São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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INTEGRAÇÃO

País vizinho anuncia restrições à importação de máquinas de lavar e refrigeradores para frear "invasão" de itens do Brasil

Argentina barra eletrodomésticos brasileiros

DA REPORTAGEM LOCAL
DOS ENVIADOS A PUERTO IGUAZÚ

O governo da Argentina anunciou ontem que vai colocar em prática um sistema de licenças para a importação de máquinas de lavar e refrigeradores brasileiros.
Segundo o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, a medida foi tomada após negociações frustradas entre os fabricantes de eletrodomésticos dos dois países.
A partir de agora, e até que os representantes do setor privado dos dois lados cheguem a um acordo, os exportadores brasileiros terão que solicitar permissão para a Secretaria de Indústria da Argentina. O órgão argentino irá conceder os documentos que autorizam a entrada dos produtos oriundos do Brasil conforme o ritmo das importações argentinas. No período em que vigorar o novo sistema, a tarifa de importação para televisores originários do Brasil, por exemplo, subirá de zero para 21%.
Com esse pacote de medidas, o governo argentino espera frear a "invasão" de eletrodomésticos brasileiros no mercado do país. De acordo com o ministro da Indústria, Alberto Dumont, 62% dos refrigeradores vendidos no país são de origem brasileira. No caso das máquinas de lavar, o percentual é de 51%. Na interpretação do governo argentino, essa predominância dos produtos brasileiros tem prejudicado a indústria local. O ministro Lavagna declarou que "o governo do Brasil está consciente dos danos para a indústria argentina".
"Quando um país está numa situação de expansão de demanda e o outro está numa situação de contração da demanda interna, há que se lançar mão de instrumentos para evitar que aquele que está numa fase conjuntural de queda do consumo [interno] pressione as suas exportações sobre um mercado que está em crescimento", disse.
De acordo com as autoridades de comércio argentinas, os fabricantes locais têm condições de abastecer o mercado interno.
Ainda segundo o governo argentino, a expectativa é que o Brasil e a Argentina consigam costurar um acordo no setor de eletrodomésticos como o que foi obtido no setor têxtil. Nesse segmento, desenhou-se um sistema que fazia uma combinação de cotas de exportação e preços.

Anticlímax
O anúncio argentino gerou um anticlímax em pleno início da cúpula do Mercosul. Enquanto os negociadores da Argentina e do Brasil se reuniam em Puerto Iguazú para avançar no processo de integração do bloco, o ministro da Economia Roberto Lavagna anunciava, em Buenos Aires, as restrições às importações brasileiras de linha branca.
"Deselegante" foi o comentário de um dos diplomatas brasileiros, assim que soube da notícia. Segundo ele, o anfitrião da cúpula escolheu o pior momento político para impor a barreira ao comércio. Na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrará com o seu colega Néstor Kirchner e os chefes de Estado do Mercosul e membros associados.
A barreira anunciada ontem é a segunda medida comercial do principal parceiro comercial e político do Brasil adotada em menos de duas semanas. Há cerca de dez dias, as autoridades sanitárias argentinas suspenderam as importações brasileiras de carne, devido a um foco de febre aftosa no Pará. Na última sexta, voltaram atrás.
No caso dos eletrodomésticos, o governo brasileiro já esperava algum tipo de medida da Argentina, pelo fato de não ter ocorrido acordo no setor privado. As barreiras eram um pedido da UIA (União Industrial Argentina), que está preocupada com o crescente déficit comercial com o Brasil.


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