São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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Mercosul planeja vender mais para a Ásia e a África

CLÁUDIA DIANNI
DE PUERTO IGUAZÚ

O Mercosul deu os primeiros passos para aumentar a sua presença comercial na Ásia durante a presidência semestral da Argentina, que termina nesta semana. O Brasil, que sediará a presidência do bloco pelos próximos seis meses, terá que liderar as negociações comerciais que foram propostas à China, ao Japão e à Coréia do Sul.
Durante o encontro de cúpula de presidentes, que ocorre amanhã e na quinta-feira em Puerto Iguazú (Argentina), o bloco vai tomar a iniciativa para abrir mais mercados na África, onde já está negociando um acordo com a África do Sul.
Segundo o subdiretor do Mercosul da chancelaria argentina, Roberto Salafi, o bloco fará uma oferta de associação comercial ao Egito, que deverá enviar um representante ao encontro.
Durante o último semestre, o Mercosul iniciou contatos comerciais, com o objetivo de estabelecer futuras parcerias de livre comércio, com os três países asiáticos e aprofundou as negociações com a Índia.
"Com a Coréia do Sul, a China e o Japão ainda estamos na fase de contatos políticos, mas com a Índia já estamos bem avançados, e o Marrocos também manifestou interesse", disse Salafi.

Fortalecimento
Os acordos obedecem à nova tática comercial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fortalecer o comércio com países em desenvolvimento, conforme acordaram países-membros da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) durante a reunião realizada pela entidade no mês passado, em São Paulo.
As novas iniciativas ganharam impulso depois das dificuldades das negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e entre o Mercosul e a União Européia, que caminha para um versão "light" (menos abrangente) no final de outubro. Nas duas negociações, o Mercosul encontra dificuldades para abrir mercado para seus produtos agrícolas e agroindustriais.
"As associações Sul-Sul são feitas dentro desse espírito de ampliar as oportunidades comerciais com países em desenvolvimento, mas não excluem as negociações com os países ricos nem as multilaterais, na OMC [Organização Mundial do Comércio]", afirmou o negociador brasileiro na Alca, embaixador Adhemar Bahadian.

México
O presidente do México, Vicente Fox, deve oficializar o pedido de adesão de seu país como membro associado do Mercosul durante o encontro.
Por causa de sua associação comercial com os Estados Unidos e com o Canadá no Nafta (Área de Livre Comércio da América do Norte), no entanto, o México não poderá tornar-se membro pleno do Mercosul, disse o diretor de Integração do Itamaraty, embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho.
O status de membro pleno dá ao México o direito de negociar com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai tarifas de comércio reduzidas, mas o país não pode fazer parte da união aduaneira do Mercosul, ou seja, aplicar as mesmas tarifas de comércio para terceiros países.
Mais liberal do que os futuros parceiros do Mercosul, assim como o Chile, o México não tem interesse em tornar-se membro pleno do bloco sul-americano porque isso implicaria o aumento de suas tarifas de comércio.
Segundo Marcondes de Carvalho, a parceria é promissora para o Brasil por causa da complementação comercial existente entre os dois países.
"Mesmo sofrendo tarifas de 40%, os sapatos brasileiros são competitivos no México, portanto a associação abre muitas oportunidades de negócios", afirma Marcondes de Carvalho.
Brasil e México já possuem um acordo fixo de preferências tarifárias para 800 produtos, além de uma associação para o setor automotivo. Os dois países possuem as mesmas montadoras de veículos, mas que fabricam diferentes modelos.
Argentina, Uruguai e Paraguai também já possuem acordos individuais com o México. A novidade é que será negociada uma redução de tarifas mais amplas para os quatro países, o que permitirá incluir os sapatos brasileiros.
Confirmaram presença no encontro do Mercosul na Argentina os presidentes Ricardo Lagos (Chile), Hugo Chávez (Venezuela), Carlos Mesa (Bolívia) e Vicente Fox (México).

LEIA entrevista com o presidente Vicente Fox no caderno Mundo


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