maior acionista individual do investimento, que
soma US$ 900 milhões, mas
não tem o controle acionário da
operação. Serão construídas
três usinas, e a primeira, que
começa a produzir 70 milhões
de litros na próxima safra, atingirá capacidade máxima de 300
milhões de litros em cinco
anos. As outras duas, que não
têm previsão para entrar em
operação, também devem ter
capacidade para 300 milhões
de litros cada uma. "Tenho interesse em investir bastante no
álcool no Brasil", disse.
Segundo Soros, os valores investidos vêm de seu capital pessoal, e não de seu fundo de investimento. "Não sabia que o
termo especulador tinha uma
conotação negativa no Brasil.
Bem, confesso que sou um especulador na área do álcool." O
megainvestidor também apontou problemas que o setor ainda enfrenta: questões regulatórias, impostos, falta de logística
e barreiras externas.
O megainvestidor diz que a
abertura de novos mercados
para o álcool, principalmente
na Europa e na Ásia, é vital para
o setor. Sem essa abertura e
com o ritmo de investimento
atual no setor, poderá sobrar
álcool nos dois maiores países
produtores (Brasil e EUA).
"O Brasil tem capacidade para aumentar em até dez vezes
sua produção, mas o ambiente
regulatório não permite que isso seja feito", reclamou. Para
ele, a prioridade é abrir os mercados de países na Europa, Estados Unidos e Japão.
Soros criticou os "juros elevados" no Brasil. Sobre o real
forte, disse: "Posso prever o futuro das moedas, mas não posso revelar a previsão".
Aquecimento
Também presente ao São
Paulo Ethanol Summit, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso afirmou que o álcool é
um produto importante e coloca o Brasil em posição privilegiada na busca global por energias renováveis, mas não é suficiente para solucionar a questão ambiental relacionada ao
aquecimento da Terra.
"O etanol é uma coisa importante que vem acontecendo no
Brasil hoje (...), mas não é a solução de todos os problemas do
mundo", afirmou, lembrando
que questões relacionadas ao
aquecimento global dependem
de um conjunto mais amplo de
formas de produzir energia.
"O etanol não vai substituir o
diesel, não vai substituir o querosene do avião, não vai gerar
eletricidade, mas ele já tem
efeitos positivos no Brasil; já
reduziu a poluição aqui, obviamente é uma vantagem, mas
que não é suficiente."
Para FHC, a experiência
bem-sucedida com o álcool
"abre uma chance para o Brasil
desempenhar papel de liderança na renegociação da questão
energética global", mas os atores desse processo precisam se
engajar mais.
Petróleo
Outro participante do encontro, Daniel Yergin, do Cera
(Cambridge Energy Research
Associates), surpreendeu ao dizer que a era do petróleo não
está no fim. Ao contrário, a
oferta deve aumentar.
Para Yergin, no entanto, o
Brasil, que está à frente na bioenergia, também deverá ser importante no setor de petróleo.
Na avaliação dele, o país vai ganhar nas duas pontas.
No que se refere ao petróleo,
Yergin diz que a extração caminha para águas profundas, uma
especialidade que o país desenvolveu nos últimos anos para
chegar à auto-suficiência. Em
2015, o consumo mundial de
petróleo vindo de águas profundas deverá ser de 23% do total -hoje é de apenas 2%.
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