|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTEGRAÇÃO
País vizinho anuncia restrições à importação de máquinas de lavar e refrigeradores para frear "invasão" de itens do Brasil
Argentina barra eletrodomésticos brasileiros
DA REPORTAGEM LOCAL
DOS ENVIADOS A PUERTO IGUAZÚ
O governo da Argentina anunciou ontem que vai colocar em
prática um sistema de licenças para a importação de máquinas de
lavar e refrigeradores brasileiros.
Segundo o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna,
a medida foi tomada após negociações frustradas entre os fabricantes de eletrodomésticos dos
dois países.
A partir de agora, e até que os
representantes do setor privado
dos dois lados cheguem a um
acordo, os exportadores brasileiros terão que solicitar permissão
para a Secretaria de Indústria da
Argentina. O órgão argentino irá
conceder os documentos que autorizam a entrada dos produtos
oriundos do Brasil conforme o
ritmo das importações argentinas. No período em que vigorar o
novo sistema, a tarifa de importação para televisores originários do
Brasil, por exemplo, subirá de zero para 21%.
Com esse pacote de medidas, o
governo argentino espera frear a
"invasão" de eletrodomésticos
brasileiros no mercado do país.
De acordo com o ministro da Indústria, Alberto Dumont, 62%
dos refrigeradores vendidos no
país são de origem brasileira. No
caso das máquinas de lavar, o percentual é de 51%. Na interpretação do governo argentino, essa
predominância dos produtos brasileiros tem prejudicado a indústria local. O ministro Lavagna declarou que "o governo do Brasil
está consciente dos danos para a
indústria argentina".
"Quando um país está numa situação de expansão de demanda e
o outro está numa situação de
contração da demanda interna,
há que se lançar mão de instrumentos para evitar que aquele que
está numa fase conjuntural de
queda do consumo [interno]
pressione as suas exportações sobre um mercado que está em crescimento", disse.
De acordo com as autoridades
de comércio argentinas, os fabricantes locais têm condições de
abastecer o mercado interno.
Ainda segundo o governo argentino, a expectativa é que o Brasil e a Argentina consigam costurar um acordo no setor de eletrodomésticos como o que foi obtido
no setor têxtil. Nesse segmento,
desenhou-se um sistema que fazia
uma combinação de cotas de exportação e preços.
Anticlímax
O anúncio argentino gerou um
anticlímax em pleno início da cúpula do Mercosul. Enquanto os
negociadores da Argentina e do
Brasil se reuniam em Puerto Iguazú para avançar no processo de
integração do bloco, o ministro da
Economia Roberto Lavagna
anunciava, em Buenos Aires, as
restrições às importações brasileiras de linha branca.
"Deselegante" foi o comentário
de um dos diplomatas brasileiros,
assim que soube da notícia. Segundo ele, o anfitrião da cúpula
escolheu o pior momento político
para impor a barreira ao comércio. Na quinta-feira, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva se encontrará com o seu colega Néstor
Kirchner e os chefes de Estado do
Mercosul e membros associados.
A barreira anunciada ontem é a
segunda medida comercial do
principal parceiro comercial e político do Brasil adotada em menos
de duas semanas. Há cerca de dez
dias, as autoridades sanitárias argentinas suspenderam as importações brasileiras de carne, devido
a um foco de febre aftosa no Pará.
Na última sexta, voltaram atrás.
No caso dos eletrodomésticos, o
governo brasileiro já esperava algum tipo de medida da Argentina, pelo fato de não ter ocorrido
acordo no setor privado. As barreiras eram um pedido da UIA
(União Industrial Argentina), que
está preocupada com o crescente
déficit comercial com o Brasil.
Texto Anterior: Artigo: Instituições como o FMI precisam melhorar Próximo Texto: Mercosul planeja vender mais para a Ásia e a África Índice
|