|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Instituições como o FMI precisam melhorar
DO "FINANCIAL TIMES"
Em 1944, há 60 anos, os delegados reunidos à sombra das
montanhas que cercam Bretton
Woods, New Hampshire, decidiram criar o FMI e o Banco Mundial. E a hora é apropriada para
que perguntemos: será que 60
anos é o bastante?
A resposta, em resumo, é não.
Ainda que as mudanças no mundo tenham alterado suas funções,
as instituições financeiras internacionais se adaptaram o bastante para desempenhar papéis que
continuam úteis. Mas, além de
suas deficiências institucionais
conhecidas, sofrem também de
uma fraqueza endêmica em sua
história: cotistas de visão curta e
egoísta que muitas vezes corrompem instituições financeiras que
deveriam ser puramente tecnocráticas e as transformam em instrumentos de influência política.
A tarefa do FMI mudou consideravelmente ante a ordem inicial, fiscalizar a resolução dos desequilíbrios em conta corrente
surgidos no seio do mecanismo
de câmbio de paridade fixa criado
pelo acordo de Bretton Woods.
Os maiores desequilíbrios hoje
-especialmente o imenso déficit
comercial dos Estados Unidos,
contrastando com os superávits
do Japão e da zona do euro- certamente serão resolvidos, de uma
maneira ou de outra, sem assistência do Fundo. Excetuada a
Ásia emergente, onde um eco atávico do sistema de Bretton Woods
foi recriado, as taxas fixas de câmbio, controles de capital e administração oficial de reservas cambiais deram lugar ao câmbio livre
e ao capital privado móvel.
Mas o FMI ainda tem um papel
na resolução de crises financeiras,
hoje em dia quase sempre relacionadas às imensas dívidas públicas
dos países de mercado emergente. Ainda que a dimensão do Fundo com relação ao tamanho dos
mercados internacionais de capitais continue a diminuir e que
uma nova série de catástrofes como a crise asiática de 1997/98 possa deixá-lo exposto, o Fundo continua a ter poder de fogo suficiente para superar crises de liquidez
em economias grandes como a do
Brasil, com seus empréstimos.
O verdadeiro problema do FMI
é que seus cotistas, muitas vezes
tendo em mente imperativos políticos, persistem em emprestar
demais a grandes países de mercado emergente, como a Argentina. Mexer um pouco na estrutura
não serve como substituto para a
indicação de administradores
competentes e duros, pelos países
cotistas dominantes, e para o
apoio que os executivos devem
receber depois de indicados.
De fato, a influência do G7 sobre
as instituições financeiras internacionais é indefensável. Que os
países mais ricos dominem é inevitável; afinal, estamos falando de
instituições cujo controle é definido por cotas de capital, e não da
ONU. Mas as "cotas" financeiras e
os direitos de voto precisam ser
revisados para dar a nações como
os emergentes asiáticos a influência que as dimensões de suas economias garantem, em termos de
gestão do FMI.
O Banco Mundial também enfrenta problemas devido às mudanças nas circunstâncias. Como
o Fundo, sua influência nos países
de média renda foi apequenada
pela entrada cada vez maior de capital privado. Países como Japão e
Coréia do Sul já não precisam recorrer à divisão de empréstimos
comerciais do banco. Outros, como o México, logo seguirão esse
exemplo. O banco será cada vez
mais uma instituição para países
de baixa renda e muito problemáticos, especialmente na África. A
instituição continua a ter conhecimento especializado, se bem que
as prioridades concorrentes causem confusão, nessa área. Também exerce um poder que vai
além de seu tamanho ao agir como fiscal para todos os doadores
de assistência e para todas as transações de perdão de dívidas.
Mas o Banco Mundial sem dúvida encontrará dificuldades para
satisfazer os críticos quanto à área
do desenvolvimento, cada vez
mais controvertida. A coordenação de assessoria, assistência técnica e auxílio da comunidade
mundial de doadores continua
fragmentada. Como sempre, os
cotistas gostam de falar sobre
multilateralismo, mas freqüentemente agem por conta própria.
A conferência de Bretton
Woods, 60 anos atrás, foi prejudicada por disputas mesquinhas e
egoístas entre os delegados nacionais. E as coisas não mudaram,
até hoje. O mundo não precisa só
de instituições financeiras internacionais melhores. Também
precisa de melhores cotistas.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Integração: Argentina barra eletrodomésticos brasileiros Índice
|